Com Alexa, Amazon quer ser ‘Google’ do comando de voz

Quando a Amazon lançou o Alexa, seu sistema inteligente de assistência doméstica que opera por meio de comando de voz, a empresa tinha acabado de passar por um embaraçoso fracasso. Sua tentativa de transformar em sucesso um smartphone chamado Fire se provou um fiasco, causando prejuízos de US$ 170 milhões em 2014. Analistas definiram o aparelho como um dos piores celulares já fabricados.
O fim do celular Fire parecia ter destruído as esperanças da Amazon de desenvolver uma plataforma móvel própria. Em um momento no qual a Apple tinha o iPhone e a Alphabet, seu onipresente serviço de buscas, a Amazon estava desesperada para encontrar maneiras de atingir os consumidores diretamente, sem ter de recorrer à plataforma de qualquer rival no campo da tecnologia, como mostrou artigo do Finanacial Times, assinado por Leslie Hook, publicado na Folha de São Paulo de 18/01.
Embora pouca gente esperasse, naquele momento, a porta de entrada que a Amazon havia buscado com o celular Fire veio a se abrir para o Alexa. Em vez de os usuários interagirem com uma tela, todo o controle do sistema Alexa acontece por voz.
O produto inicial do sistema Alexa, o alto-falante inteligente Echo, foi lançado apenas duas semanas depois do cancelamento do Fire e se tornou o primeiro alto-falante controlado por voz a conquistar grande público. Nos dois anos transcorridos desde o lançamento, o uso do Alexa se expandiu rapidamente, e o serviço de voz agora está integrado a dezenas de produtos —entre os quais refrigeradores e, em breve, carros.
A Amazon espera que o Alexa Voice Services, a mente digital por trás do assistente digital, se torne onipresente para todas as formas de comando por voz.
A companhia já havia conquistado sucesso em áreas improváveis de negócios no passado, mais notavelmente com a Amazon Web Services (AWS), sua divisão de serviços de computação em nuvem. Lançada 10 anos atrás, a AWS tirou vantagem do seu pioneirismo e agora é a maior fornecedora mundial de serviços de computação em nuvem.
Reproduzir esse sucesso com o Alexa não será fácil, mas a Amazon já está dedicando grandes recursos ao esforço. Para encorajar a adoção, a empresa vende seus aparelhos Alexa abaixo do custo, adotando preços entre 10% e 20% mais baixos que o custo do hardware, de acordo com uma estimativa da Evercore. A empresa nunca revelou o número de aparelhos habilitados para o sistema Alexa que já vendeu.
A Amazon também fornece acesso livre ao Alexa Voice Services, o que significa que desenvolvedores podem integrá-lo a qualquer aparelho dotado de alto-falante e microfone. E existe o Alexa Fund, que oferece verbas a desenvolvedores para que trabalhem em novos aplicativos para a plataforma.
A empresa vem injetando recursos no Alexa cada vez mais rápido. A Evercore estima que a Amazon tenha sofrido perdas de cerca de US$ 330 milhões com o Alexa em 2016, incluídos os prejuízos líquidos com os aparelhos e os custos de pessoal —o montante deve quase dobrar e ultrapassar os US$ 600 milhões neste ano. A Amazon está anunciando mais de 500 vagas em sua equipe Alexa, em um esforço de expansão —também prometeu criar 100 mil empregos novos, a maioria dos quais suas centrais de logística, até a metade de 2018 nos Estados Unidos.
O imperativo estratégico é claro: o Alexa permite que a empresa domine os sistemas operacionais em uma nova mídia, o comando por voz.
“É como tentar se tornar o Google dos sistemas de voz ou o Windows dos sistemas de voz”, disse Mark Mahaney, analista do banco RBC. “Creio que a Amazon esteja carregando esse mercado.”

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