FLIP – A Festa Literária da Casa Azul

É possível misturar arte, cultura e gestão? Compreender melhor a produção de cultura “quer dizer transforma-la em negócio sustentável” como respondeu a esta questão o professor Celso Cruz na abertura do debate FLIP – A Festa Literária: encontro com o pessoal da Casa Azul , ontem no auditório da Castelo Branco , no evento da noite de O melhor lugar do mundo.

O debate contou com a participação de Mauro Munhoz, gestor da Casa Azul, a entidade que organiza a FLIP e de Paulo Werneck, curador da FLIP. O terceiro participante, Christopher Mathi, ex-aluno da ESPM é o assistente-organizador da parceria da escola com a festa literária de Paraty. A mediação do encontro ficou com o professor Marcelo Chiavone Pontes (Jimmy) Líder da Área de Marketing e Economia da ESPM.

A Casa Azul é a associação que faz a gestão da festa literária anual de Paraty. Cruz explicou que a parceria da ESPM com a Casa Azul desenvolveu-se em “três eixos”. O primeiro deles permitiu a produção de um painel que discutiu a “experiência da FLIP” vivida pelos alunos da escola. O segundo. foi a discussão da Bienal de Veneza, acompanhada por alguns professores da escola. O terceiro eixo foi envolver os dois anteriores na “experiência comum da cidade de São Paulo”.

Mauro Munhoz abriu o debate falando de “outro modo” de pensar gestão cultural como alternativa, “perspectiva de trabalho” para qualquer formação universitária. O gestor da Casa Azul lembrou que a questão essencial da FLIP, desde o início, foi a “ideia de território”. A cidade de Paraty “um lugar isolado, porque o asfalto só chegou nos anos 70” , desde 2003, primeiro ano da festa literária, fez questão de fazer algumas escolhas, como insistiu Munhoz. A primeira delas foi preservar suas “qualidades culturais, sociabilidade e modos de vida”.

O gestor da Casa Azul, arquiteto formado pela FAU/USP, lembrou que até a festa literária não existiam inciativas de “ocupar a cidade”. A não ser atos isolados como a decisão de Almir Klink, o navegador solitário, que pediu a Munhoz para construir em Paraty “uma escola de ofícios ligados ao mar”. Alguns editores tomaram o mesmo caminho, contratando a construção de casas particulares. A cidade ganhou “um ar diferente” e cresceu, “se transformando em um laboratório incrível de experiências culturais”. É neste ponto, com esta frase, que Munhoz desenvolve a “ideia de território que marca a FLIP”, sem visão pré-estabelecida, sem a “visão de manter igual os compromissos com o poder naquele território”.

Mas, como é fazer um trabalho coletivo, para um cliente coletivo como é uma festa literária? A resposta do arquiteto Munhoz é muito rápida: “tem a ver com a forma como as pessoas se apropriam desse território”, Ou seja, é preciso criar uma troca com o habitante do território FLIP pondera Munhoz, “criando elementos identitários dessas pessoas com o território” que será deles, a partir de ritos que preservem este elemento coletivo. O arquiteto foi bem enfático: “cultura e educação é o território para formular estes ritos”. Foi neste processo, que Paraty se mostrou um “laboratório interessante” para a evolução desses ritos coletivos, como concluiu Munhoz.

Paulo Werneck, o curador da FLIP tomou outro caminho na sua exposição ao lembrar que a FLIP funciona como “abertura de zonas de fronteiras culturais”. O jornalista Werneck insistiu que não é por acaso que Paraty está “no meio do caminho entre São Paulo e Rio de Janeiro”, apontando a necessidade de estabelecer vínculos entre cultura, mercado e gestão. Desde o início a FLIP tinha, na visão do curador, o compromisso de revelar novos autores. Nesse ponto é que a festa sempre funcionou como um novo formato de “sociabilidade do conhecimento”.

Werneck insistiu que a FLIP permite uma discussão da cena literária mais aberta do que a feita na universidade, no mercado editorial e no jornalismo cultural. Exatamente por esta razão, a festa literária “que nasceu sustentada por este tripé, universidades, editoras e cadernos de cultura” se revelou mais resistente do que o “próprio tripé para enfrentar a crise que assolou mercado editorial, jornalismo e universidades da área de cultura”. Werneck lembrou que o Brasil já tem mais de 300 festivais literários anuais todos inaugurados a partir da “discussão cultural iniciada na FLIP”.

A presença do ex-estudante da ESPM, calouro de 2007, Christopher Mathi, abriu outra etapa no debate, o da parceria nascida do interesse do estudante em “abrir novos campos de atuação profissional”. Mathi contou o peso da “feliz coincidência de encontrar o professor Joca e falar do meu novo trabalho na FLIP “, que provocou todo o roteiro da parceria da escola com a festa literária. Mas, pesou também, como notou o assistente-organizador da FLIP a sua vontade de “fazer novos vínculos entre a publicidade com a cultura, com a música, desde a Monografia, apostando em formatos novos de patrocínio pelas empresas”.

No debate, ficou claro que o território da FLIP tem muitos sentidos. De parceria, de gestão, de opção cultural que é também profissão.

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