EUA aumentam taxa de juros pela 1ª vez desde 2006

O Federal Reserve (banco central americano) anunciou nesta quarta (16) o aumento dos juros no país em 0,25 ponto percentual. É a primeira elevação desde junho de 2006.

Com o aumento, a taxa básica de juros, que serve de referência para a remuneração dos títulos públicos americanos e estava entre zero e 0,25%, passa para 0,25% a 0,50%.A decisão foi tomada por unanimidade pelos membros do comitê de política monetária do Fed, em sua última reunião do ano e já era esperada pela maioria dos analistas de mercado, devido aos sinais de recuperação da economia americana nos últimos meses, como mostrou matéria da Folha de São Paulo de 17/12.

“O comitê julga que houve melhora considerável nas condições do mercado de trabalho neste ano e está razoavelmente confiante de que a inflação subirá, no médio prazo, à meta de 2%”, explicou o Fed no comunicado em que anunciou o aumento de juros.

Em comunicado, o Fed indica que os ajustes da política monetária serão “graduais”. “Como um todo, levando em conta desdobramentos domésticos e internacionais, o comitê vê os riscos para a atividade econômica e para o mercado de trabalho como equilibrados”, diz.

De acordo com economistas consultados pela Folha, a decisão não deve causar altas expressivas no dólar ou turbulências na Bolsa e nas taxas de títulos públicos brasileiros.

A expectativa em torno do aumento de juros nos EUA vinha causando ansiedade nos mercados a cada reunião do Fed nos últimos meses, sobretudo em mercados emergentes como o Brasil. A preocupação é de que, com a melhor remuneração criada após o aumento dos juros, os títulos americanos atrairão recursos aplicados nos países emergentes, de maior risco, pressionando a alta do dólar.

Dados recentes reforçaram a confiança dos membros do Fed para começar a aumentar os juros.
Entre eles, a criação de 211 mil postos de trabalho em novembro e a manutenção da taxa de desemprego em 5%, próxima da média histórica de 4,5% anterior à crise financeira de 2008. Outro dado positivo foi o índice de inflação, que manteve-se inalterada. Em novembro, o índice de preços ao consumidor, que exclui alimentos e energia, teve alta de 0,2% pelo terceiro mês consecutivo.

Para Angel Ubide, pesquisador do Instituto Peterson de Ecomomia Internacional, o mercado já absorveu nos preços de ativos possíveis fugas de recursos para os Estados Unidos e a instabilidade de economias emergentes como a brasileira.

“O problema do Brasil é interno, não foi criado pela economia americana ou pelo Fed”, afirmou Ubide, expressando opinião semelhante à de grande parte dos analistas.

Os juros nos EUA estavam próximos de zero desde dezembro de 2008, quando a crise financeira culminou na falência do banco Lehman Brothers, instalando o pânico nos mercados e mergulhando a economia americana à pior recessão desde a década de 1930. O Fed então cortou a taxa de juros ao mínimo histórico, entre zero e 0,25%, num esforço para impulsionar a recuperação do país.

Com a economia americana mostrando sinais de retomada, especialistas alertavam nos últimos meses para o risco de esperar demais para um aumento de juros, entre eles a criação de uma bolha de ativos financeiros, devido ao excesso de liquidez no mercado.

Outro problema foi lembrado pela própria presidente do Fed, Janet Yellen, em discurso há duas semanas. Manter a taxa de juros perto de zero por um longo período, disse, talvez acabasse forçando o Fed a a apertar a política monetária “abruptamente”. “Isso poderia perturbar mercados financeiros e até levar a economia, inadvertidamente, à recessão”, afirmou.

Em meio à expectativa dos últimos meses, muitos economistas apontaram que o ritmo do aumento dos juros será tão ou mais importante que o momento da decisão.

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