O Google divulgou um plano de ação detalhado para lidar com a escalada das reações contrárias de seus anunciantes no Reino Unido a conteúdos extremistas exibidos no YouTube, a plataforma de vídeos da empresa.
Vários anunciantes, como a Volkswagen, a rede britânica de supermercados Tesco e o governo do Reino Unido, suspenderam os gastos com anúncios no site de vídeos na última semana, receosos de que suas propagandas pudessem ser exibidas ao lado de conteúdos ofensivos ou extremistas, como mostrou artigo do Financial Times, assinado por Madhumita Murgia e Matthew Garrahan, publicado no Valor de 22/03.
Na segunda-feira, o diretor de negócios do Google, Philipp Schindler, falou sobre a ampliação das medidas de proteção dos anunciantes para abrandar essas preocupações. Em primeiro lugar, a companhia ampliará a definição do que é conteúdo inapropriado – seja por ser ofensivo ou por aparentar ser uma cópia de conteúdo “legítimo” – e promete ser mais criteriosa na avaliação dos vídeos que podem receber anúncios.
Até hoje, a política do Google sobre o conteúdo que podia ganhar dinheiro no YouTube se baseava em excluir material que incitasse a violência. Agora, o foco vai ser expandido, incluindo, por exemplo, o uso de linguagem depreciativa ou inflamadora dos ânimos direcionada a pessoas com base em seu gênero ou religião.
Schindler prometeu que o Google vai “contratar números significativos de pessoas” para reforçar o processo em que os vídeos são retirados do ar depois da notificação de que possuem conteúdo inapropriado. Também pretende usar ferramentas de inteligência artificial para acelerar a revisão de conteúdo questionável. “Em breve, seremos capazes de resolver esses casos em poucas horas”, disse.
A empresa também introduziu controles adicionais que vão permitir aos anunciantes saber exatamente onde seus anúncios são exibidos no YouTube e em outros serviços. Será oferecida a possibilidade de um controle-padrão sobre que tipo de conteúdo vai aparecer ao lado de campanhas publicitárias mais conservadoras, além de mostrar a todos os anunciantes uma lista dos vídeos em que seus anúncios são exibidos.
A agência francesa de mídia Havas, que conta com clientes como o grupo de telecomunicações O2, a BBC e o serviço postal Royal Mail, retirou seus anúncios do YouTube porque o Google “não foi capaz de dar garantias específicas […] de que seus vídeos ou conteúdo em exibição são classificados [como aceitáveis], seja com a rapidez suficiente ou com os filtros adequados”.
Depois da divulgação dessas novas medidas, a Havas agora está em discussões com o Google e poderia acabar em breve com a suspensão dos anúncios, segundo uma fonte próxima à agência francesa.
Para especialistas do setor, os anunciantes deveriam aprender com as polêmicas deste caso e empenhar-se mais em criar seus próprios sistemas para administrar onde seus anúncios são exibidos.
Marcas e agências reagiram ontem de maneira morna às mudanças delineadas pelo Google. “Vamos ter de reavaliar isso”, disse um executivo de uma das maiores marcas de consumo britânicas. “Tudo bem dizer que eles estão tomando todas essas medidas, mas nós não vamos voltar a usar [anúncios do Google] enquanto não tivermos visto os detalhes do que eles estão fazendo, e com que rapidez.”
Mas os anunciantes já estão escaldados com o Google. No ano passado, o FT informou que um site jihadista, apresentando decapitações, tinha lucrado com a plataforma AdSense do Google, com anúncios do Citigroup, da IBM e da Microsoft exibidos pelo site. A questão foi reavivada nesta semana após uma investigação do “Times” sobre a veiculação de anúncios pelo YouTube.
“Vai ser um jogo de esperar para ver”, disse Michael Karg, diretor-executivo da provedora de análise de anúncios Ebiquity, que trabalha com marcas como Volkswagen e L’Oréal. “Os anunciantes terão de acompanhar de perto as mudanças quando elas forem implementadas, e ver se o Google realmente faz o que diz, antes de correr para reinserir [os anúncios]”.
Havia um amplo consenso segundo o qual o YouTube precisava tomar medidas para corrigir o problema. “As salvaguardas do YouTube não revelaram-se tão robustas quanto necessário, e estamos tomando todas as medidas necessárias junto ao Google para resolver todas as nossas preocupações”, informou a Volkswagen em um comunicado. E acrescentou que suas marcas “somente retomarão a publicidade no YouTube depois que estiverem seguros de que todo o risco para sua reputação tiver sido eliminado”.