A surpresa foi grande. Um corte de juros feito de repente pelo banco central da China ressalta como o governo do país está se valendo de medidas cada vez mais agressivas para estimular a segunda maior economia do mundo.
O corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de referência dos empréstimos e dos depósitos, anunciado no sábado pelo Banco Popular da China, ocorre menos de quatro meses depois da última redução – mais cedo que muitos analistas esperavam, como mostrou materia do The Wall Street Journal, publicada pelo Valor em 01/03, pg A9.
Com a medida, o banco central renovou as preocupações com uma série de problemas que vêm pesando sobre a economia: um mercado imobiliário estagnado, uma fuga de capital que limita a capacidade dos bancos de emprestar, e um risco crescente de deflação, a qual pode aumentar o custo de financiamento das empresas.
A redução das taxas de juros surpreendeu algumas pessoas na comunidade financeira por ter sido realizada logo depois do longo feriado do Ano Novo Lunar, quando muitos chineses estão retornando ao trabalho, e às vésperas da abertura da sessão parlamentar anual da China, na quinta-feira.
“É um corte de juros bastante incomum, dado que ocorreu só uma semana depois do feriado”, diz o economista Li Huiyong do Shenyin & Wanguo Securities, um banco estatal de investimento de Xangai. Ele acrescentou que “o governo espera revigorar a confiança das empresas e oficializou a entrada da China num novo ciclo de afrouxamento monetário”.
Na sessão legislativa, os líderes chineses vão apresentar metas amplas de políticas para 2015 que se encaixam no que chamam de “novo normal” de uma economia em desaceleração. O crescimento do país, que vem perdendo força nos últimos anos, recuou para 7,4% em 2014, o menor em quase 25 anos. Muitos economistas preveem que o governo vai reduzir sua meta de crescimento neste ano para 7%.
O modo como o governo chinês reage à desaceleração do crescimento é importante para o resto do mundo, já que muitos setores da economia mundial, desde a produção de commodities até a fabricação de automóveis e de bens de consumo, ainda dependem da China para crescer.
Cada vez mais, porém, o banco central está cedendo às exigências do governo para reduzir os custos de financiamento das empresas e estimular o crescimento, dizem autoridades e consultores da instituição. Em novembro, o BPC cortou os juros pela primeira vez em mais de dois anos e, em janeiro, relaxou as exigências de reservas de capital dos bancos, liberando mais recursos para empréstimos.
A medida do BPC, que entrou em vigor ontem, reduziu em 0,25 ponto percentual os juros de referência dos empréstimos, para 5,35% ao ano, e a taxa de remuneração das reservas que os bancos depositam na instituição, para 2,5% ao ano. Num comunicado, o banco central citou uma possível deflação como razão para a iniciativa, afirmando que a queda nos preços mundiais das commodities “abriu espaço” para um estímulo ao crescimento através de cortes de juros.
Juntamente com membros da zona do euro e o Japão, a China está, agora, no grupo dos países que recorrem ao afrouxamento monetário para conter pressões deflacionárias, num momento em que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, está planejando elevar juros diante da recuperação da economia americana.