Como garantir, de verdade, a competição entre as empresas? Essa preocupação deu o Prêmio Nobel a um economista francês, Jean Tirole. Na prática, a questão é um pouco diferente: o que empresas como Google, Apple e Microsoft têm em comum além do porte?
Resposta: estas são empresas com uma presença oligopolista, pouquíssima concorrência nos segmentos em que lideram e que usam esse poder de mercado sobre fornecedores, consumidores e concorrentes para avançar em ramos complementares de atuação, como mostrou material da Folha de 14/10.
O estudo dessas corporações –e os desafios para garantir a competição em seus mercados– rendeu o Prêmio Nobel de Economia de 2014 para o francês Jean Marcel Tirole, 61, professor de microeconomia da Universidade de Toulouse, fundador da teoria moderna da regulação e de política de competição.
Um exemplo de empresa com esse perfil é a Apple, que de fabricante de computadores pessoais passou a comercializar música e entretenimento por meio do iTunes e da Apple Store. O Google deixou de ser uma empresa de tecnologia, que gerencia o maior buscador da internet, para se tornar um dos maiores comercializadores de espaço publicitário do planeta mesmo sem produzir conteúdo como os jornais, revistas e TVs.
Muitos setores são dominados por um pequeno número de grandes empresas ou por um monopólio. Tais mercados podem produzir resultados sociais indesejáveis, como preços mais elevados influenciados por custos ou empresas improdutivas que sobrevivem ao longo do tempo porque há um bloqueio da entrada de novas e mais produtivas companhias, como lembrou o Estadão, de 14/10, pg B4.
A pesquisa de Tirole aponta como deve ser o acordo do governo com fusões ou cartéis e como este deve regular os monopólios.
Antes do pesquisador francês, outros formuladores de políticas procuraram por princípios gerais para todas as indústrias. Eles defenderam regras simples, como limitar os preços para os monopolistas e proibir a cooperação entre empresas concorrentes, mas permitir que houvesse essa cooperação entre empresas em diferentes posições na cadeia de valor. Tirole mostrou teoricamente que tais regras podem funcionar bem sob certas condições, mas têm mais efeitos negativos do que positivos em outras.
Estabelecer preços máximos pode fazer com que a empresa com poder de mercado reduza custos – uma coisa boa para a sociedade -, mas também pode permitir lucros excessivos. Segundo Tirole, a cooperação para fixar preços em um mercado geralmente é prejudicial, mas na área de patentes pode beneficiar a todos. Já a fusão de uma empresa com seu fornecedor pode incentivar a inovação, mas também distorcer a concorrência.