Consumo cai e EUA podem ter recuperação mais lenta

Os americanos reduziram seus gastos em julho, após o aumento nos casos de covid- 19 ter afastado as pessoas das lojas. Isso pode indicar uma recuperação mais lenta da economia americana. 

As vendas varejistas tiveram queda de 1,1% em relação ao mês anterior, em termos ajustados sazonalmente, segundo informou ontem o Departamento do Comércio dos EUA, um declínio muito maior do que o previsto pelos analistas de Wall Street, de 0,3%. 

O enfraquecimento nos gastos de consumo – principal motor da economia americana – pressionou as ações ontem, ao levantar preocupações com relação a recuperação econômica. O índice S&P 500 fechou em baixa de 0,71%. 

O presidente do Fed de Mineápolis, Neel Kashkari, alertou ontem que a variante delta pode “levar a uma recuperação mais lenta” da economia americana “se as pessoas ficarem nervosas”. “Eu estava me sentindo muito otimista em junho e julho. Parecia que havia uma luz no fim do túnel e isso logo acabaria, e então surgiu a delta.” 

O dado do varejo trouxe os primeiros sinais de como a disseminação da variante delta da covid-19 pode ter mudado os hábitos de consumo dos americanos. No fim de julho, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) voltou a recomendar que mesmo pessoas vacinadas usassem máscaras em espaços públicos fechados. 

Segundo o relatório, a queda nas vendas atingiu 8 das 13 categorias pesquisadas. Houve queda nas vendas de lojas de vestuário, móveis e artigos esportivos. As vendas de revendedores de veículos e peças caíram 3,9% em julho, provavelmente em resposta a estoques limitados e preços mais altos, já que as montadoras enfrentam problemas de suprimentos. 

Nos restaurantes – única categoria de gastos com serviços no relatório de varejo – as vendas seguiram em alta, de 1,7%, mas mesmo essa taxa desacelerou. Os gastos com restaurantes podem diminuir nos próximos meses, dependendo da evolução da variante do delta. O gasto com cartão do Bank of America desacelerou no fim de julho, enquanto as reservas em restaurantes caíram, segundo dados da OpenTable. 

Economistas acreditam que os americanos estão transferindo parte dos gastos em bens para serviços, como férias e cortes de cabelos, que não estão incluídos no relatório de varejo. Além disso, a alta nos preços de quase tudo, de alimentos a lavadoras, pode ter levado a uma contenção nos gastos. 

Grandes varejistas divulgam seus balanços trimestrais nesta semana, o que trará mais informações sobre comportamento dos consumidores durante outro repique no número de casos da covid-19. Ontem, o Walmart elevou sua previsão de vendas para o ano, sinal de que espera ver a manutenção do ritmo de compras. 

Mas o relatório de varejo também mostrou que até as vendas on-line começaram a desacelerar-se, caindo 3,1% em relação ao mês anterior. As empresas registraram uma desaceleração nesse segmento depois do crescimento astronômico de 2020, quando as pessoas ficaram mais tempo em casa e compraram mais pela internet durante a pandemia. 

O Ebay, por exemplo, informou que seu número de compradores ativos caiu 2%, para 159 milhões, no trimestre passado. A UPS informou que teve queda no número de pacotes enviados nos EUA. E a Amazon, maior varejista on-line do mundo, divulgou crescimento de 13% nas vendas on-line em seu trimestre mais recente, a menor expansão trimestral em dois anos.

Na avaliação dos economistas, os números do relatório de varejo apontam para uma desaceleração no aumento de gastos do consumidor no terceiro trimestre. Eles estimam que os gastos vão crescer a um ritmo anualizado de 4,5% no atual trimestre, significativamente mais lento do que o estimado há um mês – uma forte desaceleração em relação à taxa de 11,8% observada no segundo trimestre. 

Economistas do Morgan Stanley disseram que o enfraquecimento nas vendas reduziu sua estimativa de crescimento econômico do terceiro trimestre de 6,9% para 6,5% – o mesmo do trimestre anterior. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/08/18/consumo-cai-e-eua-podem-ter-recuperacao-mais-lenta.ghtml

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