Falta de inovação é o principal entrave ao crescimento econômico

Em vários aspectos, parece que estamos vivendo uma era dourada da inovação. Todos os meses vemos novos avanços em inteligência artificial, terapia genética, robótica e aplicativos. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento como fatia do produto interno bruto dos Estados Unidos estão perto de níveis recordes. Nunca houve tantos cientistas e engenheiros no país como agora.

Mas nada disso se traduz em melhorias significativas no padrão de vida dos Americanos, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Greg Ip. Publicada no Valor de 10/12.

As economias crescem quando uma força de trabalho crescente recebe mais capital como equipamentos, software e prédios, e então combinando capital e trabalho de forma mais criativa. Este último elemento, chamado de “fator total de produtividade”, captura a contribuição da inovação. Seu crescimento atingiu o auge nos anos 50, com alta de 3,4% ao ano, à medida que inovações como eletricidade, aviação e antibióticos atingiam seu impacto máximo. Desde então, essa produtividade só desacelerou, crescendo a uma média de 0,5% na década atual,

Com exceção da tecnologia de uso pessoal, melhorias na vida diária têm sido graduais, não revolucionárias. Casas, eletrodomésticos e carros não mudaram muito em uma geração. Os aviões não estão voando mais rápido que nos anos 60. Nenhum dos 20 remédios que precisam de prescrição mais vendidos nos EUA foi lançado nos últimos dez anos.

A queda na inovação é o principal motivo dos padrões de vida dos EUA terem estagnado desde 2000. Sem uma virada, essa estagnação deve continuar, aumentando a crise que deixou a classe média tão insatisfeita.

Economistas debatem os motivos, mas há claramente várias forças em jogo. Os obstáculos para transformar ideias em produtos de sucesso comercial têm crescido. Os frutos fáceis de colher na ciência, medicina e tecnologia já foram obtidos e os novos avanços são mais caros, mais complexos e mais propensos a fracassos. A inovação vem através de tentativas e erros, mas a sociedade ficou menos tolerante ao risco.

As regulações elevaram as barreiras para a comercialização de novas ideias ao mesmo tempo em que direcionaram uma crescente fatia de esforços de inovação para metas com benefícios, como o ar mais limpo, que não elevam o produto interno bruto. Ao mesmo tempo, uma tendência em direção à concentração industrial pode ter dificultado a vida dos recém-chegados.

Existe solução para a escassez de inovação. O capital é abundante, e tanto empresas tradicionais como jovens empreendedores estão fazendo apostas de alto risco em carros, viagens espaciais e drones, e alguns formuladores de políticas estão tentando tolerar mais risco para que essas apostas tenham sucesso.

“Houve uma explosão de inovações recentemente, especialmente na inteligência artificial, que serão concretizadas nos próximos 5 a 15 anos”, prevê Erik Brynjolfsson, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “Podemos facilmente imaginar que quando elas amadurecerem e entrarem na economia, os efeitos serão surpreendentes.”

Ainda assim, com exceção da tecnologia da informação, os obstáculos para a inovação estão ficando maiores, não menores, principalmente na medicina.

Nos últimos 100 anos, vacinas, antibióticos e água potável derrotaram os grandes assassinos da humanidade. Hoje, a maioria dessas doenças tem tratamento.

O que sobrou, diz Jack Scannell, do Centro para o Avanço da Inovação Médica Sustentável da Universidade de Oxford, são doenças como o Alzheimer, para as quais os cientistas não têm uma teoria útil de tratamento. Scannel e vários coautores estimam que o número de remédios aprovados nos EUA por dólar investido em pesquisa e desenvolvimento caiu pela metade a cada nove anos entre 1950 e 2000. O número de aprovações cresceu desde então, embora 40% são para remédios que tratam doenças que atingem menos de 200 mil pessoas.

A queda nos resultados positivos da pesquisa médica é ilustrada por um novo estudo de Charles Jones, da Universidade Stanford, e outros três autores. Ele descobriu que nos dez anos antes de 1985, os anos de vida salvos através do tratamento de câncer de mama cresceram continuamente a cada ano, junto com o volume de pesquisa. Mas desde 1985, a redução na mortalidade desacelerou. Eles calculam que cada novo teste publicado elevou 16 anos de vida por 100 mil pessoas em 1985, e esse número caiu para menos de um ano em 2006. O mesmo padrão foi visto na agricultura e no setor de semicondutores: queda contínua de produtividade por pesquisador.

Os remédios são um reflexo do valor crescente dado à vida humana nas sociedades desenvolvidas. Em 1960, 7% do P&D dos EUA era dedicado à saúde. Em 2007, ele era 25%, segundo outro estudo de Jones, da Stanford. Isso significa que pesquisa médica absorve recursos de P&D que poderiam ir para produtos de consumo mais mundanos. Para Jones, o aumento do valor da vida humana basicamente causa um crescimento menor de serviços e bens de consumo tradicionais, e eles representam a maior parte do PIB.

