O Google lançou nesta terça-feira (14) seu sistema de pagamento por aproximação, o Android Pay, no Brasil, o primeiro país da América Latina a receber a modalidade. O aplicativo já está disponível para download na Play Store.
O recurso funciona como uma carteira digital: o usuário cadastra seus cartões de débito ou crédito no aplicativo e consegue concluir a compra apenas aproximando o celular da maquininha.
A princípio, poderão se cadastrar clientes do Banco do Brasil (crédito e débito), da Caixa (débito), do banco digital Neon (débito) e dos emissores de cartões Porto Seguro (crédito) e Brasil Pré-pagos (débito) com bandeira Visa. Em breve, o sistema deve aceitar também clientes do Bradesco e cartões Mastercard.
Para funcionar, tanto o celular quanto a maquininha precisam ter NFC (Near Field Communication), tecnologia que permite comunicação sem fio e troca de informações entre dois aparelhos próximos. Segundo o Google, há três milhões de máquinas NFC no país, como mostrou matéria da Folha de S. Paulo de 14/11.
Além disso, a novidade requer sistema operacional do celular a partir da versão 4.4.
Ao cadastrar o cartão, o Android usa um número virtual criptografado e diferente do original do plástico. Caso o usuário perca o celular, ele pode bloquear sua carteira remotamente.
“O recurso reduz fila e oferece uma transação mais limpa e simples. É mais um passo de empoderamento e inclusão digital”, diz Fabio Coelho, presidente do Google Brasil.
Para transações acima de R$ 49 reais é preciso fornecer senha. “Avaliamos que o uso maior será para compras de ticket mais baixo do dia a dia”, diz Coelho.
O princípio de pagamento por aproximação é o mesmo do Samsung Pay, no Brasil desde 2016, e do Apple Pay, ainda indisponível no país. Dados de setembro da Kantar Worldpanel mostram que o sistema Android representou 92,6% das vendas de smartphones no Brasil no terceiro trimestre de 2017, contra participação de apenas 4,7% do iOS, da Apple.
O Android Pay foi lançado em 2015 nos Estados Unidos como resposta ao recurso da Apple, que surgiu em 2014, e está presente em 17 países, contando agora o Brasil.
O anúncio por aqui foi feito em parceria com varejistas de alimentação, vestuário, farmácia, entre outros, segmentos que precisam investir no treinamento de seus funcionários para lidar com a nova tecnologia e ajudar os clientes.
“A maior parte das nossas consumidoras tem acima de 50 anos. É um super desafio conseguir oferecer esse meio de pagamento inovador”, diz Silvana Balbo, diretora de marketing do Carrefour. Das 500 lojas da rede, mais de 152 já estão habilitadas para receber o recurso em São Paulo e no Rio. Segundo Balbo, a meta é que todas as unidades estejam aptas até o final do ano.
“O plástico não vai acabar porque é uma questão geracional, e as pessoas se sentem bem atendidas. As novas gerações tenderão a usar outras formas de pagamento, como o watch [relógio], que vai muito bem, mas é nichado, atende um determinado tipo de consumidor”, diz Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa.
Também nesta terça, a Samsung anunciou que seu aplicativo passa a aceitar clientes do Bradesco.
Quem tem Ourocard-e, o cartão de crédito digital do Banco do Brasil, já pode fazer pagamento por aproximação desde 2015. O recurso funciona apenas para Android. Em julho deste ano, o BB lançou ainda a Pulseira Ourocard, dispositivo vestível que permite compras no débito ou crédito.
Outro banco a entrar no segmento, em abril deste ano, foi o Santander. Pelo Santander Way, aplicativo da instituição para gerenciar cartões, clientes que têm Android e bandeira Mastercard podem comprar usando NFC.
O pagamento por aproximação é uma estratégia dos bancos para tornar o relacionamento do cliente com as instituições e os cartões mais amigável, de olho em um mercado ainda com potencial de crescimento no país.
Cartões de débito e crédito responderam por 31% dos pagamentos no Brasil em 2016, de acordo com relatório da consultoria Boanerges & Cia, ainda atrás do uso do dinheiro (40%). Mas o estudo estima que compras com cartões atingirão 40% do total de pagamentos em 2026, enquanto o uso do dinheiro deve cair para 31%.
“O Android Pay é mais uma iniciativa para incentivarmos os meios de pagamentos eletrônicos”, diz Rogério Panca, diretor de meios de pagamento do Banco do Brasil. Segundo ele, 65 milhões de clientes terão acesso ao novo aplicativo do Google.
“A convivência [entre o recurso do Google e o nosso] é harmônica, o cliente poderá escolher a forma como preferir. Em termos de faturamento, é tudo cartão Banco do Brasil, então é indiferente para nós”, diz Panca.
Já para as empresas de tecnologia, o pagamento por aproximação agrega valor aos seus smartphones e sistemas operacionais, em um segmento altamente competitivo.
“O objetivo é o fortalecimento da base Android, não há taxa e geração de receita direta com o recurso para o Google”, diz Coelho.