As emissões de CO2 da China caíram pela primeira vez desde o lockdown do ano passado. Este é o sinal mais recente de que o desaquecimento do setor imobiliário e os problemas causados pela falta de energia prejudicaram a demanda industrial na economia chinesa, a segunda maior do mundo.
A queda foi de cerca de 0,5% em três meses, até o fim de setembro, de acordo com dados publicados pelo serviço Carbon Brief, de pesquisa e notícias climáticas.
“Os motivos são as medidas restritivas aos empréstimos imobiliários desenfreados, que resultaram em uma acentuada redução da produção de aço e de cimento, e a disparada dos preços do carvão”, disse Lauri Myllyvirta, analista do grupo independente de pesquisa Centre for Research on Energy and Clean Air, sediado em Helsinque.
No entanto, Myllyvirta também crê que esta queda na emissão do país que mais polui no mundo “marca um ponto de inflexão e a antecipação do pico nas emissões da China” – anos antes da meta fixada por Pequim para reduzi-las, em 2030.
A redução no terceiro trimestre deste ano segue-se aos aumentos mais significativos em uma década no ano passado, quando as fábricas, a construção civil e a indústria pesada chinesa voltaram com força à atividade, aproveitando uma onda de gastos impulsionados por estímulos econômicos.
No início de 2020, o nível da atividade industrial chinesa chegou paulatinamente a zero, como reação à crise da covid-19, originada em Wuhan, o que fez com que as emissões despencassem.
O setor imobiliário, que, segundo estimativas, responde por 33% do total da atividade econômica, foi atingido por uma crise de liquidez. Um pequeno grupo de incorporadoras endividadas – entre as quais a Evergrande, com um passivo de US$ 300 bilhões – oscila à beira da falência, alimentando temores de risco sistêmico.
Pequim está afrouxando os controles sobre o crédito para deter o colapso do setor. Mas há poucos sinais de que essas medidas estejam alimentando uma recuperação sustentada em setores como de aço e cimento. E os dados da Carbon Brief também sugerem que as tendências de queda só vão se acentuar neste trimestre.
O comportamento das emissões também reflete o fato de, nos últimos meses, o consumo chinês de carvão ter caído em meio aos recordes nos preços da commodity e da escassez de suprimentos.
A falta de energia, que tolhe a atividade econômica, levou ao racionamento de eletricidade em regiões como as áreas industriais do nordeste e as faixas de produção de alta tecnologia do sul.
“O que se deve verificar atentamente é se esses setores que ainda registram forte demanda vão intensificar a produção para compensar o tempo perdido assim que aliviar o racionamento de energia elétrica”, disse Myllyvirta.
As emissões per capita do país representam cerca da metade das dos EUA. Mas a China é responsável por cerca de 30% dos gases-estufa mundiais. O plano de redução de emissões de Pequim é visto como decisivo para a vitória na luta contra a mudança climática.
Os dados são divulgados num momento em que se acaloram as discussões em torno do papel da China na reação à mudança climática. O presidente do país, Xi Jinping, fixou para 2060 a meta de obtenção de neutralidade em emissões de carbono. Os combustíveis fósseis respondem por 85% da cesta energética do país.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/11/26/emissoes-da-china-caem-com-freada-da-economia.ghtml