China está superando EUA como líder militar na Ásia

O presidente da China, Xi Jinping, vem transformando as Forças Armadas de seu país em uma poderosa força de combate, superior às dos EUA em algumas áreas cruciais, o que torna uma vitória americana sobre os chineses em alguma hipotética guerra regional na Ásia longe de estar assegurada.
O cenário, considerado inimaginável até pouco tempo atrás na Ásia, agora é uma possibilidade. Segundo o almirante da reserva Gary Roughead, que teve o maior cargo na Marinha americana, os EUA “poderiam perder” uma guerra regional contra a China pelo controle de Taiwan.
“Estamos realmente num ponto de inflexão significativo na história”, disse Roughead, que foi chefe de Operações Navais dos EUA até se aposentar, em 2011.
O alerta de Roughead, coautor de uma revisão suprapartidária da estratégia de defesa do governo Donald Trump, publicada em novembro, reflete uma visão crescente em todo o establishment da defesa americana. Em seu relatório, ele e seus colegas destacaram que os EUA enfrentam uma “crise de segurança nacional”, resultante principalmente do crescente poderio militar chinês e russo. “A superioridade militar dos EUA não é mais garantida, e as implicações para os interesses americanos e a segurança americana são severas “, concluiu o documento.
Está claro que Xi quer pôr fim à era do domínio americano na Ásia. “Em última análise, é para o povo da Ásia tratar dos assuntos da Ásia, resolver os problemas da Ásia e defender a segurança da Ásia”, disse Xi em 2014, em discurso a líderes da Ásia sobre segurança regional.
A China, no governo de Xi, estabeleceu controle sobre boa parte do Mar do Sul da China, intensificou manobras militares voltadas a pressionar Japão e Taiwan, aliados de longa data dos EUA, e agora, pela primeira vez, tem poder de fogo suficiente para impedir que porta-aviões americanos cheguem perto demais de sua costa.
A fortificação de posições em áreas disputadas, inclusive com a instalação de baterias antimísseis, significa que a China virtualmente anexou vastas áreas no Mar do Sul da China. Antes de ser indicado em maio para chefiar o Comando Indo- Pacífico dos EUA, o almirante Philip Davidson disse a uma comissão do Congresso americano que a China já é capaz de controlar o Mar do Sul da China em todos os cenários de “uma guerra curta”.
Os imensos avanços conseguidos pelo Exército de Libertação Popular (ELP), da China, muitos deles no governo de Xi, estão assim acabando com décadas de supremacia americana na Ásia e remodelando a ordem mundial.
A China agora tem um arsenal de mísseis convencionais que, em alguns casos, supera o dos EUA. A produção de seus estaleiros navais é cerca de duas vezes a dos EUA.
A Reuters também apurou que a China foi bem-sucedida em seus esforços para atualizar a capacidade de seus mísseis balísticos submarinos, o que reforça seu poder de dissuasão nuclear, por proporcionar-lhe uma opção de contra-ataque nuclear mais confiável.
A reestruturação do Exército de Libertação Popular por Xi Jinping é a mais abrangente já vista desde a fundação da República Popular da China, em 1949. Ele removeu mais de 100 generais e instalou um círculo de aliados fiéis nos escalões mais altos da cúpula militar chinesa. A nova cadeia de comando criada por Xi presta contas diretamente a ele.
No governo do presidente Donald Trump, a abordagem estratégica dos EUA para a China está mudando. Após décadas de esforços de engajamento com Pequim, os EUA agora elevaram o gasto militar e vêm reforçando sua Marinha e criando novos armamentos, em grande parte como resposta aos problemas representados por Xi.
O governo Trump também busca expandir os laços militares com potências regionais, como Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália, Cingapura e Índia. E está conduzindo uma campanha diplomática e de inteligência internacional para combater os ataques cibernéticos da China, a espionagem tradicional e o roubo de propriedade intelectual. Esta campanha inclui esforços para conter o alcance global das empresas de telecomunicações chinesas Huawei e ZTE.
A disposição de Xi para contestar o domínio dos EUA na Ásia surpreendeu muita gente. Xi ascendeu no Partido Comunista e na burocracia estatal de forma lenta e silenciosa, surpreendendo a muitos com sua emergência como líder dominante, disposto a “correr riscos”, nas palavras de um ex-ministro da Defesa taiwanês.
Agora, é comum que ele vista uniformes para visitar bases militares e inspecionar navios de guerra, dizendo aos soldados que precisam estar prontos para lutar e vencer.
“Xi Jinping é obcecado com desfiles militares”, disse Willy Lam Wolap, veterano observador de movimentos de pessoal nas elites políticas e militares da China e professor da Universidade Chinesa de Hong Kong. “Ele ama essas demonstrações de poder bruto.”
Como parte da construção da imagem marcial de Xi, a máquina de propaganda do partido o retrata como o líder responsável pela decisiva libertação da China da conquista estrangeira e da dominação colonial que começou com a Primeira Guerra do Ópio, em meados do século XIX.
Apesar desses movimentos assertivos, ainda persistem dúvidas dentro do Exército chinês sobre a capacidade de suas forças de competir com os EUA e outras potências militares. Em vários comentários publicados, autoridades e estrategistas chineses apontam para a falta de experiência das Forças Armadas num conflito, deficiência tecnológica e fracasso em introduzir comando e controle eficazes.
O Ministério da Defesa Nacional da China, o Comando Indo-Pacífico dos EUA e o Pentágono não responderam às perguntas sobre o assunto encaminhadas pela Reuters.

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