De olho na Amazon, Buffett vende ações do Walmart

O bilionário Warren Buffett parece ter desistido do Walmart. A gestora de investimento de Buffett, Berkshire Hathaway, reduziu consideravelmente a sua posição na empresa, ao menor patamar desde que passou a investir na companhia, 12 anos atrás. Após meados do ano passado, o investidor americano começou a dar sinais de que o fato de a maior varejista do mundo estar perdendo a batalha para a Amazon estaria tornando o ativo menos estratégico na sua carteira.
Ontem, a ação da Amazon fechou o pregão na Nasdaq em US$ 842,70 – segunda maior cotação desde a estreia na bolsa, em 1997. O papel do Walmart, após desvalorização em parte do dia, fechou estável (US$ 68,69), como mostrou matéria de Adriana Mattos no Valor de 16/02.
Segundo informou ontem a Berkshire Hathaway, da última posição de 13 milhões de ações da rede em setembro passado, equivalente a cerca de US$ 1 bilhão, o montante diminuiu para 1,4 milhão de papéis, ou US$ 97 milhões em dezembro passado. Uma redução de US$ 900 milhões em um trimestre. A gestora aumentou os investimentos especialmente em empresas aéreas e na Apple.
Para se ter uma ideia da rapidez do encolhimento do Walmart no portfólio, no fim de 2015, eram US$ 3,8 bilhões aplicados em papéis da varejista (56 milhões de ações). No fim do segundo trimestre de 2016, a soma havia caído para R$ 3 bilhões (40 milhões de ações). Em setembro, despencou para US$ 1 bilhão (13 milhões). Não se pode dizer, portanto, que o bilionário, amigo e parceiro de Jorge Paulo Lemann na Heinz, chocou o mercado com a última drástica redução. Mas ela chama atenção pelo que representa hoje.
Em 2014 o Walmart chegou a figurar entre os cinco maiores investimentos de Buffett, que via nas mil lojas da rede nos EUA o destino certo dos americanos afetados pela crise de 2008. O Walmart foi uma máquina de expansão de 2000 a 2010 – as vendas pularam de US$ 180 bilhões para US$ 420 bilhões. Mas após 2013, a curva desacelerou. E a Amazon, que vende pela internet tudo que o Walmart comercializa, não parou de crescer.
Em meados de 2016, quando os sinais de redução dos investimentos na cadeia pareciam claros, Buffett deu a entender que o Walmart deveria continuar sentindo o efeito da concorrente digital. Na última reunião anual de acionistas de sua gestora, em agosto, ele falou sobre a Amazon: “É uma força grande e já perturbou muita gente e vai perturbar mais”. Afirmou também que muitas empresas ainda não descobriram o caminho para seguir seus passos, nem mesmo para concorrer com ela.
Buffett nunca foi um grande fã de ações de tecnologia (com exceção da Apple) e não tem papéis da Amazon na carteira. Mas já admitiu que sua gestora foi um pouco “lenta” nos investimentos nessa área e com o papel da Amazon em valorização forte (subiu 119% desde 2014), analistas entendem que está caro investir agora.
O Walmart é uma operação de US$ 211 bilhões em valor de mercado para uma rede com US$ 482 bilhões em vendas anuais e margem operacional entre 5% a 6% no trimestre. Com a base de vendas já madura, cresce devagar, não mais
que 1,5% ao ano e tem rentabilidade pressionada por um ambiente altamente competitivo.
A Amazon tem quase o dobro do valor de mercado do Walmart (fechou ontem valendo US$ 402 bilhões). Suas vendas atingiram US$ 136 bilhões no ano passado, ou seja, pouco mais de um quarto do que o Walmart vende no mundo. Mas a Amazon – com margem menor – cresce, em média, 25% ao ano (em 2016 a alta foi de 27%). Nesse ritmo, num mercado em que escala é crucial, pode se aproximar da rede rival em alguns anos.
Ao se analisar estrategicamente os dois negócios, a Amazon está mais à frente em termos de aderência ao novo formato de varejo global do que a rede fundada por Sam Walton. Pelo seu “market place” (shopping virtual em que empresas hospedam suas lojas on-line) montou um negócio de custos baixos, mas forte investimento em logística. No site se acha de tudo, não necessariamente com menor preço do dia, mas com entregas que podem ocorrer em poucas horas.
O Walmart luta para se destacar no mundo virtual já há alguns anos (um dos passos mais acertados foi a compra da Jet.com, empresa que virou um pequeno centro de inovação digital nos EUA). Mas hoje ainda há um ‘gap’ em diversos sentidos entre as duas empresas. E isso se reflete no mercado – desde o fim de 2014, a ação do Walmart se desvalorizou 21%, enquanto a da Amazon subiu 119%, calculou o site “Business Insider”.

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