China exibe ao mundo seu ‘projeto do século’

O presidente da China Xi Jinping classificou ontem a iniciativa do país “Um Cinturão, Uma Rota” como o “projeto do século”, ao anunciar um reforço de financiamentos para uma estratégia especial que promete bilhões em investimentos e benefícios comerciais.

Representantes de mais de 100 países, incluindo 28 chefes de Estado, estão reunidos em um complexo de US$ 1 bilhão ao norte de Pequim para o encontro de dois dias, iniciado ontem. O lugar de destaque ficou para o presidente da Rússia Vladimir Putin, enquanto que as maiores economias da  Ásia e do Ocidente enviaram representantes de escalões inferiores, como mostrou matéria do Financial Times publicada pelo Valor em 15/05.

A China usou o fórum para anunciar grandes planos de financiamento num momento em que EUA e Europa reduzem seus compromissos internacionais. Os participantes pediram maior transparência na estratégia ambiciosa, mas que foi vagamente definida.

Para Xi, o fórum é uma chance de ele projetar influência política para dois públicos: o mundo externo, em busca de uma liderança global em meio a imprevisibilidade de Washington e as consequências do Brexit; e dentro da China, onde o presidente se posiciona para o segundo mandato como presidente do Partido Comunista.

“Transpondo milhares de anos, as antigas rotas da seda personificaram o espírito da paz, abertura e inclusão, aprendizado mútuo e benefícios mútuos”, disse Xi no discurso de abertura. “Precisamos incentivar relações internacionais com um tipo de cooperação que seja bom para todos, de amizade”.

A iniciativa almeja ampliar a influência econômica e política da China, enfrentando ao mesmo tempo o paralisante excesso de capacidade de produção em casa. Trata-se também de uma evocação consciente de eras passadas, quando a China encontrava-se no auge do poder. A “rota” é referência às rotas comerciais marítimas traçadas pelo almirante eunuco Zheng He no apogeu da dinastia Ming, entre os séculos XIV e XV, sobre o Sudeste da Ásia, enquanto que o “cinturão” refere-se à rota da seda através da Ásia central, que floresceu nos quatro séculos da dinastia Han, há dois mil anos, e entre os séculos VII e X, na dinastia Tang.

A estratégia moderna almeja elevar a influência global da China, ao mesmo tempo em que o país exporta um preocupante excesso de capacidade de produção industrial a países de todas as partes do mundo via empréstimos e investimentos. Os chefes de Estado que foram a Pequim querem garantir parte dessa dádiva para ajudar na revitalização de suas economias, após uma retração que já dura anos com o fim dos “super ciclos” da energia e das commodities.

“Xi quer todo mundo junto na mesma sala e dar a essa ideia outro grande empurrão político”, disse Sir Tom Troubridge, diretor da PwC para assuntos relacionados à China e vice-presidente do British Business Council. “Se funcionar metade do que a China pretende, será o maior projeto de infraestrutura no mundo nos próximos anos”.

O aumento do apoio a financiamentos ocorre apesar de uma retração dos investimentos chineses em 2016 nos 65 países incluídos formalmente na estratégia, enquanto o fluxo de capital para os países desenvolvidos disparou.

As iniciativas de financiamento incluem uma contribuição de 100 bilhões de yuans (US$ 14,5 bilhões) para o Fundo Rota da Seda da China, 250 bilhões de yuans em planos de empréstimos para o Banco de Desenvolvimento da China e 130 bilhões de yuans para Export-Import Bank da China, de apoio à infraestrutura, capacidade industrial e aos financiamentos.

O Fundo Rota da Seda foi capitalizado com US$ 40 bilhões, na sua criação em 2014. Em 2015, a China anunciou US$ 62 bilhões ao Bando de Desenvolvimento da China, no Ex-Im Bank e no endividado Banco Agrícola da China, em preparação ao aumento dos empréstimos no que foi na ocasião chamado de estratégia “Um Cinturão, Uma Rota”.

O Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, um banco multilateral liderado pela China, desembolsou quase US$ 1,7 bilhão para nove projetos, a maioria deles também recebendo recursos de outros organismos multilaterais.

Apesar das garantias de Xi, de que Pequim não vai se envolver em “manobras geopolíticas ultrapassadas”, o esforço não está livre de controvérsias. Ele vem enfrentando oposição da Índia, com quem troca farpas devido a fronteiras, e que também vê com desconfiança o Corredor Econômico China-Paquistão, de US$ 55 bilhões, que passa por um território reclamado por Nova Déli

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