As economias dos EUA e da China perderam força em abril, antes da nova rodada de tarifas comerciais. Os dados mais fracos de vendas no varejo e de produção industrial nos dois países, divulgados ontem, apontam desaceleração das duas maiores economias do mundo neste segundo trimestre.
Nos EUA, as vendas no varejo caíram 0,2% em abril, em relação a março, refletindo o consumo menor de eletrônicos, equipamentos para casa, veículos, autopeças e compras on-line, informou o Departamento de Comércio. Já o Federal Reserve (Fed, o BC americano) apontou queda de 0,5% na produção industrial em abril ante março. Foi o terceiro resultado negativo em quatro meses.
Outra medida acompanhada de perto por economistas, a demanda de frete nos EUA também gerou preocupações. O índice de frete Cass para embarques caiu 3,2% em abril, no quinto mês seguido de variação negativa. A Cass Information Systems disse que o dado indica “risco significativo e crescente para as perspectivas econômicas”.
Esses dados sugerem que a economia dos EUA perdeu força após uma expansão excepcionalmente forte, de 3,2% (taxa anualizada), no primeiro trimestre. Uma medida de PIB em tempo real, o GDPNow, do Fed de Atlanta, passou a projetar um crescimento de apenas 1,1% no atual trimestre. Até a rodade de indicadores de ontem, dava 1,6%.
Consultorias estão revendo para baixo suas previsões para o PIB dos EUA neste trimestre. A Macroeconomic Advisers baixou de 2,1% para 2%. A Oxford Economics reduziu sua projeção de 1,7% para 1,6%.
Na China, as vendas no varejo cresceram 7,2% em abril em releção ao mesmo mês do ano passado, segundo o Departamento Nacional de Estatísticas. Este é o ritmo mais fraco desde 2003 e reflete a desaceleração nas vendas de bens de consumo em geral. Em março, as vendas haviam crescido 8,7%.
O crescimento da produção industrial chinesa desacelerou para 5,4% ao ano em abril, igualando resultado de novembro, taxa mais fraca desde a crise global de 2008.
Também a economia da China cresceu num ritmo forte no primeiro trimestre, de 6,4% em relação ao início de 2018. Mas esse desempenho foi atribuído principalmente aos estímulos do governo, incluindo afrouxamento nas condições de crédito. Por isso, os sinais de desaceleração da economia abrem caminho para mais medidas, como sugeriu uma porta-voz da agência de estatística chinesa, que disse que há amplo espaço para aumentar o apoio político.
A incerteza gerada pela escalada na disputa comercial com os EUA dá a Pequim ainda mais motivo para elevar o estímulo econômico. Ning Zhang, economista do UBS, espera medidas de apoio, a começar pelo setor de infraestrutura e ajuda a pequenos exportadores. O UBS prevê desaceleração do PIB chinês para 6,2% neste trimestre.
Mas Qu Hongbin, economista chefe do HSBC na China, diz que os gastos no varejo podem continuar a decepcionar, já que Pequim não tem instrumentos para elevar as vendas. “Você não pode forçar o consumidor a gastar mais”, disse.
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