Comércio global contrai em ritmo mais rápido desde a pandemia

O volume do comércio mundial caiu em julho no maior ritmo anual em quase três anos, segundo números atentamente observados que sinalizam que os juros mais altos começam a impactar a demanda global por bens. 

Os volumes negociados caíram 3,2% em julho em comparação ao mesmo mês de 2022, a maior queda desde agosto de 2020. 

O número mais recente do relatório World Trade Monitor, publicado pelo CBP, ou Gabinete Holandês de Análise Econômica, segue-se a uma contração de 2,4% em junho e corrobora as evidências de que o crescimento global está desacelerando. 

Depois de crescer durante a pandemia, a demanda por exportações globais de bens se enfraqueceu em razão da inflação mais alta, dos aumentos das taxas de juros pelos bancos centrais mundiais em 2022, e do aumento das despesas com serviços internos à medida que as economias voltavam a se abrir após os “lockdowns” causados pela pandemia. 

A reviravolta nos volumes exportados foi generalizada, com a maior parte do mundo informando queda nos volumes comercializados em julho. A China, maior exportadora de bens do mundo, registrou uma queda anual de 1,5%, a zona do euro uma contração de 2,5% e os Estados Unidos de 0,6%. 

Os indicadores de sentimento sugerem que o comércio mundial seguirá fraco nos próximos meses. O índice dos gerentes de compras da S&P Global, que monitora novos pedidos de exportações, apontou para uma grande contração em agosto e setembro nos EUA, na zona do euro e no Reino Unido. 

Os economistas agora acreditam que os volumes de exportação da zona do euro permanecerão estagnados no ano, depois de preverem uma expansão de 2% no começo deste ano. 

Embora não haja a expectativa de um novo aumento das taxas de juros nos próximos meses, os bancos centrais não deverão reduzir os custos dos empréstimos enquanto não houver mais evidências de que as pressões sobre os preços foram contidas. 

Analistas acreditam que a falta de flexibilização do crédito continuará afetando as exportações. “Com o impacto defasado dos juros altos devendo pesar mais sobre a demanda por certos produtos, poderá levar vários meses até o comércio mundial atingir seu ponto mais baixo”, diz Ariane Curtis, economista global da consultoria Capital Economics. 

A demanda por importações de bens muitas vezes comprados com recursos financiados — como automóveis, mobiliário doméstico e bens de capital — será a que mais vai enfraquecer, afirma Curtis. 

Mohit Kumar, economista da firma de serviços financeiros Jeferries, diz que o comércio deverá seguir a tendência econômica mundial, para a qual prevê uma “desaceleração em todas as maiores economias nos próximos trimestres”. 

Juntamente com o crescimento mais fraco, as tensões geopolíticas também estão prejudicando o comércio. Em relatório mais recente sobre as perspectivas econômicas, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destacou como as restrições comerciais limitaram as exportações desde 2018. 

“A fragmentação geoeconômica e uma mudança para políticas comerciais mais voltadas para dentro reduzirão os ganhos do comércio global e afetarão padrões de vida, especialmente de países e famílias mais pobres”, alerta a OCDE. 

A CPB também informou que a produção industrial mundial caiu 0,1% em comparação ao mês anterior, motivada por grandes quedas na produção no Japão, zona do euro e Reino Unido. A produção industrial dos EUA cresceu 0,7%, aumentando as esperanças de uma aterrissagem suave da maior economia do mundo, com a inflação recuando para níveis toleráveis sem desencadear uma recessão. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/09/25/comrcio-global-contrai-em-ritmo-mais-rpido-desde-a-pandemia.ghtml

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