EUA prometem megapacote de ajuda global contra fome

O governo dos EUA e instituições financeiras internacionais, que incluem o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, prometeram dezenas de bilhões de dólares em alimentos e fertilizantes para os países mais pobres, sob um plano de ação conjunta para aliviar a crescente crise mundial de alimentos provocada pela disparada dos preços.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, expressou ontem em Bonn, na Alemanha, na reunião dos ministros das Finanças do G7 (grupo das sete maiores economias ricas), sua crescente preocupação com a crise global.

“A guerra da Rússia contra a Ucrânia agravou o problema da segurança alimentar para a população de todo o mundo, especialmente nos países emergentes e em desenvolvimento”, disse ela. Yellen acrescentou que há um “risco muito real” de o aumento global dos preços dos alimentos e fertilizantes “resultar em mais pessoas passando fome, ampliando ainda mais as pressões sobre os preços e prejudicando a posição fiscal e externa dos governos”. 

Yellen também destacou que a alta dos preços de alimentos e energia representa um desafio para a economia global. “Certamente, as perspectivas econômicas globais são desafiadoras e incertas, e os preços mais altos de alimentos e energia estão tendo efeitos estagflacionários, ou seja, deprimir a produção e os gastos e aumentar a inflação em todo o mundo”, disse. Estagflação é um termo usado para descrever uma economia marcada por uma combinação de baixo crescimento e preços elevados. 

A inflação dos alimentos aumentou em todo o mundo desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro. O impacto da alta de preços e das decisões de vários governos de proibir as exportações de alimentos desde o início da guerra trouxe de volta as lembranças da crise alimentar de 2007-2008, que atingiu desproporcionalmente os países mais pobres. O aumento da fome e da insatisfação social durante aquela crise levou a tumultos em mais de 40 países ao redor do mundo. 

O Departamento do Tesouro dos EUA convocou no mês passado uma reunião com instituições multilaterais para discutir medidas para enfrentar o aumento da insegurança alimentar. De sua parte, os EUA alocaram recursos para a nova assistência global de emergência alimentar, elevando o total desde fevereiro para quase US$ 2,6 bilhões. Washington também está tentando amenizar a escassez mundial de fertilizantes aumentando a produção interna de nutrientes agrícolas por meio de um programa de US$ 500 milhões do Departamento da Agricultura. 

Entre as organizações multilaterais, o Asian Development Bank, o banco de desenvolvimento da Ásia, apoiará os esforços para ampliar a segurança alimentar no Afeganistão e no Sri Lanka, juntamente com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e o Programa Alimentar Mundial. O banco asiático também está explorando opções de financiamento do comércio e empréstimos ao setor privado para apoiar a importação de alimentos. 

O African Development Bank, banco de desenvolvimento da África, usará US$ 1,5 bilhão para ajudar 20 milhões de agricultores africanos a obter acesso a fertilizantes e sementes por meio de atacadistas e fornecedores agrícolas, enquanto o Banco Mundial disponibilizará US$ 30 bilhões nos próximos 15 meses. O pacote do banco compreenderá US$ 12 bilhões para novos projetos e cerca de US$ 18 bilhões na carteira existente de projetos ligados à segurança alimentar e nutricional. 

O FMI, por seu lado, se comprometeu a fornecer assessoria na elaboração de políticas, assistência ao desenvolvimento técnico e apoio financeiro seja por meio de programas ou por financiamentos emergenciais. Segundo o Fundo, uma das áreas de atenção será a ajuda aos países em seus esforços para melhorar rapidamente as redes de assistência social para proteger famílias vulneráveis da ameaça iminente de fome. “A história mostra que a fome sempre desencadeia agitação social e violência”, disse a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva. 

Porém, um especialista internacional em políticas de alimentos alertou que o intervalo de tempo entre a implementação dessas políticas e o momento em que elas começam a dar frutos, poderá causar volatilidade nos mercados de commodities. As medidas poderão entrar em vigor quando o setor privado já tiver reagido e a produção de alimentos, aumentado, alertou ele. “Se isso acontecer, essas medidas intensificariam uma possível queda nos preços agrícolas, como em 1974 e 2008”. (Com Dow Jones Newswires) 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/05/19/yellen-promete-megapacote-de-ajuda-global-contra-fome.ghtml

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