A veiculação de notícias falsas na internet deve ser combatida pela imprensa com investimento em jornalismo de qualidade, com apuração e checagem aprofundada de informações. Também é preciso redobrar os esforços para educar os consumidores a detectar o que são fatos concretos e o que é pós-verdade.
Essas foram as principais conclusões do fórum “O Papel da Mídia Brasileira na Era da Pós-Verdade”, promovido ontem em São Paulo pela Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner). “É preciso estar cada vez mais presente [para os leitores]”, disse Fábio Gallo, presidente da associação, como mostrou matéria de Gustavo Brigatto, publicada no Valor de 5/04.
O acadêmico e jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, observou “houve uma industrialização da notícia falsa que faz com que ela se dissemine mais ainda”. Para ele, que prefere falar em pós-fato, em vez de pós-verdade, a perda de credibilidade da imprensa e de boa parte das instituições ao redor do mundo contribui para essa proliferação. Um risco subjacente a esse processo é a tentativa de criar leis que abram espaço para a censura. “Quem vai definir o que é notícia falsa?”, indagou.
Francisco Mendonça, subsecretário da secretaria de comunicação da Presidência da República (Secom), falou sobre a dificuldade de se discutir temas como as reformas trabalhista e da previdência em um mundo com opiniões tão polarizadas. “As paixões impedem o debate”, disse. Citando as dificuldades enfrentadas na campanha lançada pela Secom para explicar as propostas do governo, ele disse que a mentira tem uma “vantagem” sobre fatos. “Ninguém precisa se alongar para explicar. É muito mais simples, fica na mente. Números são chatos, duros”, disse.
Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA, que trouxe à tona a discussão sobre pós-verdade, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o jornalismo. “Isso mostrou como a mídia está de costas viradas para a população. Ela ignorou o branco pobre esquecido que o Trump percebeu”, disse. Esse sentimento de exclusão, presente também entre donos de blogs e outros integrantes da nova mídia é um outro combustível para a propagação de notícias falsas.
Na avaliação do jornalista Eugênio Bucci, o consumo de notícias ganhou, nos últimos anos, um perfil muito parecido com o do entretenimento. Assim, as pessoas acabam buscando apenas os conteúdos que elas gostam. Para Bucci, o papel principal da imprensa é facilitar o debate e a discussão, tornando as informações mais acessíveis. “Não digo que o passado [da imprensa] foi melhor. Mas o futuro, para se construir, é difícil.
Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) disse que um peça importante desse engrenagem seria uma mudança na postura e nas práticas de Facebook e Google, que deveriam colaborar de forma mais intensa com os veículos para divulgação de notícias verdadeiras. Paulo Tonet, presidente da associação das emissoras de rádio e TV, diz que o modelo de negócios das empresas de internet precisa ser mais transparente. “Se é meio de comunicação, que o digam”, disse.