Quando Sundar Pichai entrou no Google Inc., em 2004, ele parecia um candidato improvável a diretor-presidente: um engenheiro do setor de semicondutores com um MBA contratado para cuidar do Google Toolbar, o software que permite que os internautas utilizem rapidamente a ferramenta de busca do Google em outros navegadores.
Mas quando Pichai foi indicado ao cargo máximo da gigante americana de tecnologia na segunda-feira, seu nome parecia a única escolha lógica: um protegido do fundador e atual diretor-presidente Larry Page que vem sendo preparado para a posição com responsabilidades cada vez maiores nos últimos anos.
E quando Pichai assumir seu novo papel no fim deste ano, ele vai supervisionar quase todos os US$ 66 bilhões de receita anual da empresa — que em breve passará a ser chamada de Alphabet Inc. —, incluindo a principal plataforma de anúncios on-line do planeta, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Rolfe Winkler, publicada no Valor Econômico de 13/08, pg B11.
Isso permitirá que Page e Sergey Brin, também fundador do Google, dediquem mais tempo às várias empresas e tecnologias que estão surgindo dentro do próprio Google, dos dispositivos de casas inteligentes da Nest aos carros que dispensam motoristas, robôs e pesquisas de ponta sobre o prolongamento da vida humana.
Diferententemente de outros executivos do Google, Pichai é um homem reservado, que não é visto dirigindo carros esportivos de luxo ou saltando de paraquedas como muitos de seus pares.
“Humilde”, diz Keval Desai, ex- colega do Google. “Ele é muito inteligente, muito obstinado e muito discreto.”
A ascensão de Pichai reflete sua capacidade de criar produtos fortes, como o navegador Chrome do Google, e mais tarde o sistema operacional de mesmo nome. Mas também reflete sua capacidade de identificar pressões competitivas, gerenciar equipes e amenizar diferenças, tanto internas quanto com parceiros comerciais do Google.
“Sundar tem uma capacidade tremenda de ver o que está adiante e mobilizar equipes em torno de coisas superimportantes”, escreveu Page em um memorando de outubro de 2014, anunciando a promoção do engenheiro para líder da maioria das áreas de produtos do Google
Pichai, de 43 anos, construiu a reputação de poder identificar as questões que mais interessam a Page e de levar a ele assuntos importantes — ou garantir respaldo para que executivos de produtos possam manter seus projetos nos trilhos. “Sundar vem dizendo coisas que eu teria dito (e às vezes melhor!) já há algum tempo”, escreveu Page em um blog na segunda-feira, ao anunciar a transição.
Algumas das iniciativas recentes de Pichai tropeçaram. Um esforço para disseminar o sistema operacional Android em uma gama de novos dispositivos, como relógios inteligentes, os “smartwatches”, e smart TVs ainda não conquistou os consumidores. O mesmo ocorre com esforços para ampliar a adoção de smartphones de baixo custo que usam Android em países emergentes.
Em uma cultura às vezes conduzida a base de argumentos acalorados e egos inflados, Pichai é quase uma anomalia, um executivo de sucesso que não insiste em defender sua posição, mesmo quando há fortes argumentos a seu favor. Muitos dizem que ele é o tipo de pessoa que você gostaria de ter na sala onde as decisões são tomadas.
No início desta década, Pichai se viu num zona de conflito com Andy Rubin, criador do sistema operacional móvel Android. O grupo de Rubin criou seu próprio navegador, que preferia em vez do Chrome, desenvolvido pela equipe de Pichai. Em vez de partir pra guerra, Pichai esperou.
Em 2013, Page deu a Pichai a responsabilidade pelo Android, além do crescente portfólio que incluía o Chrome e Chrome OS. “Toda a discussão acabou” depois que Pichai assumiu o Android.
Junto com a maior parte da receita do Google, Pichai também herdará seus principais desafios. A expansão dos celulares ameaça o império de buscas e publicidade do Google porque os usuários dos telefones passam mais tempo em aplicativos e menos pesquisando. Isso favorece a rival Amazon.com Inc., que permite que os usuários comprem produtos com menos cliques. Ao mesmo tempo, oFacebook Inc. vem afirmando aos anunciantes que conhece seus usuários e que pode chegar a eles com mais precisão que o Google.
Ele também deve enfrentar acusações de reguladores europeus de que o Google favoreceu seus serviços de forma inapropriada em relação aos de seus rivais. A resposta do Google para as acusações deve ser apresentada na próxima semana. A União Europeia também investiga se o Google forçou os fabricantes dos dispositivos Android a usar seus serviços em detrimento de outros.
Pichai nasceu na Índia e se mudou para os Estados Unidos em 1993, para fazer mestrado de engenharia na Universidade de Stanford. Depois, fez MBA na Faculdade de Administração Wharton, na Universidade da Pensilvânia.
No Google, ele mostrou talento para defender projetos desafiadores, mas estrategicamente importantes, como o navegador Chrome, que hoje tem 45% do mercado global, segundo a firma de pesquisa Statcounter, ante 1% no início de 2009.
Pichai também se tornou a face pública da empresa, agindo como mestre de cerimônias da conferência anual de desenvolvedores do Google nos últimos três anos.
As mudanças dessa semana ampliam ainda mais o poder de Pichai, para além dos grupos dos principais produtos dos quais ele ficou responsável no ano passado, e deixam sob o seu comando executivos que antes se reportavam a Page, como a diretora-presidente do YouTube, Susan Wojcicki, o diretor jurídico do Google, Kent Walker, e o diretor de desenvolvimento corporativo, Don Harrison.