Novo chefe de gabinete mudou as rotinas do Governo e tenta controlar o círculo de Trump para acabar com o caos. John Kelly defenestrou agitadores, erigiu-se como filtro para quem quiser ver o presidente, incluindo seu genro e sua filha, e apagou o incêndio com o secretário de Justiça, Jeff Sessions. Em sua primeira semana no cargo, o general John Kelly, novo chefe de gabinete de Donald Trump, promoveu uma reviravolta em boa parte das rotinas da Casa Branca. Mas sua missão –refazer a ponte com os legisladores republicanos e conter a guerra de guerrilhas – parece muito complicada.
Trump esteve contido no Twitter na última semana, mas é precipitado atribuir o mérito ao general. Imprevisível e impulsivo como é o presidente, dentro e fora da rede social, a discrição pode desaparecer a qualquer momento e sob qualquer estímulo. Mais do que tentar pôr rédeas em Trump, o objetivo de Kelly é controlar o entorno do presidente, quem fala com ele e o influencia com suas ideias.
Seu antecessor, Reince Priebus, fracassou na tarefa de tornar presidenciável quem venceu as eleições precisamente como inimigo do presidenciável. Abandonada essa batalha, a vitória do velho marine será fazer a Casa Branca em volta dele funcionar como um Governo à moda antiga, o que não se conseguiu nos primeiros seis meses da era Trump. Isso inclui estancar a enxurrada de vazamentos à imprensa procedentes da Casa Branca, conter as lutas internas e barrar os agitadores, como mostrou artigo assinado por Amanda Mars, publicado no El Pais Edição Brasil, de 09/08.
O diretor de Comunicação, Anthony Scaramucci, foi exonerado por Kelly na segunda-feira passada, quando estava no cargo havia apenas seis dias, depois que foram publicados seus ataques venenosos contra Priebus e o estrategista-chefe, Steve Bannon, assim como as pressões contra um jornalista da revista New Yorker. Só Trump pode agir como Trump na nova ordem de Washington.
O novo chefe de gabinete é o filtro pelo qual precisa passar qualquer pessoa que queira conversar com o presidente ou apresentar uma proposta. Isso inclui seu genro e assessor, Jared Kushner, e a sua filha, Ivanka. “Só nos primeiros dias já se viu que haverá mais metodologia, mais ordem e as decisões serão divulgadas quando realmente estiverem tomadas, com as negociações muito centralizadas, com menos improviso”, dizia há alguns dias uma fonte que está a par das conversas entre a Casa Branca e as diferentes agências e departamentos sobre as relações com a Venezuela.
O diretor de Orçamento da Casa Branca, Mick Mulvaney, elogiou na quinta-feira passada a disciplina trazida por Kelly. Em declarações aos jornalistas, Mulvaney disse que, agora, quando fala com Trump por telefone, Kelly ouve a conversa e que, quando vai encontrar o presidente pessoalmente, o general está lá controlando quem entra e quem sai.
A porta do Salão Oval, como descrevia nesta semana o The Wall Street Journal, não está mais aberta para qualquer um. Para ver o presidente é preciso seguir um procedimento mais formal de solicitação e nenhum documento chega a ele sem verificação prévia. Também já apagou um incêndio: em 30 de julho, um dia antes de tomar posse, Kelly chamou o secretário de Justiça, Jeff Sessions, para dizer a ele que permanece no cargo, informa a Associated Press, algo que tinha sido posto em dúvida depois das críticas frontais por parte de Trump.
Os analistas não confiam muito no sucesso do general neste processo de normalização de Washington. No Partido Republicano continuam sendo elaborados planos para uma vida pós-Trump. O The New York Times publicou neste fim de semana, citando entrevistas com 47 republicanos de todos os níveis do partido (políticos eleitos, eleitores e estrategistas), que crescem as dúvidas sobre se o empresário nova-iorquino estará na cédula eleitoral das próximas eleições presidenciais, 2020, e que alguns preparam um plano de contingência diante dessa possibilidade. O nova-iorquino continua forte entre seus eleitores, mas jamais foi do agrado do establishment republicano e o avanço das investigações sobre a trama russa, assim como os magros resultados de suas iniciativas no Congresso e no Senado (a incapacidade de substituir Obamacare é seu fracasso mais divulgado), podem enfraquecê-lo.
O Times cita até Mike Pence, o vice-presidente, como possível candidato. Seus assessores já estariam aventando, entre doadores, a ideia de que Pence planeja se apresentar como candidato se Trump não o fizer, o que o próprio vice-presidente negou categoricamente no domingo.