De olho no show, Obama e Romney pedem que americanos votem

Hoje os Estados Unidos vão às urnas. Como frase de efeito é perfeito. Como realidade é discutível: com sorte apenas 40% dos americanos não chegarão perto de uma cabine de votação. Pode ser mais do que isso. Neste ponto, começa a interpretação real da eleição norteamericana. É um show, especialmente para tentar tirar o americano de casa, porque o voto lá não é obrigatório. Este é o esforço maior dos dois candidatos, Obama e Romney. A maioria dos analistas reafirma: estão tecnicamente empatados e ganhará quem for mais eficiente neste “esforço” de último momento.
O presidente deverá convencer o americano mais sofrido a não perder a esperança e sair de casa. O desafiante republicano deve convencer o desconsolado americano conservador que vale a pena acreditar nele e ir até a urna. Neste processo de convencimento de última hora o furacão Sandy foi absolutamente “democrata”. Imobilizou nos três dias cruciais da eleição Romney porque as duas campanhas estavam suspensas em respeito á tragédia, mas… colocou o presidente Obama sozinho em todos os telejornais, aproximando-se dos que mais sofrem em todas as tragédias, os menos favorecidos.
Esse jogo de último momento atrapalha bastante os complexos modelos de projeção matemática desenvolvidos pelos cientistas políticos que sinalizavam empate técnico entre os dois candidatos. Nesse empate técnico, os números da economia contavam. E muito. Neste ponto aparece a lógica dos 7,8% de desemprego. Reza a máxima política americana que nenhum presidente foi reeleito depois da segunda Guerra com mais de 7% de desemprego, salvo o presidente Reagan em 1984. Obama desafia este calculo com outra lógica: em agosto de 2011 o desemprego estava em 9,1%. E recuou com sua política econômica 1,3%. Foi exatamente o que aconteceu com Reagan: o desemprego também despencou nos últimos 12 meses antes da eleição. O americano reelegeu Reagan na tendência e não no dado estatístico. Obama diz que acontecerá outra vez.
Há o componente expressamente político também. Ao longo de todo o mandato, Obama manteve índices de aprovação superiores a 45%. Desde agosto deste ano este índice ficou bem mais perto dos 50%. A um mês da eleição, 57% dos americanos continuavam achando Obama simpático, mesmo os que não votam nele. Foi mais ou menos este o índice de simpatia do presidente ao longo de todo o mandato. Romney, desde o início da candidatura, passou de 18% para 25% neste índice de simpatia.
Obama foi eleito em 2008 com 52,9% dos votos com duas tarefas básicas: reconciliar as profundas diferenças ideológicas que dividiam os EUA no governo Bush e, também, tirar o País de sua maior crise econômica desde a Grande Depressão. Obama lentamente construiu a imagem d e presidente de todos os americanos. Exatamente por esta razão preferiu não dar grande uso eleitoral à gafe de Romney de que não queria o voto dos 47% dos americanos que são “dependentes do governo e se acham vítimas do sistema”. O que menos Obama quer e aparecer na véspera da eleição como herói de um dos lados do muro econômico que divide americanos ricos e pobres.
Quanto a tirar o país da crise, Obama preferiu “mostrar serviço” no campo do possível, com aumento de empregos “apesar de tudo”. Romney preferiu vender a imagem de empresário bem sucedido, que sabe criar empregos. Cada um ao seu modo procurou vender esperança em tempos difíceis. O eleitor dirá em quem acreditou.

Comentários estão desabilitados para essa publicação