China impõe condições para negociação com EUA

O governo da China afirmou ontem que está disposto a trabalhar com os EUA para acabar com a escalada da guerra comercial, mas culpou o governo do presidente Donald Trump pelo colapso nas negociações e disse que não fará concessões sob pressão. Pequim apresentou condições para negociar e defendeu a investigação aberta no país sobre a empresa americana FedEx.
A China divulgou ontem um relatório oficial sobre comércio dizendo que a escalada da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo não “tornou a América grande novamente”, apropriando-se do slogan eleitoral de Trump de 2016.
O documento diz que as ações comerciais causaram sérios danos à economia dos EUA, aumentando os custos de produção, elevando preços, prejudicando o crescimento e os meios de subsistência das pessoas e criando barreiras às exportações dos EUA para a China. Em resumo, as tarifas de Trump não estão ajudando a ninguém, concluiu a China.
“É previsível que os últimos aumentos das tarifas dos EUA sobre a China, longe de resolver questões, só piorem as coisas para todos os lados”, afirma o documento.
Os comentários coincidem com uma escalada na disputa comercial, com a imposição de novas tarifas e as ameaças de mais sobretaxas e de restrições a empresas de um lado e do outro. Embora os presidentes Xi Jinping e Trump possam se reunir neste mês, na cúpula do G-20 no Japão, não há sinais de que pretendam desanuviar ou retomar as negociações.
O vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, que chefiou a equipe de trabalho da China nas negociações, negou as acusações dos EUA de que Pequim recuou de medidas já acordadas. Ele acusou os EUA de mudarem de ideia seguidamente desde 2018 e disse que, quando se oferece um centímetro, os EUA querem um metro.
“Nada está acordado até que tudo esteja acordado”, disse ele ontem, em Pequim. A China não quer uma guerra comercial com os EUA, mas não fugirá de uma, segundo o documento, que reafirma o direito da China ao desenvolvimento e à soberania.
Ambas as partes devem fazer concessões em qualquer negociação, disse Wang, acrescentando que as posições dos dois lados precisam ser iguais, e o resultado deve ser mutuamente benéfico. A Casa Branca não respondeu aos comentários chineses.
O pré-requisito para um acordo comercial é que os EUA retirem todas as tarifas adicionais impostos, diz o relatório chinês. Além disso, as exigências de compra de produtos americanos pela China devem ser realistas e deve haver um equilíbrio adequado no texto do acordo. Isso repete declarações anteriores do principal negociador, o vice-premiê Liu He e de outros.
Wang buscou minimizar as preocupações com uma prevista lista de empresas não confiáveis??que a China anunciou na semana passada e que poderá ser usada para atacar empresas estrangeiras como uma ferramenta de retaliação na guerra comercial.
Isso pode ser uma “interpretação excessiva”, disse Wang, acrescentando que a China acolhe empresas estrangeiras que operam dentro da lei. “Não há motivos para culpar a China” por iniciar uma investigação sobre a FedEx, acusada por Pequim de ter desviado alguns pacotes da Huawei, disse ele.
Os principais índices de ações dos EUA atingiram níveis recordes no início de maio, com a expectativa de que um acordo fosse concluído. Desde então, o índice S&P 500 caiu mais de 6,5%.

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