A China da CoP-21 tem pouco do país rígido nas negociações frustradas de 2009, na conferência do clima de Copenhague. O estande do maior emissor de gases-estufa do mundo vive cheio de curiosos sobre os avanços chineses em energias renováveis ou o mercado de carbono gigante que querem abrir em 2017.
Pequim parece tentar conciliar suas posições ambientais com o entendimento de que a mudança é inevitável e há oportunidades econômicas atraentes no baixo carbono. Mas há tensões, como mostrou material do Valor, assinada por Daniela Chiaretti, publicada na edição de 9/12
Na CoP-21, em dois pontos os chineses não parecem dispostos a ceder: querem continuar com o status de país em desenvolvimento e se recusam a ter seus compromissos verificados pela comunidade internacional. Esse ponto é entendido como uma intrusão em assuntos domésticos e é bastante delicado – foi um dos elementos que barrou um acordo climático há seis anos, em Copenhague. Além disso, há resistência de Pequim quanto a uma revisão quinquenal das metas de cortes de emissões.
Em Paris, os negociadores chineses parecem sorridentes e relaxados. O presidente Xi Jinping, em discurso na abertura da conferência, foi conciliador, mas cobrou a promessa dos países ricos de colocarem US$ 100 bilhões para o clima a partir de 2020, e bateu na tecla fundamental para os chineses no acordo climático: o Princípio das Responsabilidades Comuns porém Diferenciadas (CBDR).
“É imperativo que o acordo de Paris respeite as diferenças entre os países, especialmente os em desenvolvimento, em suas políticas domésticas, capacitação e estrutura econômica”, disse Xi.
A mudança de postura chinesa nas negociações de clima tem forte explicação doméstica. Nesta semana, pela primeira vez o governo chinês disparou o alerta máximo em Pequim para a poluição do ar.
“A fonte de poluição vem da queima de combustíveis fósseis e há muitos problemas de saúde pública”, diz Li Shuo, coordenador de clima e políticas energéticas do Greenpeace China.
Embora o ritmo do crescimento econômico chinês tenha diminuído nos últimos anos, o consumo de carvão caiu mais, sinal de que a economia está se descolando do combustível fóssil, afirma Li Shuo.
Em seu plano de reduzir emissões e no acordo bilateral com os EUA, de 2014, Pequim anunciou um plano de investimentos maciços em renováveis, algo superior a toda a matriz elétrica americana.
A China se pauta pelo princípio de que a diferença nas responsabilidades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento deve estar refletida no acordo. O resultado da CoP-21, para o país, deve ser legalmente vinculante, robusto e dar sinais fortes aos negócios. “A China vê o mercado de renováveis como uma grande oportunidade”, afirma um observador.
Segunda maior economia do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes, a China é país-chave nas negociações de Paris. O resultado das bilaterais com os EUA e com a França, feitas antes da CoP-21, podem inspirar a solução para vários temas conflituosos em Le Bourget.
No financiamento ao clima, o ponto de maior tensão na negociação, a China sinalizou com US$ 3,1 bilhões para cooperação Sul-Sul. É algo voluntário e sem obrigações. Pela regras da Convenção do Clima, são os países ricos que causaram o problema dos gases-estufa e que têm a responsabilidade de ajudar os outros em sua transição para a economia verde e adaptação aos impactos climáticos.
Os países ricos vêm pressionando para que a base de doadores seja ampliada. A China tomou a dianteira com a iniciativa. Na declaração com os EUA e também com a França, aceitou com a linguagem “willing to do so”. Ou seja, podem ajudar financeiramente os países em desenvolvimento.
“Há nove cidades chinesas participando desta conferência. A China será o país ambiental mais ativo no mundo”, profetizou o político americano Michael Bloomberg. “A China é um líder, mudou muito.”