EUA ampliam lista de restrições à China

O governo de Donald Trump ampliou significativamente a lista de restrições que herdou da equipe anterior de Joe Biden, com o objetivo de limitar ainda mais a capacidade da China de desenvolver inteligência artificial (IA) e computação avançada, bem como tecnologias militares diretas como os mísseis hipersônicos.

O Gabinete de Indústria e Segurança (BIS, na sigla em inglês) do Departamento do Comércio dos EUA adicionou 80 organizações à lista de entidades por ações “contrárias à segurança nacional dos EUA e a política externa”.

As adições à lista incluem entidades do Paquistão, Emirados Árabes Unidos, África do Sul, Irã e até mesmo Taiwan, mas mais de 50 delas são da China e Hong Kong.

Em um anúncio feito em Washington, o BIS mencionou como principais objetivos, impedir que o Partido Comunista Chinês obtenha a capacidade de “adquirir e desenvolver capacidades de computação de alto desempenho e em nível ‘exascale’, além de tecnologias quânticas, para usos militares”.

A computação exasecala é a mais recente tecnologia de supercomputação que permite avanços no desenvolvimento da IA. Ela se refere a processamentos com velocidade de pelo menos 1 exaflop, um 1 quintilhão (10 elevado à potência de 18) de operações de ponto flutuante por segundo.

Outro objetivo é “impedir a China de desenvolver seu programa de armas hipersônicas”, basicamente armas que viajam a cinco vezes a velocidade do som, ou mais rápido, e possuem mais capacidade de manobras para escapar das defesas. China condena adições

Nesta quarta-feira (26), a China condenou as adições à lista de exclusão, com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Guo Jiakun acusando os EUA de “comportamento hegemônico típico que viola gravemente o direito internacional e as normas básicas que regem as relações internacionais, prejudica os direitos e interesses das empresas chinesas e mina a segurança e estabilidade das cadeiasglobais de abastecimento industrial”. Guo exigiu que Washington “pare de exagerar o conceito de segurança nacional” e “pare de politizar o comércio”, prometendo proteger os interesses corporativos chineses.

Entre as empresas acrescentadas à lista dos EUA, seis são unidades do Inspur Group, uma grande provedora chinesa de computação em nuvem e serviços de big data, que já havia sido incluída na lista há dois anos. As unidades foram incluídas devido às contribuições declaradas ao desenvolvimento de supercomputadores pelo grupo “para uso militar final, particularmente por meio da aquisição ou tentativa de aquisição de itens de origem norte-americana em apoio a projetos de supercomputadores para o governo e/ou autoridades chinesas”, disse o BIS.

Uma das seis unidades é a Inspur Taiwan. Outra, é a Inspur Software, cujas ações são negociadas na Bolsa de Valores de Hong Kong. A companhia não respondeu até agora a pedidos da Nikkei Asia para comentários. Suas ações encerraram esta quarta-feira (26) em baixa de 0,4%, a 15,68 yuans.

A Beijing Academy of Artificial Intelligence e a Beijing Innovation Wisdom Technology também foram incluídas recentemente na lista por supostamente utilizarem tecnologia americana para modernização militar. O governo americano destacou que ambas desenvolveram modelos de IA e chips de computadores avançados com finalidades de defesa.

Quatro outras empresas — Henan Dingxin Information Industry, Nettrix Information Industry, Suma Technology e Suma-USI Electronics — foram acrescentadas à lista pelo que as autoridades comerciais americanas descreveram como envolvimento no desenvolvimento de supercomputadores exaescala, “que são capazes de processar quantidades enormes de dados em velocidades muito altas e realizar simulações em grande escala”.Essas companhias aparentemente forneceram capacidades de fabricação significativas para a Sugon, uma fabricante chinesa de servidores também conhecida como Dawning Information Industry, listada na Bolsa de Xangai, que entrou para a lista de exclusão em 2019 por “construir supercomputadores usados para finalidades militares e apoiar os esforços desestabilizadores de modernização militar da China”.

A Dawning, cujas ações também caíram 0,3%, para 65,33 yuans, nesta quarta-feira (26) em Xangai, não respondeu a um pedido da Nikkei Asia para comentar a decisão do governo Trump. A companhia admitiu na seção de fatores de risco de seu último relatório anual, divulgado em 5 de março, que sua inclusão na lista de entidades e as sanções atualizadas em novembro de 2022 tiveram “uma certa influência na aquisição de componentes avançados no exterior”. Enquanto isso, a empresa vem “aprofundando a colaboração com fornecedores locais há anos” para lidar com a situação e fornecer produtos ao mercado.

Mais de duas dezenas de entidades, como a Universidade de Engenharia da Força Aérea e o Instituto de Pesquisas em Rádio Eletrônica Aeronáutica da China, foram acrescentadas recentemente à lista por terem “vínculos comprovados” com o desenvolvimento de armas hipersônicas, a modelagem e o design de veículos em voo hipersônico, o uso de softwares próprios na simulação de armas e seus efeitos, ou por apoiarem de alguma forma os “esforços de integração militar-civil da China”.

Sete dos novos integrantes de lista teriam tentado adquirir tecnologia americana para “avançar no desenvolvimento das capacidades tecnológicas quânticas da China, enquanto outros dois foram acrescentados por vender produtos para empresas que já estão na lista de exclusão, como a Huawei e a HiSilicon, uma fabricante chinesa de chips que não possui fábrica própria.

“A tecnologia americana nunca deve ser usada contra o povo americano”, disse em uma declaração Jeffrey I. Kessler, subsecretário de Indústria e Segurança do Departamento do Comércio. Ele afirmouque o governo Trump está “enviando uma mensagem clara e firme” para proteger a segurança nacional “impedindo que tecnologias e produtos dos EUA sejam usados indevidamente para computação de alto desempenho, mísseis hipersônicos, treinamento de aeronaves militares e veículos aéreos não tripulados que representem uma ameaça à nossa segurança”.

O Departamento do Comércio também colocou na lista a Test Flying Academy da África do Sul (TFASA) para impedir o uso de “itens dos EUA no treinamento de forças militares chinesas”.

Além da China, a lista ampliada também tem como objetivo “interromper a aquisição de veículos aéreos não tripulados pelo Irã, além de itens de defesa relacionados” e “prejudicar o desenvolvimento de atividades nucleares não protegidas e do programa de mísseis balísticos” do Paquistão, parcialmente auxiliado por uma companhia chinesa.

Kessler acrescentou que a Lista de Entidades é “uma das muitas ferramentas poderosas à nossa disposição para identificar e eliminar adversários estrangeiros que tentam explorar a tecnologia americana para fins malignos”.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/03/26/trump-amplia-significativamente-controles-de-exportacao-de-tecnologia-para-a-china.ghtml

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