EUA relatam resistência da China nas negociações

Alguns negociadores americanos estão preocupados com a possibilidade de a China estar resistindo a exigências feitas pelos EUA nas negociações comerciais, de acordo com pessoas a par das negociações, apesar do tom otimista do presidente Donald Trump ao falar da possibilidade de um acordo.
Autoridades chinesas mudaram sua postura porque, após aceitar mudanças a suas políticas de propriedade intelectual, não receberam garantias do governo Trump de que as tarifas impostas aos seus produtos de exportação serão suspensas, disseram duas pessoas que falaram sob a condição de não terem seus nomes divulgados.
Pequim também recuou de suas promessas iniciais em torno de proteção de dados de produtos farmacêuticos, não ofereceu detalhes sobre seus planos para melhorar os vínculos previstos pelas patentes e se recusa a ceder em questões de “data service” (serviços de software), disse uma pessoa a par dos pontos de vista americanos. Pequim está tentando introduzir termos que garantam que as regras do acordo comercial terão de obedecer à legislação chinesa, acrescentou a fonte.
“As negociações com a China estão indo muito bem”, disse Trump em resposta a uma pergunta feita durante entrevista coletiva conjunta com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
No entanto, fontes ouvidas pela Bloomberg também relataram que a China pretende excluir o problemático jato 737 Max da Boeing de uma lista de produtos que compraria dos EUA como parte de um acordo comercial.
Os jatos da Boeing foram apresentados em uma lista preliminar de produtos americanos que a China compraria para reduzir seu superávit comercial com os EUA, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificados. Mas agora, as preocupações de segurança estão pressionando a China a examinar se corta completamente o 737 Max da lista ou substituí-lo por outros modelos da Boeing. A queda de um avião operado pela Ethiopian Airlines no último dia 10, o segundo acidente envolvendo o 737 Max em cinco meses, levou à suspensão dos voos do modelo em todo o mundo.
Uma redução nas compras de aeronaves pode tornar mais difícil para a China cumprir sua oferta de reduzir seu superávit comercial anual de US $ 300 bilhões com os EUA em seis anos, e potencialmente atrasar qualquer acordo entre os dois países. No valor de bilhões de dólares e um item importante da pauta de exportação dos EUA, os aviões da Boeing provavelmente seriam um componente chave de qualquer compromisso da China em comprar mais produtos americanos, junto com soja, carne e gás natural.
O Ministério do Comércio da China, responsável pelas negociações comerciais do país com os EUA, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Um representante da Boeing se recusou a comentar.
O representante comercial dos EUA (USTR), Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, viajarão a Pequim na próxima semana para uma nova rodada de negociações de alto nível, na tentativa de fechar um acordo até o fim de abril, segundo pessoas familiarizadas com os planos. A viagem foi acertada por telefone entre as duas autoridades americanas e o vice-premiê chinês, Liu He, que depois retribuirá com uma visita a Washington em uma data ainda a ser definida.
Nos últimos dias, o escritório USTR enviou comentários a seus homólogos chineses na tentativa de abordar preocupações com a linguagem usada no texto da proposta corrigida da China sobre proteção intelectual, de acordo com pessoa bem- informada sobre as discussões.
Embora algumas autoridades americanas encarem a estratégia da China como um recuo em relação aos compromissos, outras se mostraram menos preocupadas, ao dizer que essa é uma parte normal do processo de negociação.
Pessoa próxima a Lighthizer negou que autoridades chinesas tenham recuado de suas promessas anteriores. Uma autoridade chinesa bem-informada sobre as discussões disse que as negociações ainda estão em curso e que recuos e avanços são previsíveis nessas circunstâncias.
Trump está pressionando os negociadores dos EUA a fechar um acordo comercial com a China o quanto antes. Sua preocupação é a necessidade de apresentar uma grande vitória no cenário internacional a fim de impulsionar suas chances de reeleição.
Nas últimas semanas, possíveis datas para a assinatura de um acordo entre Trump e seu colega chinês Xi Jinping foram adiadas, em meio ao que Lighthizer qualificou como questões pendentes “relevantes”. Os EUA disseram que um acordo comercial com a China tem de abordar seu suposto roubo de segredos comerciais e de proteção intelectual de empresas americanas, independentemente de qualquer promessa de Pequim de comprar mais produtos e serviços americanos.

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