Desfazer os danos causados por inovações passadas – como a queima de combustíveis fósseis – ao meio ambiente e à saúde humana também está engolindo mais esforços de inovação, o que afeta o bolso do consumidor. Nos EUA, a fatia do preço de um carro que paga pelas exigências dos reguladores de segurança e eficiência de combustível foi de zero em 1967 para 22% hoje, ou seja, US$ 5,5 mil em um carro de US$ 25 mil, segundo Sean McAlinden, economista do Centro para Pesquisa Automotiva, entidade patrocinada pelo setor.

Isso levou a benefícios genuínos: as mortes nas estradas caíram do fim dos anos 60 até recentemente, e o ar está mais limpo. McAlinden nota que os consumidores talvez não adotariam esses recursos se tivessem escolha.

Os carros elétricos, por exemplo, custam mais e têm pior desempenho que os equivalentes à gasolina; as baterias reduzem o espaço e adicionam peso. Mesmo com subsídios federais significativos, as vendas têm sido prejudicadas pelos baixos preços da gasolina. Nos EUA, os veículos elétricos e híbridos juntos somaram 1,9% das vendas até o momento este ano, a menor desde 2006, segundo o site Edmunds.com.

Os carros elétricos não oferecem ainda “uma proposta de valor que atraia o consumidor de massa”, diz John Vieira, diretor de sustentabilidade da Ford Motor Co. Ele cita o EcoBoost, tecnologia de injeção à gasolina desenvolvida pela Ford que atinge a mesma potência com menos cilindros, “obtendo economia de combustível sem perda de desempenho”. “Ela aumenta o custo, mas o cliente quer pagar por esta tecnologia, ao contrário do veículo elétrico”, diz ele.

Tentativa e erro são a base da inovação, e erros às vezes matam pessoas. Queda de aviões, vazamento de lixo tóxico e crises financeiras continuamente levam a novas regras que tornam o mundo mais seguro, mas criam obstáculos para inovações futuras, como as regulações financeiras mais severas criadas após a crise de 2008, que limitaram os empréstimos para que cidadãos comprem casas e empresas financiem projetos.

Apesar desses problemas, a inovação continua e, em alguns campos, como internet e smartphones, a um ritmo frenético.

A Amazon.com Inc. está elevando a produtividade do varejo praticamente sozinha. O J.P. Morgan observa que o varejista médio de internet nos EUA gera US$ 1,3 milhão em vendas por empregado, ante a média do varejo físico, de US$ 279 mil por empregado. Como a fatia de mercado da Amazon cresceu, ela elevou a produtividade de todo o setor. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico revela, porém, que são as empresas de “fronteira”, que usam processos mais eficientes e tecnologia que têm obtido crescimento; nas empresas tradicionais, na verdade, ele caiu. Em outras palavras, a produtividade está sendo contida pela incapacidade das rivais da Amazon, Facebook e Google de as alcançarem.

Os autores especulam que isso pode ocorrer porque as novas tecnologias são, de fato, uma combinação de tecnologias e processos empresariais difíceis de replicar e frequentemente protegidos por patentes.

Desde que as empresas de fronteira continuem inovando, a produtividade não recuará. O risco é que, depois que a empresa se torna dominante, nenhum rival pode igualar sua rede, e inovação passa a ser menos necessária.

Diante desses obstáculos, qual a solução? Jones, da Stanford, diz que hoje mais pesquisadores são necessários para produzir uma inovação com benefício equivalente aos obtidos no passado. Isso significa que a sociedade terá que destinar mais recursos e pessoas para P&D apenas para manter a mesma taxa de crescimento.

Aprender com outros países também ajuda. Historicamente, os países mais pobres copiavam as ideias dos ricos. Mas agora elas podem ir na direção oposta, já que há uma explosão de pesquisas na Índia e na China.

E os reguladores têm de ser mais tolerantes ao risco. Os carros autônomos são prova de que eles estão tentando. Em maio, o americano Joshua Brown morreu ao bater seu Tesla, que estava no modo “piloto automático”. O acidente poderia ter gerado uma repressão regulatória que suspenderia a pesquisa tecnológica. Em vez disso, a agência de segurança rodoviária dos EUA divulgou, em setembro, uma orientação não obrigatória de como os fabricantes deveriam dar mais segurança aos seus sistemas.

“Estamos dando espaço para o setor criar abordagens de segurança que não havíamos vislumbrado”, diz Anthony Fox, secretário de Transportes dos EUA.

Comentários estão desabilitados para essa publicação