China e Estados Unidos começaram, silenciosamente, a negociar para melhorar o acesso dos EUA aos mercados chineses, após uma semana de escalada de tensão, com a ameaça de Washington usar tarifas para diminuir o que o governo americano vê como desequilíbrios comerciais.
Segundo fontes, as conversas abrangem amplas áreas, incluindo serviços financeiros e indústria manufatureira, e estão sendo lideradas por Liu He, czar econômico da China em Pequim, pelo secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, e pelo representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, em Washington, como mostrou matéria da Dow Jones, assinada por Lingling Wei e Bob Davis, publicada no Valor de 26/03
Em carta enviada por Mnuchin e Lighthizer para Liu no fim da semana passada, o governo Trump definiu pedidos específicos que incluem uma redução das tarifas chinesas sobre os automóveis americanos, mais compras chinesas de semicondutores dos EUA e maior acesso ao setor financeiro da China por empresas americanas. Mnuchin está ponderando uma viagem a Pequim para prosseguir as negociações, disse uma fonte.
Mnuchin ligou no sábado para Liu, principal conselheiro econômico do presidente Xi Jinping. Liu foi promovido a vice- premiê na sessão anual legislativa recém-concluída, o que lhe concedeu poderes como principal estrategista econômico do governo. “O secretário Mnuchin ligou para Liu He para parabenizá-lo pelo anúncio oficial de seu novo cargo”, disse um porta-voz do Tesouro americano. “Também discutiram o déficit comercial e se comprometeram a continuar o diálogo para encontrar maneira de reduzi-lo mutuamente, de maneira aceitável.”
As discussões por trás dos bastidores podem ser um alívio para aqueles que foram surpreendidos na semana passada pelos planos dos EUA de atacar a China com tarifas, restrições a investimentos e outras medidas voltadas para reduzir o déficit comercial de US$ 375 bilhões dos EUA com a segunda maior economia do mundo. O anúncio – e a ameaça imediata de retaliação chinesa – derrubou os preços das ações dos EUA.
Eleitores de Trump do setor agrícola, temeroso de que as retaliações da China atinjam as exportações americanas, condenam as tarifas contra a China. Em capitais estrangeiras, da Austrália a Bruxelas, aliados analisam opções diplomáticas em meio à escalada de tensão entre Washington e Pequim.
Na semana passada, Trump insinuou que os EUA estavam utilizando tanto a persuasão quando a força (“carrot and stick”). “Conversamos com a China e estamos no meio de uma negociação muito grande”, disse Trump, ao afirmar que os EUA estavam pressionando com tarifas sobre até US$ 60 bilhões em importações chinesas. “Vamos ver onde isso nos leva.”
Embora Pequim tenha reagido com indignação à ameaça tarifária dos EUA, as autoridades chinesas tiveram o cuidado em não ampliar a disputa. O Ministério do Comércio da China acusou os EUA de “estabelecerem um precedente vil” e aplicou penalidades contra US$ 3 bilhões em bens dos EUA, incluindo carne suína, alumínio reciclado e tubos de aço. O ministério disse que as medidas respondiam às tarifas ao aço e alumínio chineses.
Até agora, no entanto, a China não incluiu oficialmente em sua lista de retaliação qualquer menção às maiores exportações dos EUA para a China, como soja, sorgo e da própria Boeing, o que para observadores ressalta a disposição de Pequim de negociar uma solução com o governo Trump.
Liu disse a Mnuchin ao telefone que a recente ofensiva comercial de Washington contra a China prejudicaria os dois países e o mundo e disse ter esperança de que os dois lados trabalhem juntos para “manter a estabilidade e suas relações econômicas e comerciais”, informou a agência Xinhua.
Trump quer que a China reduza o déficit bilateral em US$ 100 bilhões. Como parte disso, quer aumentar vendas de carros e semicondutores dos EUA na China. “A palavra que eu quero usar é recíproco”, disse na semana passada. “Quando eles cobram 25% para um carro entrar no país, e nós cobramos 2% para o carro deles entrar nos EUA, isso não é bom.”
Os EUA também pressionam a China para aliviar as restrições sobre os negócios financeiros dos EUA, particularmente os requisitos para operação de joint-ventures, sob os quais as empresas dos EUA estão, em muitos casos, limitadas a 51% de propriedade.
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