Facebook e Google vão filtrar notícias falsas na França e na Alemanha

Criticadas por fazer pouco para coibir a divulgação de notícias falsas na disputa presidencial dos EUA no ano passado, empresas de tecnologia americanas estão adotando outra atitude na Europa.
Com países europeus às vésperas de campanhas eleitorais decisivas, o Facebook e o Google, da Alphabet, estão lançando iniciativas e instrumentos para conter a disseminação on-line de informações erradas por meio da divulgação de artigos noticiosos falsos ou trotes.
Ontem a First Draft News, instituição sem fins lucrativos financiada pelo Google, disse ter inscrito 15 veículos noticiosos franceses, como a agência France Presse e o “Le Monde”, num novo programa destinado a localizar e checar o conteúdo em circulação no meio on-line às vésperas da eleição presidencial de abril na França. Programa parecido está sendo avaliado para a Alemanha, que terá eleições parlamentares em setembro, como mostrou artigo distribuído pela Dow Jones, assinado por Sam Schechner, publicado no Valor de 07/02.
Já o Facebook disse que adotará na França (após lançar na Alemanha no mês passado) uma mudança de seu serviço que assinala artigos noticiosos como “discutíveis” e os exibe com menor frequência nos feeds de notícias dos usuários, quando organizações noticiosas externas os consideram falsos.
O Google disse ter implementado seu próprio instrumento de verificação de fatos nos EUA, Reino Unido, França e Alemanha.
As mudanças ilustram a guinada radical no modo como as empresas de tecnologia encaram a exigência de vigiar seu conteúdo on-line. As empresas do Vale do Silício sempre se retrataram como plataformas tecnológicas neutras, que não deveriam participar da filtragem da internet. Mas, sob pressão de governos nos últimos anos, concordaram em agilizar a eliminação de propaganda terrorista, assim como já haviam acelerado a retirada de conteúdo pirata.
A adesão dessas empresas à verificação da veracidade de fatos ocorre na esteira da desagregadora campanha presidencial americana. As empresas foram criticadas pelo fato de trotes e informações erradas amplamente disseminadas distorcerem o discurso político e acirrarem as divisões ideológicas entre a esquerda e a direita.
O temor quanto às notícias falsas é intenso hoje na Europa, onde candidatos antiestablishment, como a líder da Frente Nacional da França, Marine Le Pen, estão bem nas pesquisas de intenção de voto. Políticos alemães, temendo “manipulação política”, propuseram em janeiro uma lei que obrigaria as empresas a suprimirem notícias falsas 24 horas após a postagem.
Alguns executivos da área tecnológica rejeitaram inicialmente a ideia de que notícias falsas tenham influenciado o resultado eleitoral nos EUA. Mas, desde então, criaram e promoveram instrumentos para coibir a disseminação de notícias falsas – e os lançaram, em pouco tempo, também na Europa.
Em novembro, Google e Facebook mudaram suas políticas para impedir divulgadoras de notícias falsas de usar as redes de propaganda on-line das gigantes da internet, num esforço para privar as fornecedoras de conteúdo falso da receita necessária para operarem.
As empresas incorporaram ainda novas ferramentas para descartar conteúdo falso – embora dependam, por ora, de organizações externas para detectar a falsidade.
As iniciativas anunciadas ontem seguem esse padrão. A ferramenta de checagem de fatos do Facebook terá oito organizações noticiosas francesas aptas a verificar a veracidade de artigos postados por usuários e de assinalá-los como falsos.
“Acredito que conseguiremos estancar o fluxo de informações erradas nesse período decisivo para a França”, disse Jenni Sargent, diretora da First Draft News.

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