Google quer também as teles na “internet por balão”

A briga será bem grande. Ao mesmo tempo em que sofre pressão das operadoras por usar as redes de comunicação sem ajudar a pagar os investimentos necessários para seu funcionamento, o Google tenta ganhar a confiança das companhias para uma outra iniciativa: o projeto de acesso à internet por meio de balões, o Loon.

A ideia é criar uma espécie de dados suspensa na estratosfera que ajude a cobrir, de forma mais barata, áreas que hoje não têm acesso à internet. Cada balão consegue cobrir uma área de 80 quilômetros no solo e pode ter mais de 200 mil pessoas usando o serviço com velocidade de até 10 megabits por segundo (Mbps). Os balões pode se conectar entre si, formando um anel de até cinco elos, ampliando ainda mais a área de cobertura. “Estamos oferecendo algo que as ajuda a resolver um problema. Não vejo porque não se animariam com isso”, disse Astro Teller, cientista responsável pelas operações do Google X, um dos dois laboratórios de pesquisa mantidos pela companhia de internet – o outro é o Advanced Technology and Projects, o Atap, como mostrou matéria do Valor, assinada por Gustavo Brigatto, de 1/06, pg B5.

Com o Loon, o Google se tornaria um fornecedor de infraestrutura para as operadoras. “É como uma rede de fibra óptica no céu”, disse Teller. O pagamento pelo uso da rede poderia ser feito no modelo tradicional, proporcional à capacidade de transmissão de dados contratada, ou pela divisão de receitas geradas pelos usuários.

O Google começou a falar do projeto Loon há dois anos. O objetivo é levar internet para regiões com baixa cobertura ou sem conexão alguma à internet. Cobrir algumas regiões, principalmente rurais, ou de menor poder aquisitivo, representa um investimento muito alto para as operadoras que pode nunca se pagar. A estimativa é que 4 bilhões de pessoas no mundo estejam fora da web.

Até agora, o Google realizou 500 voos, percorrendo mais de 15 mil quilômetros. Atualmente há 50 balões no ar. Em junho de 2014, um teste foi feito no interior do Piauí. Uma escola na zona rural foi conectada por balão com tecnologia de telefonia móvel de quarta geração (4G). “Temos feito muitos testes no hemisfério sul, mas há regiões na Europa e nos Estados Unidos com pouca cobertura também”, disse Mike Cassady, vice-presidente do Google e responsável pelo projeto Loon.

De acordo com ele quando os testes começaram, os balões ficavam no ar entre oito e 10 horas, no máximo. Hoje, o prazo passa de 180 dias.

Ao contrário de um satélite, os balões não ficam parados num mesmo lugar. Estão suscetíveis às correntes de vento da estratosfera, camada da atmosfera localizada a 20 quilômetros do solo – o dobro do teto dos aviões. Por conta disso, o Google pretende montar uma rede com milhares de balões. Isso permitirá fazer um planejamento por meio de algoritmos para que, quando um balão sair de uma região, outro já esteja chegando e a conexão seja perdida.

Segundo o executivo, a companhia já tem acordos fechados com operadoras para o Loon. Até agora, entre as teles que participaram dos testes estão a Telefónica e a Telstra. Mas entre a experimentação e um acordo comercial de fato, há um grande caminho. Cassidy afirma que não tem havido muita resistência. “Podem haver divergências em algumas áreas, mas queremos deixar isso de lado e avançar nessa outra conversa”, disse. Ainda não há uma previsão para que o serviço comece a funcionar oficialmente.

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