Autoridades europeias preparam planos para reformular como os preços da eletricidade são determinados no continente, em um esforço para dar algum alívio aos consumidores – já que os custos de energia deram um salto às vésperas do inverno na Europa.
Os planos fazem parte de uma iniciativa mais ampla da União Europeia (UE) para se preparar para os meses frios com um acesso mais limitado à energia da Rússia, que no ano passado forneceu cerca de 40% do gás natural consumido no bloco. Os preços recordes de gás natural e eletricidade já provocam apertos para famílias e empresas em todo o continente, e a expectativa das autoridades é de que a pressão sobre os preços aumentem quando os europeus começarem a usar o aquecimento, já no outono, a partir de setembro.
A Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, já tinha anunciado que estudaria possibilidades de reformar o mercado europeu de energia. Governantes de países como a França e a Espanha pressionaram por mudanças ao longo do ano passado, mas a comissão resistia à ideia até há pouco tempo.
Os preços da eletricidade na Europa são fixados em função da oferta e da procura de energia como um todo, independentemente de sua origem. Isso significa que os preços altos do gás natural influenciam diretamente os preços da eletricidade em geral, embora parte dela seja produzida a partir de outras fontes, como as renováveis, que têm um custo menor.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deu a entender ontem que a comissão está perto de apresentar uma proposta para mudar a forma como o mercado de eletricidade funciona.
“A atual disparada dos preços da eletricidade expõe as limitações de nosso modelo para o mercado de eletricidade”, disse Von der Leyen em um discurso, na Eslovênia. “Ele foi desenvolvido para outras circunstâncias. É por isso que agora trabalhamos em uma intervenção de emergência e uma reforma estrutural do mercado de energia.”
Em uma discussão pública com o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, ontem, Von der Leyen disse que a comissão precisa tratar da especulação nos mercados de energia e seu impacto nos preços da eletricidade. Ela afirmou que uma intervenção de curto prazo pode ser adotada já nas próximas semanas, enquanto uma reforma estrutural mais abrangente levaria mais tempo.
O ministro de Indústria e Comércio da República Tcheca, Jozef Sikela, que está na presidência rotativa da UE, disse que os ministros de Energia devem realizar uma reunião de emergência para discutir as reformas do mercado de energia em 9 de setembro.
“Precisamos consertar o mercado de energia”, escreveu Sikela em um post no Twitter. Ele afirmou que uma solução no nível da UE seria a melhor opção.
Os altos preços da energia já pressionam consumidores e empresas a reduzirem o consumo, o que permitiu à UE estocar gás natural para o inverno em ritmo mais rápido do que as autoridades previam. Mas em algumas regiões os preços estão tão altos que algumas autoridades temem seu impacto nas famílias e empresas e a possibilidade de distúrbios sociais.
No início deste verão, em junho, os países da UE acertaram uma redução voluntária de seu consumo de gás em 15% a partir de agosto, uma medida que pode se tornar obrigatória em caso de emergência. A comissão sugeriu que os países-membros estudem a adoção de medidas como leilões para oferecer gás a um preço determinado, como parte de um esforço para evitar o racionamento direto.
Os líderes europeus têm manifestado uma preocupação cada vez maior com os preços e o fornecimento de energia.
A premiê da França, Élisabeth Borne, disse ontem que o governo francês pode ter de racionar a energia neste inverno e pediu às empresas que tomem medidas para reduzir o consumo.
O prefeito de Montataire, Jean-Pierre Bosino, que é do Partido Comunista, ameaçou deixar de pagar as contas de energia do município, ao norte de Paris. Em um comunicado, ele afirmou que era impossível cobrir esses custos sem fechar serviços públicos. “Nós não temos reservas de emergência”, acrescentou.
Alguns líderes de empresas de energia disseram que os lucros recordes alimentados pelos preços altos ajudam a impulsionar os investimentos em fontes de energia renovável.
O executivo-chefe da TotalEnergies da França, Patrick Pouyanné, afirmou ontem que os lucros maiores com petróleo e gás dão à empresa “muita comodidade” em áreas como a da energia eólica marítima.