O Senado dos EUA aprovou um projeto de lei que cria uma agência com US$ 60 bilhões para investir em países em desenvolvimento como uma forma de se contrapor à crescente influência global da China.
Numa rara demonstração de espírito bipartidário, o Senado aprovou ontem, por 93 votos a 6, a Lei de Melhor Uso de Investimentos para o Desenvolvimento (Build, na sigla em inglês).
A proposta, que foi incluída em um projeto de lei que mantém em vigor a Administração Federal de Aviação, pode chegar à mesa do presidente Donald Trump amanhã, segundo fontes bem informadas sobre seu progresso. A Casa Branca já indicou que Trump vai sancioná-lo, como mostrou artigo do Financial Times assinado por David Pilling e James Politi.
A Lei Build foi apresentada como sendo vital para se contrapor ao que tem sido descrito como a “diplomacia da armadilha da dívida” da China – enganar países em desenvolvimento ao enchê-los de empréstimos impagáveis.
Até um ano atrás, a Corporação Americana de Investimento Privado no Exterior (Opic, na sigla em inglês), que faz empréstimos a empresas nos países em desenvolvimento, estava sob risco de ser desmantelada. Embora ela faça investimentos e tenha lucro, o governo Trump a via como uma entidade que concede ajuda e o que muitos republicanos descreviam como “assistência corporativa”.
Aubrey Hbruy, cofundadora da Africa Expert Network, disse que Ray Washburne, presidente e executivo-chefe da Opic, mudou essa visão ao convencer os congressistas de que a organização era uma ferramenta essencial para a diplomacia comercial americana.
“Este governo é muito dirigido pela visão de que os EUA precisam ser mais competitivos vis-à-vis a China”, disse ela. “Isto é algo sobre o qual aqueles de nós em Washington que se preocupam com mercados emergentes, empresas e competitividade americana estamos trabalhando há anos.”
Para Washburne, “isso é uma sacudida poderosa”. Em Cartagena (Colômbia), de onde acompanhou a votação do Senado por seu celular, ele disse que uma Opic reforçada oferecia “uma alternativa financeiramente segura às iniciativas do governo chinês que deixaram muitos países em desenvolvimento profundamente endividados”. Isso aumentaria o “soft power” dos EUA e ajudaria a levar empregos e estabilidade para países que, de outra forma, poderiam se tornar um perigo para a segurança nacional americana.
Pequim tem rejeitado veemente as acusações de que usa dívidas para ganhar dependentes políticos, argumentando que tem concedido empréstimos a países em desenvolvimento dentro do espírito de cooperação e de promoção do comércio. A China já financiou dezenas de bilhões de dólares em infraestrutura na Ásia, África e América Latina.
Senadores republicanos já acusaram Pequim de assumir o controle do porto de Hambantota, no Sri Lanka, quando o governo local não conseguiu quitar suas dívidas.
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A Opic agora será incorporada a uma nova agência, chamada de Corporação de Financiamento ao Desenvolvimento Internacional, que assumirá algumas das funções da USAID (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional). Pela primeira vez, ela poderá adquirir participações, o que, segundo seus defensores, lhe permitirá investir de forma mais efetiva e se igualar a agências equivalentes europeias.
“Isso não só assegura nossa existência – que não era certa um ano atrás – como nos dá condições de igualdade e dobra nosso tamanho”, disse Washburne.
O projeto de lei obteve apoio de ambos os partidos. “A Lei Build começará a nos afastar da concessão direta de assistência com resultados incertos para, em vez disso, ajudar países a se tornarem mais autossuficientes, ao mesmo tempo em que economizaremos milhões de dólares dos contribuintes”, disse o republicano Bob Corker, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Chris Coons, principal democrata na comissão, disse que estava “entusiasmado” com o fato de que o projeto está a caminho da sanção de Trump. “Este investimento nos permitirá reduzir a pobreza em áreas que são críticas para nossa segurança nacional, competir com a influência chinesa nos países em desenvolvimento e ajudar as empresas americanas a crescer e prosperar.”
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