A negociação apenas perdeu sentido. Os países da zona do euro rejeitaram a proposta da Grécia de prorrogar a dívida que vence terça-feira (30) para a realização de uma consulta popular no país em 5 de julho.
O presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, disse que o governo grego “fechou as portas” ao propor uma consulta popular.
A proposta de votação popular, anunciada na sexta (26) à noite, foi aprovada na madrugada deste domingo (28) pelo Parlamento grego em sessão extraordinária, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, assinada por Leandro Colon, de 28/06.
A Grécia precisa evitar o calote de € 1,6 bilhão no FMI até terça. Para tanto, quer desbloquear o acesso a € 7,2 bilhões, última parcela do socorro de € 240 bilhões recebido do FMI e do BCE (Banco Central Europeu) desde 2010.
Os credores exigem compromissos fiscais, cortes de gastos e reforma profunda na Previdência. A Grécia fez uma proposta de ajuste de € 7,9 bilhões que não foi aceita.
Em discurso no Parlamento, o premiê Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, afirmou que querem forçar a Grécia a aceitar um acordo “humilhante”.
“A Grécia não vai se render”, disse. “Não é uma decisão de romper com a Europa, mas querem que assinemos um acordo de recessão e morte lenta”, afirmou.
O ex-premiê Antonis Samaras, do centro-direita Nova Democracia, disse que a consulta é um “suicídio”. Segundo ele, a população vai votar sem saber o que vai ocorrer se o resultado for contra um acordo com os credores.
Os chefes das 19 economias da zona do euro se encontraram sábado (27) em Bruxelas para avaliar pedido para prorrogar por um mês da dívida grega. Sem ser atendido, o ministro grego Yanis Varoufakis abandonou a reunião.
“A consulta proposta foi um avanço negativo, e a Grécia rompeu as negociações com isso”, disse Dijsselbloem.
Segundo ele, não há garantias de que o governo vai implementar o acordo mesmo que a população vote a favor.
“Eu acho que nós temos de nos dar a conta de que a situação da Grécia vai piorar muito rapidamente”, afirmou Dijsselbloem. “Eu não sei como o governo grego acha que vai sobreviver e lidar com esses problemas”, ressaltou.
Sem adiar a dívida, a Grécia caminha para o calote e pode ficar sem ajuda externa, aumentando as chances de ter de deixar a zona do euro.
O efeito imediato será conter a insolvência dos bancos locais. Jornais gregos relatam grandes filas nos caixas eletrônicos neste sábado, crescendo o fluxo de saques que superaram € 5 bilhões nas duas últimas semanas. Alguns bancos já estariam limitando retiradas.
Eleito em janeiro sob a bandeira contra medidas de austeridade, Tsipras vive o dilema de topar um acordo que contradiz seu discurso de campanha ou levar o país a um caminho cada vez mais distante da zona do euro.
O premiê faz uma aposta de risco político: se a população optar pela negociação, Tsipras vai, em tese, aceitar algo, segundo suas palavras, “humilhante” para a Grécia.
O governo grego rejeitou na sexta uma última oferta dos países da zona do euro de prorrogar por mais cinco meses a dívida em troca de receber uma ajuda de € 16,3 bilhões. O novo socorro dependeria, no entanto, de a Grécia concordar com as reformas.