FMI prevê pior recessão sincronizada e retomada lenta

Em seu Panorama Econômico Mundial, o FMI estimou que a economia global deverá contrair-se 3% neste ano, ante expansão de 3,3% prevista em janeiro. A perda acumulada para o PIB global entre 2020 e 2021 deve chegar a US$ 9 trilhões 

O choque causado pelo coronavírus levará o mundo para uma recessão profunda, cuja recuperação será mais lenta do que o previsto, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu Panorama Econômico Mundial, divulgado ontem. Será a maior crise desde a Grande Depressão, nos anos 1930, e a primeira vez desde então que economias avançadas, emergentes e em desenvolvimento estarão em recessão sincronizada. Em 2021 haverá recuperação, mas que não deve repor as perdas deste ano, com risco de cenário piorar mais. 

Ao apresentar o relatório, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, lembrou que um cenário ainda pior não só é possível, como é provável. “Isso pode acontecer se as medidas restritivas durarem mais, se economias emergentes e em desenvolvimento forem mais afetadas e se persistirem condições financeiras restritivas”, disse ela sobre a crise atual, que chamou de Grande Confinamento.

O FMI estimou que a economia global deverá contrair-se 3% neste ano, devido à pandemia, ante expansão de 3,3% estimada em janeiro. A perda acumulada para o PIB global entre 2020 e 2021, em valor, deve chegar a US$ 9 trilhões. 

Uma queda de 3% no crescimento global é o cenário base, no qual se espera que a pandemia desapareça no segundo semestre do ano, que as medidas de contenção possam ser gradualmente levantadas e a atividade econômica, normalizada. Se isso ocorrer, a estimativa é que o mundo cresça 5,8% em 2021. 

Mas como muitos países enfrentam crise em várias frentes, com choque no setor de saúde, interrupções econômicas, demanda externa em queda, fuga de capital e colapso nos preços das commodities, “os riscos de um cenário pior predominam”. 

Gopinath lembrou que nunca antes na história houve um colapso econômico tão rápido como o provocado pela pandemia atual. “A magnitude e a velocidade do colapso da atividade econômica que se seguiu à pandemia de covid-19 é diferente de tudo o que ocorreu em nossas vidas. E há uma incerteza substancial sobre seu impacto na vida e nos empregos das pessoas”, afirmou ela, lembrando que muitos países enfrentam ainda crises financeiras e queda dos preços das commodities exportadas. 

Essa queda pressiona emergentes e países em desenvolvimento, que devem ter contração de 1% neste ano. A América Latina deve encolher 5,2% no ano, com quedas previstas de 5,3% para o Brasil e 6,6% para o México. Já a China deve crescer 1,2%, e a Índia, 1,9%. A Rússia deve ter contração de 5,5%. 

Em países nos quais o setor informal tem peso importante na economia, diz o Fundo, programas de apoio que já existem devem ser expandidos e novos programas, criados. O relatório destaca políticas de amortecimento social para famílias e empresas como transferência de renda, subsídios salariais, isenção de impostos e adiamento do pagamento de dívidas. 

O choque deve atingir com mais força economias mais ricas, que terão contração de 6,1% neste ano. O Fundo espera queda de 5,9% no PIB dos EUA. O PIB da Alemanha deve contrair-se 7%; o da França, 7,2%; e o da Itália, 9,1%. O Japão deve ter contração de 5,2% 

No relatório, o Fundo afirmou ainda que o choque do Grande Confinamento é sem precedentes por três características: a duração do choque, o alto nível de incerteza e os desafios para os governos. 

O Fundo observou que os casos de covid-19 reduzem a oferta de mão-de-obra, enquanto quarentenas restringem a mobilidade, interrompem cadeias de suprimentos e diminuem a produtividade. “Isso requer medidas fiscais, monetárias e financeiras substanciais, direcionadas para manter os laços econômicos entre trabalhadores, firmas e credores, mantendo intacta a estrutura econômica e financeira da sociedade”, disse Gopinath. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/04/15/fmi-preve-pior-recessao-desde-os-anos-30-e-retomada-lenta.ghtml

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