Google investe em novo cabo submarino

Depois de investir nos cabos submarinos para transmissão de dados Monet, que vai ligar o Brasil aos Estados Unidos, e Tannat, entre o Brasil e o Uruguai, o Google vai montar a terceira estrutura do tipo. Batizado de Júnior, em homenagem ao pintor brasileiro José Ferraz de Almeida Júnior, o cabo submarino ligará dois Estados: Rio e São Paulo. A expectativa é que o novo cabo entre em operação em agosto de 2017.

Os cabos submarinos funcionam como a espinha dorsal da internet, permitindo a comunicação em alta velocidade entre diferentes partes do mundo. O Brasil é atendido por seis cabos internacionais e um que liga Natal (RN) a Santos (SP). Outros sete internacionais estão em fase de construção. O Júnior, nacional, seria o 15o cabo no país, como mostrou artigo do Valor, de 15/03, assinado por Gustavo Brigatto,

Diferentemente dos outros dois investimentos, Júnior não será compartilhado com outros companhias. A capacidade de transmissão de dados será de uso exclusivo da gigante da internet. Segundo Cristian Ramos, gerente de parcerias de infraestrutura de internet para a América Latina do Google, o projeto do Júnior surgiu depois que a empresa começou a usar o Monet. A ideia é que Júnior funcione como uma rota alternativa caso haja algum problema no Monet. “Há uma falta de cabos submarinos de última geração no Brasil, o que faz com que a concorrência esteja um pouco limitada, com preço altos”, diz o executivo.

O Google não revelou o investimento no novo cabo. Segundo especialistas, o montante pode ficar entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões.

Com 390 km de extensão – saindo da praia da Macumba, no Rio, até Praia Grande, em São Paulo -, o cabo será composto por oito pares de fibras ópticas e terá capacidade máxima de transmissão de 13 terabits por segundo (tbps) – para se ter uma ideia, um pacote tradicional de telefonia móvel 4G permite um tráfego de 7 megabites por segundo. O cabo é o terceiro do tipo ligando os dois Estados. Os outros dois são o Sam-1, da Telefônica, e o Festoon, da Embratel. Normalmente, as teles preferem investir em rotas de conexão terrestres, que têm custo de instalação mais baixo.

O Júnior é o segundo cabo submarino de pequena extensão construído pelo Google no mundo. O outro está localizado na Finlândia. A companhia tem investido nessas redes como uma forma de acelerar o acesso a seus serviços. Além dos cabos na América do Sul, entrou em consórcios para a construção de três cabos na Ásia.

Nos EUA, chegou a lançar em 2012 um serviço de internet por fibra óptica batizado de Google Fiber, instalando redes e contratando acesso de outras operadoras. O negócio continua a existir, mas, com a reorganização da companhia no ano passado, passou para o comando da Alphabet, a holding que controla o Google. Atualmente, Google Fiber atende quatro cidades nos EUA com conexão de 1.000 megabits por segundo.

As ambições da companhia na área de telecomunicações tem esquentado ainda mais o clima entre ela e as operadoras de telefonia tradicionais. Segundo Ramos, o objetivo das redes próprias não é criar atrito com as operadoras. “Não fazemos isso com intuito comercial, de vender conexão para outras empresas. E continuamos comprando muitos serviços das operadoras”, disse.

Para construir o Júnior, o Google contratou uma empresa brasileira: a Padtec, de Campinas. Criada em 2001 a partir da separação de uma unidade de negócios do CPqD, a Padtec – que tem entre seus acionistas a Ideiasnet, o BNDES e o próprio CPqD – também será a fornecedora de um dos principais componentes da estrutura, os repetidores. Estes equipamentos são responsáveis por amplificar os sinais que passam pelas fibras ópticas, garantindo a qualidade da transmissão. Ao todo, serão instalados três repetidores. O Google é o primeiro cliente da Padtec para esse tipo de tecnologia.

Segundo Manuel Andrade, presidente da Padtec, o desenvolvimento dos repetidores levou três anos e consumiu cerca de R$ 45 milhões. O processo gerou quatro patentes internacionais (sendo uma já concedida) e trouxe alguns desafios. Para fazer um cilindro de aço que protege os equipamentos eletrônicos que vão dentro do repetidor, a Padtec precisou encontrar um fornecedor na Itália, pois não havia quem fizesse isso no Brasil. Por outro lado, a existência de uma indústria petroleira no país ajudou. Algumas peças foram criadas em conjunto com fornecedores da Petrobras.

Especializada em redes terrestres, a Padtec pretende abrir uma nova frente de atuação, disputando o mercado global de redes submarinas com empresas como a americana Subsea Communications (SubCom), a Alcatel Submarine Networks (ASN) – que virou uma unidade da finlandesa Nokia após a aquisição da Alcatel-Lucent – e a japonesa NEC. “A ideia é ir devagar, ganhando projetos regionais de menor porte até chegar às grandes redes. E o contrato com o Google vai ajudar muito nisso”, disse. De acordo com o executivo, em três anos, essa área pode responder por até 20% da receita.

Com dois terços das vendas vinda das operadoras de telefonia móvel, a Padtec sofreu muito com a redução dos investimentos no ano passado. No acumulado de nove meses, a companhia registrou prejuízo líquido de R$ 111,5 milhões e margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) negativa de 43,7%. Em relação ao mesmo período de 2014, a receita caiu 22%, para R$ 196,2 milhões. Algumas áreas de negócios foram fechadas e 30% dos funcionários, demitidos. A expectativa de Andrade é voltar à rentabilidade neste ano.

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