EUA querem parceiros comprando menos da China

Por Tom Wright e Mark Magnier

Esta é, realmente, uma briga de gente grande. Para impulsionar suas exportações, os Estados Unidos estipularam que os países que estão se unindo à nova zona comercial do Pacífico reduzam suas importações da China – proposta que está encontrando resistência de empresas e autoridades receosas de que a medida perturbe as cadeias de suprimento globais.

Ontem, o Senado americano aprovou uma lei que amplia os poderes do presidente Barack Obama para negociar acordos comerciais, depois de uma batalha dura que pressionou os defensores da legislação a mostrar que a Parceria Transpacífico, que reúne 12 países, vai criar empregos nos EUA.

Para isso, os negociadores comerciais do país estão exigindo que o Vietnã, um grande exportador de roupas, reduza sua dependência de tecidos fabricados na China, que não integra o tratado comercial, para ganhar acesso preferencial ao mercado americano, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Tom Wright, publicada no Valor de 25/06, pg B11.

O objetivo é criar novos mercados no Vietnã para a indústria têxtil americana, que emprega 250 mil pessoas e exportou US$ 20 bilhões em 2014.

“Os EUA e o México são, especialmente, grandes produtores têxteis”, diz Eliza Levy, uma porta-voz do Conselho Nacional das Organizações Têxteis dos EUA. “O Vietnã teria apenas que mudar sua fonte de fios e tecidos da China para os EUA e México.”

As grifes americanas se opõem a essa estratégia porque, segundo as empresas, ela ignora as complexidades das redes globais de abastecimento. O Vietnã é o segundo maior exportador de roupas e calçados para os EUA, atrás da China, tendo registrado vendas de US$ 13,1 bilhões em 2014. Mas o país produz tecido o suficiente para atender somente 20% de suas necessidades e compra cerca de US$ 4,7 bilhões em tecidos da China, ou cerca de metade do total que importa anualmente.

As marcas de roupas querem isenção de impostos nos EUA para todos os produtos fabricados na nova zona de livre comércio, independentemente de onde o tecido seja produzido.

As negociações comerciais podem reduzir a zero os impostos nos EUA de várias roupas e calçados exportados pelo Vietnã, comparado com os 7% a 32% cobrados hoje.

Julia Hugues, presidente da Associação da Indústria da Moda dos EUA, organização que representa as marcas americanas, diz que os exportadores têxteis dos EUA não terão volumes suficientes para suprir as necessidades do Vietnã, o que forçará os fabricantes de roupas vietnamitas a continuar dependendo dos tecidos chineses. “O Vietnã não vai conseguir muitas isenções de impostos” nos EUA sob as regras atuais, diz Hugues.

A indústria americana de vestuário argumenta que o livre comércio ajudará o setor, que emprega três milhões de pessoas, incluindo designers e empregados do varejo. No Congresso, contudo, o debate sobre o risco ou não que o livre comércio apresenta para o emprego fabril nos EUA tornou o acordo do Pacífico uma questão controversa.

O Vietnã tem seus próprios planos. O país está trabalhando rapidamente para desenvolver uma indústria têxtil local, que poderá ajudá-lo a se livrar das restrições. “O Vietnã está procurando reduzir sua dependência das importações da China para a indústria de vestuário para se beneficiar mais da Transpacífico”, diz Phan Chi Dung, uma autoridade do Ministério da Indústria e Comércio do Vietnã. Ele vê, porém, pouca chance de os produtores dos EUA atenderem a demanda vietnamita.

Empresas de Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan investiram recentemente centenas de milhões de dólares em fábricas de tecido no Vietnã, na esperança de obter isenções de impostos nas suas exportações para os EUA no futuro.

A TAL Apparel Ltd., de Hong Kong, que afirma produzir uma em cada seis camisas de botão vendidas nos EUA, está construindo uma fábrica de tecido de US$ 240 milhões no Vietnã para abastecer as duas fábricas de roupas que tem no país. A nova fábrica deve ficar pronta em 2018.

Roger Lee, diretor-presidente da TAL Apparel, acredita que levará cinco anos para o setor têxtil do Vietnã se tornar autossuficiente. Segundo ele, os fornecedores de tecido dos EUA são muito caros e estão muito distantes da Ásia para serem competitivos.

As empresas chinesas também estão migrando suas fábricas para o Vietnã em meio ao aumento dos salários na China e em antecipação à criação da zona de comércio do Pacífico.

A Youngor Group, fabricante chinesa de roupas que opera uma fábrica no Vietnã, está procurando usar mais matérias-primas fabricadas no próprio país do que em suas fábricas na China de olho nas exportações livres de impostos para os EUA.

“Nosso grande concorrente se mudou para o Vietnã. Muitas firmas estão se mudando”, diz Yu Jian, vice-gerente geral das operações da Youngor no Vietnã.

Um relatório recente do Congresso americano ressaltou que, se o setor têxtil do Vietnã se expandir rápido o suficiente, ele poderá até competir com as exportações têxteis dos EUA para o México, o que também é parte das discussões comerciais ligadas ao acordo do Pacífico.

Sob pressão das marcas americanas, o tratado de comércio permitiria que o Vietnã continuasse a comprar tecidos e fios de uma lista de produtos que não são fabricados em quantidade suficiente dentro da zona comercial proposta.

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