Em 2015, receita do cartel do petróleo será 60% menor

A conta ficou salgada. Os países-membros do cartel da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) deverão perder mais de US$ 400 bilhões de receita na venda de seu óleo neste ano, com a baixa no preço da commodity, pelas projeções do Royal Bank of Scotland (RBS).

A receita estimada é de apenas US$ 288 bilhões, numa queda recorde de 60% comparado à média anual de US$ 726 bilhões em anos recentes, pelos cálculos do banco, como mostrou material do Valor, assinada por Assis Moreira publciada na edição de 24/08 pg A9

O fluxo de petrodólares no sistema financeiro global impulsionou a liquidez, elevou preços de ativos e ajudou na prática a manter barato o custo do dinheiro em mercados desenvolvidos.
Países árabes não cessaram de fazer aquisições de palácios e até time de futebol, como o Paris Saint-Germain, na França, diante da prodigiosa renda do petróleo.

Agora, levando em conta que um quarto dos petrodólares é investido em renda fixa, o RBS calcula que haverá queda equivalente a US$ 100 bilhões na demanda por ativos em dólar.

Segundo certos analistas, os produtores de petróleo devem vender mais de US$ 200 bilhões de ativos em 2015, para cobrir o “gap” deixado entre menor receita e mais despesas fiscais.

A Arábia Saudita, maior produtor mundial, é um dos três países que mais sofreu queda de reservas internacionais neste ano, ao lado da China e do Japão, conforme o banco Société Générale (SG).

As reservas dos sauditas alcançavam US$ 679 bilhões em dezembro de 2014. Mas somente em fevereiro, elas declinaram US$ 20,2 bilhões, a maior queda em 15 anos.

A expectativa é de que, nas circunstâncias atuais, a Arábia Saudita terá receita de apenas US$ 53,3 bilhões com a exportação de petróleo. O governo preparou um orçamento prevendo déficit equivalente a 20% do PIB para este ano.

A Rússia, por sua vez, pode ter receita de US$ 39,5 bilhões. Como a expectativa é de que o preço do barril continuará declinando, a recessão russa vai se prolongar. Importações, investimentos e consumo já tiveram de se ajustar para baixo, no rastro da queda do preço do petróleo e do impacto das sanções internacionais. Mas esse ajuste tende a continuar.

A contração da economia russa agora é estimada em 4% em 2015, algo histórico e superando a baixa do PIB no Brasil. No fim do ano passado, as reservas internacionais da Rússia alcançavam US$ 313 bilhões. Em dólar, elas declinaram um terço desde agosto de 2011.

O preço do petróleo deve continuar baixo no futuro próximo, e continuar a cair, por causa do excesso de oferta global, do aumento de estoques, de mais exportações do Irã a partir do segundo semestre, da recusa de membros da Opep de cortar a produção para manter sua fatia de mercado, e da menor demanda de commodities pela China em plena desaceleração.

Para analistas do banco de investimento Natixis, o preço do barril do Brent pode ficar em torno de US$ 42 no quarto trimestre deste ano, com chance de voltar a US$ 50 no fim de 2016.

Com preço menor, a demanda aumentou, com transferência de renda para países consumidores. A demanda global pode fechar com alta de 1,6 milhão de barris-dia, na média em 2015.

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