Drones ganham mais funções empresariais

Há um ano, Ulf Bogdawa, um alemão radicado no Brasil, ouviu um relato curioso de bombeiros durante uma conferência em Santa Catarina. Para ajudar a resgatar vítimas de afogamento, alguns deles haviam “confiscado” drones dos filhos e passado a usar os equipamentos em missões de salvamento. O problema? Depois de localizar as vítimas, os drones não podiam fazer mais nada para ajudá-las, enquanto o socorro não chegasse.
Com isso em mente, Bogdawa e seus sócios na SkyDrones, sediada em Porto Alegre, conceberam um drone salva-vidas. O equipamento carrega uma boia de apenas 200 gramas, que é atirada assim que a câmera encontra alguém se afogando. Já foram embarcados 22 aparelhos para a Alemanha, dois para os Estados Unidos e um para o Caribe. Há três semanas, os empresários se reuniram com executivos da Walt Disney. “Eles querem usar o produto em seus navios”, diz Bogdawa, como mostrou artigo do Valor de 14/05.
O exemplo da SkyDrones mostra o avanço recente dos veículos aéreos não tripulados em aplicações para empresas. Dados inéditos mostram que no ano passado o mercado de drones movimentou R$ 300 milhões no Brasil, com projeção de crescer 30% neste ano. Na conta está incluída toda a cadeia produtiva, como fabricantes, importadores, criadores de software e prestadores de serviços. Só nos últimos oito meses, o número de cadastros para operar drones na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aumentou 200%, sendo 34 mil pessoas físicas e 2 mil empresas. É difícil dizer qual é o número total de empresas existentes porque muitas não se cadastram na agência, mas a estimativa é que o mercado de drones já emprega diretamente 12 mil pessoas no país.
“É um mercado muito pulverizado, especialmente o de serviços. A maioria das empresas é pequena – com quatro, cinco, seis pessoas. Além disso, é recente, com dois ou três anos de vida”, diz Emerson Granemann, organizador da feira DroneShow, que compilou os dados e será aberta amanhã, em São Paulo. “Muitas pessoas compram um drone para o lazer, começam a ganhar algum dinheiro, e passam ser empreendedores.”
Os drones foram concebidos na década de 80, em Israel, para uso na guerra. Nos anos 2000 passaram por um “boom” na área militar e chegaram com força ao mercado civil no início desta década.
Há basicamente dois tipos de drone: os multirotores, semelhantes a pequenos helicópteros, e os de asa fixa, que lembram um avião. No primeiro caso, os aparelhos têm capacidade de voar durante meia hora. São muito usados para lazer por causa do preço – a partir de R$ 5 mil, em média – e para serviços de inspeção, que exigem que o aparelho fique um tempo parado no ar. Esse é mercado dominado pela chinesa DJI. Os de asa fixa podem voar por mais tempo, entre uma e duas horas, o que lhes permite cobrir grandes extensões.
De maneira geral, o negócio do drone não é o equipamento em si. Até porque, afirmam empresários, há um grande fluxo de contrabando vindo do Paraguai, cujos preços tornam difícil a competição nessa faixa. O modelo de remuneração das empresas baseia-se principalmente nos dispositivos adicionais, câmeras e softwares que fazem dos drones ferramentas úteis para missões específicas e, não raro, difíceis de executar. “O drone é uma plataforma para você desenvolver valor para as empresas”, diz Bogdawa, da SkyDrones. A empresa já criou sistemas que ajudam montadoras a encontrar carros nos pátios ou companhias petrolíferas a localizar equipamentos em grandes plataformas. Outra tecnologia é capaz de detectar ervas daninhas em plantações. A empresa compra drones prontos e os equipa com os recursos necessários. Entre os clientes estão grupos como Gerdau, Petrobras, Bayer e Monsanto.
A legislação brasileira sobre o uso de drones, que completa um ano neste mês, deu impulso aos negócios. A SkyDrones, fundada em 2008, chegou perto de fechar acordos com grandes companhias antes da regulamentação, mas os negócios eram barrados antes de ser concluídos, porque as regras de conformidade dessas empresas não permitiam fechar negócios devido à ausência de regras específicas. Agora, a SkyDrones já criou outra companhia, a SkyAgro, e prepara-se para lançar, nos próximos meses, a SkyTech, para inspeções industriais.
Pela regulamentação, qualquer pessoa que tenha um drone deve registrar o aparelho na Anac, embora muita gente não o faça, até por ignorar a existência da lei. A quantidade de drones registrados nos últimos oito meses foi de 38,4 mil aparelhos, sendo 35% para uso profissional e o restante para recreação.
Para drones que voam até 120 metros de altura e têm campo de visão máximo de 500 metros não se requer habilitação. Acima disso, é preciso habilitar-se como piloto no Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Funciona como tirar uma carteira de motorista. Atualmente existem 9,5 mil pilotos registrados no país, 90% mais que seis meses antes.
A Xmobots Robotic Systems criou um curso para habilitação de pilotos, aprovado pela Anac. “Habilitamos os dois primeiros pilotos, que serão professores dos novos alunos”, diz Giovani Amianti, presidente da empresa. A companhia foi fundada em 2007, mas começou a operar comercialmente em 2010. Esse intervalo foi dedicado ao desenvolvimento tecnológico. Fugindo à regra, a Xmobots tem uma fábrica onde produz seus próprios drones em São Carlos (SP), onde também fica a sede.
Drones profissionais têm preços a partir de R$ 80 mil e podem custar até 10 vezes mais, diz Amianti. O produto mais vendido da Xmobots sai por R$ 140 mil. Tudo é feito artesanalmente e desenhado sob medida para o cliente. No ano passado, foram vendidas 40 unidades, de diversos tamanhos e valores. Para este ano, a previsão é vender 70 aparelhos.
Um dos modelos é destinado a usinas de cana-de-açúcar. No plantio automatizado dessa cultura, tratores com GPS trazem a reboque as plantadeiras, um implemento agrícola que deposita as sementes no solo. Ocorre que o trator fica a uma certa distância da plantadeira, o que pode provocar imprecisão. Na época da colheita, outra máquina, a colheitadeira, faz o trabalho seguindo as linhas do trator, onde fica o GPS, e não da plantadeira. Em função disso, existe o risco de o equipamento passar por cima das plantas, destruindo suas raízes. “Como a cana é uma cultura cujo ciclo é de sete anos, imagine a perda de produtividade causada por essa falha a cada ano”, diz Amianti. O drone da Xmobots sobrevoa a área de plantio e “corrige” as linhas que serão percorridas pela colheitadeira. A margem de erro, afirma o empresário, é de 10 centímetros.
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