O que acontece com a economia chinesa interessa muito ao Brasil. E a China está mudando de rumo em um grande esforço para resolver o problema da enorme dívida dos governos locais, o que representa um revés para a reforma prioritária do país que visa colocar as finanças em ordem.
A medida pode dar um alívio para a economia no curto prazo. Mas restaura uma forma pela qual os governos locais se endividaram nos últimos anos, instaurando amarras para o crescimento em um momento em que Pequim procura formas de acelerá-lo, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Lingling Wei, publicada no Valor de 18/05, pg A11.
Segundo o anúncio feito na sexta-feira pelo Conselho de Estado, o gabinete chinês, as autoridades afrouxaram os controles sobre a capacidade dos governos locais captarem recursos ao permitir que eles recorram a instituições financeiras ligadas aos governos – as mesmas entidades que têm sido acusadas pelo rápido crescimento da dívida regional na China nos últimos anos.
A inciativa prejudica uma política adotada em outubro que visava impedir que essas instituições financeiras assumissem mais dívidas. E ocorre em um momento em que o longo esforço da China em direção à reforma financeira – parte de uma tentativa mais ampla de tornar a economia menos dependente de grandes investimentos e mais dos gastos dos consumidores – se choca contra um objetivo nacional mais urgente: impulsionar o crescimento.
“Para fazer a transição para uma economia guiada pelo consumo, a China terá que avançar com reformas dolorosas e aceitar a recessão”, diz Geoffrey Barker, que administra o Counterpoint Asian Macro Fund, um fundo de hedge de Hong Kong. “Mas, pelo menos por agora, o governo não parece disposto a fazer isso.”
A medida mais recente vem em um momento em que a segunda economia global amarga um crescimento menor que o esperado. Desde o ano passado, um leque de medidas de afrouxamento monetário tem se mostrado insuficiente para conter a crise no setor imobiliária e o enfraquecimento da produção industrial.
Na semana passada, a China divulgou uma forte queda no crescimento nos investimentos em fábricas, prédios e outros ativos fixos nos primeiros quatro meses de 2015 ante igual período do ano passado, em parte porque os governos locais tiveram dificuldades em conseguir crédito para investir em grandes projetos devido à repressão de Pequim aos empréstimos para os governos locais.
Agora, ao recuar na iniciativa de fazer uma limpeza no endividamento local, Pequim está recorrendo a maiores estímulos para atingir a meta do PIB.