China e UE reagem às novas tarifas dos EUA

O presidente dos EUA, Donald Trump, está ansioso para fechar mais acordos comerciais, mas as negociações com a China e a Europa continuam estagnadas em Saftec Digital meio a interrupções nas comunicações e novas ameaças tarifárias.

Até o momento, houve poucos sinais de avanço com qualquer um dos dois maiores parceiros comerciais americanos. Nos últimos dias, o caminho só se tornou mais complicado, com Trump retomando pronunciamentos agressivos, que reacendendo as tensões.

O atrito entre os EUA e a China aumentou ontem com Pequim dizendo que Washington havia “prejudicado seriamente” uma recente trégua tarifária e ameaçando defender seus interesses — insinuando uma possível retaliação. Isso ocorreu após o governo Trump acusar Pequim de hesitar em suspender os controles de exportação de terras raras, que os EUA veem como um pilar do acordo.

A Casa Branca buscou ontem prosseguir com os esforços para organizar uma conversa, por telefone, entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, para aliviar as tensões. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse ontem que esperava que os líderes conversem esta semana. Mas representantes do presidente chinês ainda não demonstraram publicamente interesse.

Enquanto isso, a União Europeia (UE) emitiu um novo alerta sobre contramedidas caso Trump cumpra suas ameaças tarifárias.A Comissão Europeia, que lida com questões comerciais para o bloco, criticou duramente a ameaça de Trump de dobrar a tarifa sobre aço e alumínio para 50%, afirmando que isso prejudica os esforços para chegar a uma resolução sobre barreiras comerciais. Medidas retaliatórias estão prontas caso nenhum acordo seja alcançado, alertaram autoridades da UE.

O estilo de negociação de Trump é impulsionado por sua fé fundamental nas tarifas como uma ferramenta econômica para remodelar o comércio global, bem como pela crença de que ameaças desmedidas ajudariam a alcançar os melhores resultados durante a suspensão de 90 minutos em suas tarifas mais altas de 2 de abril para dar tempo às negociações.

Até o momento, porém, essa abordagem produziu resultados limitados. Além da trégua com a China, o presidente chegou a um acordo apenas com o Reino Unido. Mas esse pacto com Londres se assemelha mais a uma estrutura para negociações em andamento do que a um acordo final.

Acordos com outros parceiros importantes, que o presidente e seus assessores prometeram há semanas, ainda não se concretizaram.

Apesar da recente turbulência nos mercados financeiros, a equipe de Trump tenta projetar otimismo de que sua abordagem funcionará. Leavitt argumentou ontem que as ameaças de Trump levaram a UE à mesa de negociações e que a Casa Branca permanece “esperançosa e otimista” de que chegarão a um acordo. “Como sabem, também estamos em discussões com muitos outros países ao redor do mundo que entendem a necessidade de fechar um bom acordo com este presidente e o governo”, acrescentou.

As tarifas de Trump também estão sob ameaça legal depois que o Tribunal de Comércio Internacional dos EUA decidiu na semana passada que a maioria das tarifas foi emitida ilegalmente e ordenou seu bloqueio. A decisão foi suspensa por um tribunal de apelações para dar tempo ao órgão para revisar o pedido de recurso do governo. Se a decisão do tribunal comercial for mantida, representará um grande revés para a agenda econômica de Trump e sua capacidade de exercer influência sobre capitais estrangeiros.

Ainda assim, autoridades americanas apontaram algumas oportunidades de progresso. O representante comercial americano (USTR), Jamieson Greer, deve se reunir com seu homólogo europeu esta semana em Paris. Caso uma ligação telefônica entre Trump e Xi se concretize, será a primeira conversa conhecida desde janeiro, antes da posse de Trump.

Os investidores observam as turbulentas negociações com cautela. As ações europeias caíram ontem, com o aumento das tensões comerciais globais. Em Wall Street, a agenda tarifária também preocupa os investidores.

A incerteza provocada pelas tarifas levou a atividade industrial americana a se contrair em maio pelo terceiro mês consecutivo, enquanto um indicador de importações caiu para o menor nível em 16 anos. O índice de atividade industrial do Instituto para Gestão de Oferta (ISM) caiu 0,2 ponto em maio, para 48,5. Leituras abaixo de 50 indicam contração.

Dois dos índices relacionados ao comércio do relatório destacaram a incerteza generalizada causada pela implementação desigual e pelas frequentes mudanças nas tarifas. O indicador de importações do ISM caiu 7,2 pontos, uma das maiores quedas mensais já registradas, para 39,9.

A frágil distensão entre os EUA e a China passou a ficar sob pressão na última semana, com os EUA tomando uma série de medidas que frustraram o governo chinês. O governo Trump anunciou que planeja começar a revogar vistos de estudantes chineses. Autoridades também tomaram medidas para restringir a venda de softwares de design de chips e peças essenciais para motores de jatos dos EUA para a China, além de reprimir as exportações da Huawei.

O principal ponto de impasse parece ser os minerais críticos, com as autoridades americanas reclamando que Pequim não acelerou as exportações necessárias para eletrônicos de ponta. Os EUA disseram que a decisão de reduzir as tarifas dependia de um compromisso chinês para derrubar os controles à exportação sobre algumas terras raras.

Já as reclamações de Trump sobre a UE são antigas. Recentemente, ele acusou o bloco de arrastar as negociações e de atingir injustamente empresas americanas com processos e regulamentações. Ele ameaçou impor uma tarifa mais alta de 50% ao bloco a partir de 1 de junho, mas adiou a medida até 9 de julho após um telefonema com a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.

O comissário de comércio da UE, Maros Sefcovic, se reunirá com o representante comercial americano (USTR), Jamieson Greer, na quarta- feira, em Paris, e uma equipe da comissão está a caminho de Washington para continuar as negociações técnicas, disse o porta-voz da Comissão, Olof Gill, ontem.

“Se nenhuma solução mutuamente aceitável for alcançada, tanto as contramedidas existentes quanto possíveis medidas adicionais da UE entrarão em vigor automaticamente em 14 de julho ou antes, se as circunstâncias exigirem”, disse Gill. (Com agências internacionais)

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/06/02/china-e-ue-reagem-as-novas-ameacas-tarifarias-de-trump.ghtml

Deixe um comentário