IBM acelera plano para revolucionar a computação

A IBM vai dar seus primeiros passos para comercializar computadores quânticos e se tornar a primeira grande empresa de tecnologia a tentar colher dividendos com o que algum dia pode ser uma nova forma revolucionária de computação.

A maioria dos pesquisadores acredita que ainda estamos a muitos anos de poder ter computadores completos baseados em mecânica quântica, na teoria imensamente mais potentes que as máquinas atuais.

IBM e outras empresas, no entanto, já produziram demonstrações de sistemas de pequeno alcance que fazem uso de efeitos quânticos, como o superposicionamento, no qual um elétron pode existir em dois estados ao mesmo tempo. O bit quântico (qubit), ao tornar possível representar nesses computadores ao mesmo tempo tanto um “1” quanto um “0”, vai ser capaz de realizar cálculos extremamente mais complexos do que os computadores digitais de hoje, como mostrou artigo do Financial Times, assinado por Richard Waters, publicado no Valor de 07/03.

A IBM destacou que os primeiros usos práticos de seus vários anos de pesquisa no campo agora estão suficientemente próximos para que comece a buscar clientes interessados em aprender a programar sistemas experimentais baseados na nova tecnologia.

A iniciativa sinaliza a expectativa de que as primeiras máquinas quânticas com usos práticos vão estar disponíveis em breve, disseram executivos da IBM, embora sem prever quando isso se dará. Esses primeiros computadores serão capazes de aproveitar apenas uma pequena parte das vantagens da tecnologia quântica, mas ainda assim poderiam superar o desempenho dos supercomputadores mais potentes da atualidade.

“Não estaríamos fazendo isso se não acreditássemos que é [algo] para o curto prazo”, disse Scott Crowder, diretor técnico de computação quântica no grupo de sistemas da IBM. “Pequenas melhorias [em relação à computação de hoje] podem ser muito valiosas”, disse. “Se você é um fundo hedge e estiver rodando uma otimização do portfólio, então 3% melhor ou 5% melhor é muito dinheiro.”

A IBM anunciou que negocia a assinatura de contratos comerciais com alguns poucos clientes neste ano para que tenham acesso a um sistema experimental quântico. O sistema não vai ter potência suficiente para ter qualquer uso comercial, mas vai dar aos clientes a chance de aprender a programar o sistema e de preparar-se para os usos mais práticos que deverão sucedê-lo pouco depois.

“Agora estamos em um estágio em que isto está deixando de ser uma questão de brincar com as [descobertas das] pesquisas e passando a ser algo que realmente você vai querer encarar do ponto de vista comercial”, disse Crowder.

Os planos da IBM chegam em meio à corrida do Google para criar sua própria máquina com 50 bits quânticos – o ponto em que um computador quântico seria capaz de lidar com cálculos mais complexos do que os atuais supercomputadores. A Microsoft também trabalha no desenvolvimento de sua tecnologia quântica, embora tenha escolhido um design mais radical para seus qubits que ainda não mostrou resultados fora dos laboratórios.

O único sistema quântico comercial em uso foi criado pela D-Wave, uma empresa canadense que conta com o Google e a Nasa entre seus poucos clientes. O sistema da D-Wave, no entanto, almeja resolver apenas uma pequena faixa de problemas de computação, o que torna seu impacto mais limitado. Em contraste, a IBM trabalha para desenvolver um computador quântico de uso geral, capaz de lidar com amplas gamas de problemas.

O esforço para atrair clientes que queiram programar suas máquinas torna a IBM a única grande empresa de tecnologia a ter começado a criar um ecossistema mais amplo em torno a sua tecnologia quântica, segundo o analista Bob Sorensen, da firma de pesquisas de mercado e consultoria IDC.

“É um dilema do ovo e da galinha: você pode jogar um computador quântico no mercado, mas se não houver nenhum algoritmo, não vai ser de grande valia”, disse Sorensen.

Os primeiros clientes, acrescentou Sorensen, vão estar bem posicionados para moldar a forma como a tecnologia vai se desenvolver: “Há potencial [para atrair] as pessoas que queiram entrar nisso desde o princípio.”

Além de liberar as ferramentas de software para os que quiserem criar programas para os sistemas quânticos da IBM, a empresa também tornou disponível a interface on-line, de forma que um grupo muito maior de programadores vai poder fazer experimentos com a tecnologia de graça.

A IBM não deu detalhes sobre o sistema experimental que vai liberar aos clientes neste ano a não ser de que vai ser mais potente que o de 5 qubits mostrado em 2016. O objetivo é “dentro dos próximos dois anos migrá-los para sistemas na escala de 50 qubits”, disse Crowder.

Embora, teoricamente, essas máquinas possam superar os computadores digitais de hoje, é provável que seja necessário um sistema com 500 a 2 mil qubits para controlar a tecnologia e corrigir os erros atuais, acrescentou. Um computador quântico completo por sua vez, vai exigir pelo menos de 500 mil a 1 milhão de qubits.

O atual estágio da tecnologia quântica ainda é equivalente apenas ao que a computação digital havia alcançado nos anos 40, segundo Crowder.

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