Economia europeia decepciona, após resultado ‘bom demais’

“O primeiro trimestre para a economia da zona do euro foi muito parecido com a última temporada de ‘House of Cards'”, dizem economistas do ING, referindo-se à série política da Netflix. “A expectativa era muito alta, mas, conforme foi avançando, transformou-se em decepção”.
A desilusão está centrada nos números preliminares do PIB para o UE-19 (a zona do euro), divulgados ontem pela Eurostat. Bert Colijn, economista sênior do ING, aponta para a França como um dos elos mais frágeis: “Dados franceses do segundo trimestre indicam que o consumo pessoal e o crescimento do investimento privado esfriaram. As exportações brutas caíram, na França”, afirmou em nota. Isso pode indicar que o euro mais forte trará mais problemas para as empresas da zona do euro neste ano do que o inicialmente esperado, como mostrou matéria do Financial Times, publicado no Valor de 3/05
Com apenas 0,3% de crescimento do PIB (em relação ao trimestre anterior), a França decepcionou e é uma das mais fracas entre as grandes economias.
A Itália, que também cresceu apenas 0,3% e o desemprego segue teimosamente inalterado em 11%.
O mercado de trabalho em toda a zona do euro melhorou, e o desemprego caiu em relação ao mesmo período do ano passado.
Analistas esperavam que os números do primeiro trimestre de 2018 pudessem esclarecer os sinais confusos sobre o rumo da zona do euro neste ano, após um final de 2017 bem aquecido.
De acordo com Claus Vistesen, economista-chefe para a zona do euro na Pantheon Macroeconomics, os dados “confirmam nossa suspeita de que a dinâmica na segunda metade do ano [2017] era boa demais para ser verdade”. Ele acrescenta que a taxa anual de 2,5% “ainda está bastante sólida”.
Stephen Brown, economista para Europa na consultoria Capital Economics, afirmou que à parte fatores temporários – tempo frio atípico, trabalhadores em greve, gargalos de curto prazo e até mesmo um surto de gripe – “não há como negar que o crescimento subjacente diminuiu, pois o impulso proporcionado pelo comércio líquido no ano passado diminuiu”.
E acrescenta: “Dado o alto nível de confiança dos consumidores, suspeitamos que o crescimento do consumo aumentará no segundo trimestre e ajudará a empurrar o crescimento trimestral do PIB de volta para cerca de 0,5% ou 0,6%. Isso reforça nossa projeção de que o crescimento anual desacelerará apenas ligeiramente, neste ano, de 2,4% em 2017 para 2,3%”.
Na reunião da semana passada, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que o clima severo e as greves na França foram alguns dos principais fatores por trás da fraqueza dos dados econômicos recentes. Ele também disse que os temores de uma guerra comercial podem afetar a confiança.
Analistas do ING dizem que essa queda na confiança parece estar se traduzindo em crescimento mais fraco. “Mesmo que os dados da pesquisa inicial para o segundo trimestre tenham se estabilizado, não há muito que indique uma recuperação”, o que significa, para os “falcões monetários” [que defendem elevação dos juros], que “os dados realmente não oferecem muito de agradável antes da reunião do BCE em junho”.

http://www.valor.com.br/internacional/5498719/economia-europeia-decepciona-apos-resultado-bom-demais-no-fim-de-2017#

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