É dado quase como certo que a guerra tecnológica entre EUA e China deverá esquentar ainda mais, não importa quem vença a eleição presidencial americana em 5 de novembro, o republicano Donald Trump ou a vice-presidente, Kamala Harris. A democrata provavelmente aplicaria novas regras contra a China de forma mais direcionada, enquanto Trump seguiria seguiria uma abordagem mais bruta.
Acredita-se que haverá novos esforços para reduzir o fluxo para os EUA de chips chineses menos avançados, de carros inteligentes e de outras importações, além de mais restrições às exportações para a China de ferramentas de fabricação de chips e dos valiosos chips de inteligência artificial (IA), segundo ex-membros dos governos Biden e Trump, especialistas setoriais e fontes das campanhas.
Em sua campanha, Kamala disse que garantirá que “os EUA, e não a China, vençam a competição pelo século 21”, enquanto o republicano Trump propôs tarifas cada vez maiores como solução para combater o avanço tecnológico chinês.
Em resumo, seja Kamala ou Trump, a batalha para impedir que o dinheiro e a tecnologia dos EUA reforcem as capacidades militares e de IA da China deve se intensificar. “Estamos vendo a abertura de uma nova frente na guerra fria tecnológica entre EUA e China, com foco nos dados, software e dispositivos conectados”, disse Peter Harrell ex- funcionário de segurança nacional do governo Joe Biden.
Em setembro, os EUA propuseram regras para impedir que carros conectados feitos com componentes chineses cheguem às ruas dos EUA. E no segundo trimestre foi aprovada uma lei que determina que o aplicativo TikTok deve ser vendido pela controladora chinesa até 2025 ou será banido.
“Há preocupação de que alguma empresa chinesa possa acessar e fornecer atualizações para dispositivos”, disse Harrell. “A questão dos carros conectados e o TikTok são apenas a ponta do iceberg.”
Caso Kamala vença a eleição, sua abordagem provavelmente seria mais direcionada e coordenada que a de Trump, segundo fontes próximas aos dois governos.
Por exemplo, ela provavelmente continuaria a trabalhar com aliados, como o governo Biden tem feito, para evitar que a tecnologia dos EUA ajude os militares chineses, de acordo com Harrell. Já Trump poderia agir mais rápido e não reluta em punir aliados.
“Acho que aprendemos com o primeiro mandato do presidente Trump que ele tem uma inclinação para a ação”, disse Jamieson Greer, ex- chefe de gabinete de Robert Lighthizer, representante de Comércio Exterior dos EUA no governo Trump e próximo à campanha.
Nazak Nikakhtar, que foi do Departamento de Comércio na época de Trump, prevê que um novo governo do republicano será “muito mais agressivo em relação às políticas de controle das exportações para a China”. Ela prevê “expansão significativa da ‘lista de entidades’”, que passaria a incluir afiliadas e parceiras comerciais das empresas punidas. A lista de entidades restringe as exportações para as empresas que fazem parte dela. Trump inclui a chinesa Huawei, por ter violado sanções.
Para Nikakhtar, as licenças para exportar tecnologia dos EUA para a China passariam a ter mais chances de serem negadas. E que não ficaria surpresa se Trump impuser restrições não só à compra de chips chineses, mas também à de “produtos contendo esses chips.”
Ela acredita que Trump será mais duro do que Kamala com aliados que não sigam o caminho dos EUA. “A filosofia de Trump é mais voltada para a imposição de sanções”, acrescentou.
Bill Reinsch, que foi do Departamento de Comércio do governo de Bill Clinton, vê Trump como mais propenso a usar uma “marreta” no comércio exterior, enquanto Kamala usaria um “bisturi”. “A abordagem de Trump tem sido mais generalizada, o que se pode ver mais claramente em suas atuais propostas de tarifas.”
Trump ameaça impor tarifas de 10% ou 20% sobre todas as importações (não só da China) e de 60% ou mais sobre as chinesas. Kamala descreveu o plano de Trump como um imposto sobre os consumidores, embora o governo Biden reconheça a necessidade de elevar tarifas de forma direcionada, como sobre os semicondutores, de 25% para 50%, em 2025.
A China tem repetido que vai proteger seus direitos e interesses. Em 2024, o país mirou a fabricante de chips de memória americana Micron Technology, depois de Washington ter imposto uma série de controles às exportações de chips e de equipamentos de fabricação de chips americanos, e de os EUA terem acusado Pequim de penalizar outras empresas americanas em meio às crescentes tensões.
Wilbur Ross, ex-secretário de Comércio no governo Trump, disse que os EUA precisam ser duros com a China, mas também estratégicos. “Seria muito perigoso simplesmente tentar isolá-los.”