Falta de peça chinesa já custou US$ 50 bi a outros países

A contração na produção de partes e componentes na China em fevereiro causou perda de cerca de US$ 50 bilhões a outros países do mundo, segundo a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). 

A China responde por 20% do comércio mundial de bens intermediários e tornou-se um fornecedor essencial de peças e componentes para vários produtos como automóveis, telefone celular, equipamentos médicos e outros. 

A Unctad leva em conta a contração de 2% na produção de bens intermediários chineses, em base anual. O resultado foi um efeito dominó na economia mundial, afetando a capacidade produtiva e exportações de vários países, além de ilustrar dependência de indústrias em torno do mundo em relação aos fornecedores chineses. 

Em fevereiro, as regiões mais atingidas foram a União Europeia, com perda estimada em US$ 21,6 bilhões pela falta de bens intermediários para maquinários, automóveis e químicos. Os EUA perderam US$ 8,5 bilhões, enquanto o Japão teve prejuízo de US$ 6,4 bilhões. Na Coreia do Sul as perdas foram de US$ 4,4 bilhões, em Taiwan, de US$ 3,3 bilhões, e Vietnã, de US$ 2,6 bilhões. 

As indústrias mais atingidas no exterior pela perturbação nas cadeias de produção chinesas têm sido as de instrumentos de precisão, maquinários, automotiva e de equipamentos de comunicações. Somente a indústria automotiva perdeu US$ 7 bilhões por não conseguir completar a produção. 

A Unctad avalia que a indústria brasileira perdeu US$ 104 milhões no mês passado ao não poder receber todas as peças e componentes que precisava da China. O setor automotivo brasileiro, segundo a entidade, teve a maior perda no país – cerca de US$ 42 milhões – pela falta de peças chinesas. 

Ainda assim, a Unctad nota que o Brasil é um dos menos afetados. No México o prejuízo é estimado em US$ 1,5 bilhão, pela falta de peças e componentes principalmente para o setor automotivo. 

“O Brasil tem participação muito limitada nas cadeias globais de valor e isso explica a perda baixa”, diz Alessandro Nicita, autor do estudo na Unctad. “Mas se juntarmos a perda (de US$ 104 milhões) a cada mês, no futuro próximo teremos um valor importante.” 

A agência da ONU não examinou o impacto da menor demanda de commodities por conta da desaceleração econômica na China. 

Os US$ 50 bilhões de perda total se referem apenas a fevereiro. Um impacto maior poderá ser visto dentro de algumas semanas, quando muitas mercadorias encomendadas, mas não embarcadas, deveriam ser utilizadas na produção em várias partes do mundo. 

A Federação das Indústrias Alemães (BDI) observou que a epidemia é “um teste de estresse para algumas cadeias de suprimentos com forte foco na China”. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/03/05/falta-de-peca-chinesa-ja-custou-us-50-bi-a-outros-paises.ghtml

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