Dados já sugerem uma retomada mais forte da economia europeia

A economia da zona do euro começou a se recuperar da pandemia de covid-19, apontam indicadores de dados de alta frequência que mostram indícios preliminares de que no segundo trimestre a região registrará uma forte recuperação de sua recessão de dupla queda. 

Um aumento no número de anúncios de empregos, o crescimento nas viagens para locais de entretenimento e lazer e o aumento nas reservas para férias sugerem que a atividade econômica está em recuperação, apesar das restrições que continuam em vigor para controlar a propagação do vírus. 

“A recuperação já começou na zona do euro, com base em vários indicadores de alta frequência”, disse Angel Talavera, da consultoria da Oxford Economics. Sua expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro se expanda 1,5% nos três meses que se encerram em junho, na comparação trimestre a trimestre. 

A zona do euro caiu em uma recessão com dois períodos de retração no primeiro trimestre deste ano, e seu PIB se contraiu 0,6%. Em comparação, os EUA cresceram 1,6% no primeiro trimestre em relação aos três meses anteriores, e a China teve uma expansão de 0,6%. 

Bert Colijn, economista do banco ING, disse que embora a recuperação da zona do euro possa ter sido relativamente lenta até agora, “os sinais para os próximos meses são muito positivos”. A atividade está aumentando significativamente com as restrições começando a ser relaxadas, “o que mostra que o distanciamento social voluntário é muito menor agora, em comparação com a primeira onda do vírus”, afirmou ele. 

Dados alternativos têm sido acompanhados com atenção desde o início da pandemia, pois oferecem uma medida mais pontual da atividade, embora sejam menos abrangentes e confiáveis do que os dados oficiais. 

O número de ofertas de vagas de emprego tem crescido em todas as grandes economias da zona do euro, de acordo com dados do site de empregos Indeed. 

Enquanto isso, há indicações preliminares de que os consumidores estão mais dispostos a gastar. Dados do Google Mobility mostram que centros de varejo e entretenimento têm recebido mais visitantes. Na Alemanha, os gastos do consumidor na semana até 9 de maio ficaram apenas 3% abaixo de igual semana de 2019, segundo a Fable Data, que monitora transações bancárias. 

Ana Boata, da empresa de serviços financeiros Euler Hermes, disse que sua expectativa é de que os consumidores gastem parte das economias que acumularam durante os “lockdowns”. O efeito pode ser substancial: ela estima que um excesso de poupança equivalente a mais de 1,5% do PIB da zona do euro será gasto neste ano. 

Ela disse que “há sinais de um início de recuperação em maio” e se espera um “crescimento significativo para recuperar o atraso” em junho e julho, com os países se abrindo cada vez mais. 

Os casos de covid-19 têm caído na maioria dos países da zona do euro e as vacinações estão avançando, por isso as restrições devem ser suspensas em muitos lugares nas próximas semanas. 

O setor de turismo da Europa, duramente atingido pela pandemia, também dá sinais de melhora. Na semana até 15 de maio, as reservas nos sites Airbnb e Vrbo estavam apenas 4% abaixo de igual semana em 2019, de acordo com a AirdDNA, uma empresa de dados sobre locações de imóveis. 

Outra empresa de dados sobre locações, a Transparent, também aponta crescimento neste mês em uma medição mais abrangente, que inclui o site Booking.com. As visitas aos principais sites de turismo têm aumentado, segundo a SimilarWeb, uma empresa que monitora o tráfego na internet. 

Mesmo assim, ainda há um longo caminho para a recuperação: a ocupação nos hotéis para os próximos 90 dias está abaixo de 10% em muitos países da zona do euro, segundo a consultoria hoteleira STR. 

De modo geral, o rastreador econômico semanal da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) registrou aumentos recentes no desempenho econômico de vários países da zona do euro. 

A manufatura, que tem sustentado a economia da zona do euro nos últimos meses, continua resiliente, amparada pela crescente demanda mundial. No início de maio, o índice alemão de quilometragem de caminhões – um indicador da produção industrial – estava bem acima de seu nível anterior à pandemia. 

Os principais industriais da Europa estão bem mais confiantes sobre as perspectivas econômicas do que há seis meses, de acordo com pesquisa realizada com os CEOs de 60 empresas da Mesa Redonda Europeia para a Indústria. 

“Os executivos-chefes e presidentes europeus veem a luz no fim do túnel”, disse Martin Brudermüller, presidente da BASF e da comissão de competitividade da Mesa Redonda Europeia. 

No entanto, o desempenho para além do segundo trimestre ainda está em questão. Silvia Ardagna, economista para a Europa do Barclays, alertou para a grande incerteza sobre as novas mutações do coronavírus e para “uma grande desaceleração” no crescimento depois da fase de recuperação, quando os estímulos governamentais serão reduzidos. 

“Embora exista a promessa de uma recuperação rápida, não devemos subestimar os riscos…”, disse Brudermüller. “A pandemia da covid terá implicações complexas nas operações comerciais e no comportamento do consumidor no longo prazo.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/05/20/dados-ja-sugerem-uma-retomada-mais-forte-da-economia-europeia.ghtml

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