Europa reage às negociações entre Rússia e EUA sobre paz na Ucrânia

Líderes europeus se encontrarão hoje, em Paris, para discussões de emergência sobre a Ucrânia e o futuro do sistema de defesa da região, provocadas pela decisão do presidente dos Estados Unidos, DonaldTrump, de iniciar negociações de paz na Ucrânia com a Rússia. Os diálogos começarão formalmente esta semana, na Arábia Saudita, quando o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se reunir com o chanceler russo, Sergei Lavrov.

As conversas terão como objetivo estabelecer as bases para que Trump se encontre com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, menos de uma semana depois de o presidente americano ter chocado a Europa ao concordar em iniciar negociações de paz. Isso vai enfatizar a ausência de uma contribuição dos europeus para negociações que podem, em última análise, reconfigurar a arquitetura de segurança do continente. “Este é o começo do começo. As coisas estão avançando sem dúvida nenhuma”, disse o presidente da Finlândia, Alexander Stubb, ao FT. “As placas tectônicas da Europa estão em movimento?”

O encontro, marcado a convite do presidente da França, Emmanuel Macron, reunirá governantes como os primeiros-ministros do Reino Unido, Keir Starmer, da Alemanha, Olaf Scholz, e da Polônia, Donald Tusk, e os chefes de instituições da União Europeia e da Otan. Junto com os líderes de Itália, Espanha, Holanda e Dinamarca, eles discutirão planos concretos com o objetivo de preservar o sistema de defesa da Europa independentemente de um futuro engajamento dos EUA, assim como debaterão a melhor forma de dar apoio à Ucrânia e fortalecer sua posição de negociação.

“É uma insanidade a rapidez com que isso está avançando”, comentou uma autoridade ocidental que está a par das negociações. “Tudo o que [a Europa] precisa fazer é dar à Ucrânia o máximo possível, de maneira que ela possa ter melhores condições de dizer ‘não’ às coisas que [os EUA e a Rússia] querem lhe impor.”

A Ucrânia não foi convidada para as negociações entre os EUA e a Rússia na Arábia Saudita e só ficou sabendo delas pela imprensa, segundo uma fonte próxima do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Mas seus diplomatas viajarão para lá mesmo assim.

“É claro que entendemos que os americanos têm seus próprios problemas com os russos, isso não é da nossa conta – sobre as relações bilaterais… mas a presença da Ucrânia e da Europa é necessária se as negociações forem sobre a Ucrânia e a Europa”, acrescentou a fonte.

Ontem, Zelensky rejeitou uma proposta de Trump para assumir cerca de 50% dos direitos sobre minerais de terras raras do país, uma oferta feita após o republicano sugerir que os EUA queriam US$ 500 bilhões em recursos da Ucrânia pela assistência prestada até agora.

O principal item de discussão em Paris será a possibilidade de enviar tropas europeias para a Ucrânia, para serem posicionadas na retaguarda e não em uma futura linha do cessar-fogo, como uma “força de garantia”, segundo três autoridades. Uma delas explicou que mais alternativas podem surgir antes da reunião e que a Alemanha, em particular, encarava com reservas a ideia.

Há bastante incerteza sobre que papel os EUA poderiam ter em garantir a segurança de quaisquer forças da Otan na Ucrânia. A equipe de Trump já descartou a hipótese de mandar tropas americanas, mas autoridades europeias asseguram que os EUA não excluíram a possibilidade de oferecer suporte externo a um eventual envio de tropas por aliados da Otan.

Muitos governos europeus também estão desconfortáveis a respeito de responder a um pedido feito pelos EUA na semana passada para que forneçam detalhes específicos sobre armamentos, dinheiro e forças de manutenção da paz que poderiam enviar para a Ucrânia com o fim do conflito, de acordo com várias autoridades.

“O sentimento generalizado é de que este é um bom exercício em termos de pensar sobre o que cada um pode oferecer, mas a resposta aos EUA deveria ser coletiva”, disse uma das autoridades.Starmer disse que o Reino Unido está disposto a contribuir com garantias de segurança para a Ucrânia, inclusive com o envio de tropas.

No entanto, ele avaliou que o apoio de Trump é fundamental porque “somente os EUA podem impedir Putin de atacar novamente”.

Ontem, Rubio contou à emissora CBS que a conversa entre Putin e Trump tinha corrido bem, mas só “as próximas semanas e dias determinarão se isso é sério ou não… há muito trabalho a fazer”.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/02/17/ue-reage-as-negociacoes-entre-russia-e-eua-sobre-paz-na-ucrania.ghtml

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