Confiar em estranhos, a base do sucesso do Airbnb

Brian Chesky, fundador e diretor-presidente da empresa americana de aluguel de acomodações Airbnb, tem arrepios só de pensar que a empresa pode ser fechada por autoridades municipais de cidades que vão de Nova York a Tel Aviv, que já acusaram o serviço de fornecer alojamentos ilegais para locação. “Eu acho que resolvemos isso”, diz ele.

Alguns observadores já compararam o Airbnb com o Napster, o site de compartilhamento de músicas que foi retirado do mercado por um tribunal federal americano, em 2001, sob a acusação de infringir a lei de direitos autorais. Chesky responde apontando sua participação num fórum de empreendedores em Cuba, durante a histórica visita do presidente americano Barack Obama, em março. “Certamente, nenhum presidente reconheceu uma empresa como a Napster em sua fase inicial”, diz ele.

Chesky, de 34 anos, viu sua empresa de capital fechado atingir uma receita de quase US$ 1 bilhão no ano passado, com uma avaliação estimada em US$ 25,5 bilhões. Ele teve a ideia de criar o Airbnb em 2007, quando trabalhava como designer industrial. Ele o amigo Joe Gebbia, com quem dividia um apartamento em San Francisco, não tinham como pagar o aluguel, então compraram três colchões de ar e os alugaram para participantes de uma conferência de design na cidade, da qual também participariam. O aluguel também incluía umas bolachas no café da manhã. Ele e Gebbia decidiram transformar a ideia em um negócio no qual todo mundo poderia oferecer seus quartos ou casas para que estranhos pudessem alugar. Assim, os dois criaram um site na internet em 2008, como mostrou materia do The Wall Street Journal, assinada por Alexandra Wolfe, publicada no Valor de 31/05

O sucesso da empresa revela que é possível confiar em estranhos.

Quando os dois tiveram dificuldades em encontrar investidores, eles tentaram financiar a empresa (naquele ano eleitoral) vendendo caixas de cereais de edição limitada com referências na embalagem aos dois candidatos de então, Barack Obama e John McCain, mas a ideia não teve bons resultados.

Ainda assim, o Airbnb conseguiu decolar, começando em grandes cidades e depois se espalhando para regiões de praia e de esqui. (A empresa ganha dinheiro cobrando uma tarifa de 3% dos anfitriões e entre 6% a 12% dos hóspedes em cada transação.) O site já realizou mais de 80 milhões de operações de aluguel e o número de acomodações oferecidas já superou os dois milhões em todo o mundo. Um relatório do Goldman Sachs estima que o Airbnb será responsável por 5,4% da oferta de quartos nos Estados Unidos este ano, acima dos 3,6% do ano passado.

Nos últimos meses, a empresa tem lutado com autoridades imobiliárias, sindicatos hoteleiros e legislação destinada a limitar suas ofertas em grandes mercados, como Nova York e San Francisco. Muitas cidades têm leis que restringem os aluguéis de curto prazo e, em uma delas, sindicatos de hotéis têm insistido que os governos locais exijam que os proprietários das casas ofertadas no Airbnb tenham licenças para alugar. Outras se preocupam com o risco de que as pessoas tirem seus apartamentos e lares do mercado imobiliário para torná-los essencialmente em hotéis.

Em resposta a essas críticas, Chesky argumenta que o Airbnb tem sido uma benção para as economias urbanas. “Se você ficar em um bairro local, é mais provável que você visite o café local, restaurantes locais e isso tem um impacto profundo nos pequenos negócios”, diz ele.

Chesky reconhece que seu modelo de negócio apresenta um conjunto complexo de questões para os governos. As leis para hotéis e imóveis para alugar “foram escritas no século XX, para empresas e homens de negócio”, diz ele. “O Airbnb permite que as pessoas atuem como empresas, então a linha divisória fica indefinida.”

A oferta do Airbnb que foi alugada o maior número de vezes é chamada de “domo do cogumelo”, uma pequena cabana na floresta do sul da Califórnia, por US$ 115 por noite. A oferta mais cara custa cerca de US$ 10 mil por noite. Ela inclui uma mansão no Vale do Loire, na França, e um iate de luxo de 34 metros.

Nascido no Estado de Nova York, filho de um casal de assistentes sociais, Chesky cresceu mais interessado em arte e desenho que em tecnologia. Ele frequentou a Faculdade de Design de Rhode Island, onde se formou em design industrial. Uma vez formado, ele se mudou para Los Angeles e, depois, San Francisco.

À medida que sua empresa cresce, Chesky continua testando seu produto. Em 2010, ele passou um ano morando todo mês numa propriedade diferente alugada pelo Airbnb em San Francisco. Em seu tempo livre, ele viaja com a namorada para vários países, onde se instala em imóveis alugados pela plataforma. Ele mora no mesmo apartamento de San Francisco que o ajudou a lançar a empresa há dez anos, agora com sua namorada em vez do amigo Joe Gebbia.

Ocasionalmente, ele ainda aluga um sofá em seu apartamento por US$ 50 por noite e gosta das conexões pessoais que isso o ajuda a construir. “Quando foi a última vez que você foi a um restaurante e ficou amigo do garçom ou do porteiro do hotel”, pergunta. “Isso seria meio louco.”

Claro que nem todo mundo se sente à vontade convidando estranhos para sua casa. Em 2014, um hóspede do Airbnb destruiu uma cobertura em Nova York, num caso que ficou famoso. Mas Chesky diz que problemas são raros. Ele observa que, quando começou a empresa, amigos e investidores acharam que ele era louco. Mas ele tem encontrado mais razões para ter fé nas pessoas do que o contrário.

“As pessoas dizem que você não pode confiar em pessoas estranhas, mas eu acho que nós provamos que isso não é verdade”, diz ele. “Acho que nós mostramos que as pessoas são fundamentalmente boas.”

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