Algumas das maiores petrolíferas que exploram formações de xisto nos Estados Unidos estão começando a reduzir a produção de petróleo e gás natural pela primeira vez em muitos anos, curvando-se à realidade de que um excedente global continuará mantendo os preços baixos.
Os cortes de produção, anunciados em meio à divulgação de resultados raquíticos por petrolíferas de xisto nos últimos dias, contrastam significativamente com o ano passado, quando muitas empresas americanas de petróleo mantiveram as torneiras abertas enquanto os preços caíam de cerca de US$ 100 por barril para US$ 30. O petróleo americano responde por 10% das necessidades diárias do mundo, o que coloca a produção dos EUA no mesmo nível da oferta da Rússia e da Arábia Saudita, como mostrou artigo do The Wall Street Journal , assinado por Erin Ailworth, publicado no Valor de 2/03.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo continua extraindo o produto a todo vapor, pressionando ainda mais as empresas de xisto dos EUA, cujo custo de exploração é maior.
Na semana passada, durante uma conferência de óleo e gás em Houston, o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, disse friamente, numa sala cheia de executivos do setor, que o problema do excesso de oferta só será resolvido quando os preços baixos forçarem as empresas de maior custo a parar de produzir.
Assim, depois de anos de expansão nos Estados americanos de Oklahoma, Texas e Dakota do Norte, empresas como a Continental Resources Inc., Devon Energy Corp. e Marathon Oil Corp. agora afirmam que planejam reduzir em até 10% a exploração de petróleo e gás em 2016 em relação ao ano passado. A EOG Resources Inc. uniu-se ao grupo na sexta-feira, informando aos investidores que cortou sua produção e espera extrair 5% menos petróleo neste ano.
Um problema para reduzir a produção nos EUA é que os exploradores de xisto do país se tornaram mais eficientes, abrindo poços mais rapidamente a custos menores e extraindo mais petróleo de cada um. Já outras empresas têm sido forçadas a manter a produção somente para gerar receita para pagar dívidas.
A EOG, que perdeu dinheiro no ano passado pela primeira vez, é considerada por muitos analistas a operadora de xisto mais eficiente dos EUA. O diretor-presidente, Bill Thomas, disse que a empresa iria apenas explorar poços com alta taxa de retorno – pelo menos 30% – quando o petróleo nos EUA estiver em US$ 40 por barril.
Uma maneira de reduzir a produção é adiar o início da operação de poços já perfurados. Essa tendência está criando um grande estoque de poços de petróleo e gás prontos para entrar em produção quando os preços finalmente se recuperarem.
Tanto a Continental como sua rival Whiting Petroleum Corp. afirmam que neste ano não irão extrair muito petróleo de novos poços na formação de xisto de Bakken, em Dakota do Norte. A Continental ainda planeja alguns poucos novos poços, mas não vai produzir petróleo de muitos deles neste ano. A empresa espera ter uma reserva de 195 poços perfurados, mas não completados, em Dakota do Norte neste ano. Da mesma forma, a Whiting afirma que terá 73 poços também não explorados até o fim do ano.
“Não queremos produzir mais nada nesse cenário até vermos uma recuperação acontecer”, disse o diretor- presidente da Continental, Harold Hamm, a analistas e investidores em teleconferência na semana passada.
A Whiting, que já foi a maior produtora de petróleo de Dakota do Norte, perdeu US$ 2,2 bilhões em 2015 devido a uma baixa contábil parcial no valor de um campo no Texas. A empresa, que teve receita de US$ 2 bilhões em 2015, cortou seu orçamento deste ano em 80%.
Nas últimas semanas, mais de 30 empresas de petróleo cortaram seus orçamentos, juntas, numa média em torno de 50%, reduzindo seus gastos no ano em cerca de US$ 36 bilhões quando comparados com 2015.
“Elas estão sendo forçadas a cortar”, diz David Tameron, analista de petróleo da corretora Wells Fargo Securities. “Quando você corta os gastos, naturalmente a produção cai.” A consultoria IHS, que realizou a conferência de petróleo em Houston, prevê que a produção de petróleo dos EUA pode cair de 9 milhões de barris diários para 8,3 milhões ainda em 2016. Se essa queda se materializar, ela poderá impulsionar os preços do petróleo de volta para a faixa de US$ 40 o barril, afirma a IHS.
Um risco, contudo, é que algumas petrolíferas sejam tentadas a abrir as torneiras quando os preços começarem a subir, uma medida que pode derrubar as cotações novamente. Isso aconteceu no ano passado, quando os preços voltaram para US$ 60 por barril e incentivaram os produtores a abrir novos poços.
Se isso acontecer, os preços podem ficar abaixo dos níveis atuais, diz Jamie Webster, diretor sênior de mercados de petróleo da IHS.
“Não me surpreenderia se [o preço] caísse para um único dígito”, diz Webster, referindo-se à possibilidade de os preços recuarem para abaixo de US$ 10 por barril se as petrolíferas dos EUA decidirem perfurar mais.
Algumas empresas, especialmente aquelas que se protegeram contra a queda dos preços, estão resistindo à tendência. A Pioneer Natural Resources Co., que perfura poços no Texas, planeja elevar a produção em pelo menos 10% neste ano graças, em parte, a contratos de hedge que garantem preços acima do mercado para grande parte do petróleo produzido.
Jim Teague, que opera a Enterprise Products Partners LP, uma das maiores empresas de oleodutos dos EUA, diz que não pode prever quanto tempo os preços baixos do petróleo vão durar.
“Não tenho ideia de qual será o preço mínimo que o petróleo vai atingir, quanto tempo vai ficar lá ou se as coisas vão voltar à normalidade” quando tudo se estabilizar, diz ele. “As pessoas chamam isso de ciclo. Eu chamo de inferno.”