China aperta cerco a empréstimos “nas sombras”

Com forte expansão nos últimos anos, o endividamento da China está no topo das preocupações de quem acompanha a segunda maior economia mundial. E, no fim de semana, a Comissão Reguladora Bancária da China (CBRC, na sigla em inglês) atacou um dos flancos do problema, o chamado shadow banking, ou financiamento nas sombras (operação de crédito à margem da regulação do banco central chinês). Motivo: a dívida total chinesa saltou de 142% do PIB no fim de 2008 para 230% no fim de 2015.

Mas, para além do financiamento “nas sombras”, o elevado nível de endividamento da economia chinesa, incluindo governos, empresas e cidadãos, preocupa os analistas. O endividamento total da China disparou de 142,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim de 2008 para 230,7% no fim de 2015, segundo informações da base de dados CEIC, organizadas pelo Ibre/FGV. A dívida do governo central estava em 41,8% do PIB no fim de 2015, como mostrou matéria da Bloomberg, assinada por Lucianne Carneiro, publicada em O Globo de 03/05.

Parece uma economia que ficou viciada em crédito. A economia chinesa precisa de mais crédito hoje para gerar o mesmo crescimento. Isso é um motivo de desconforto — afirma Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre/FGV e especialista em China, alertando que mais importante do que o montante da dívida é a velocidade de expansão.

Para Christopher Balding, professor de Economia na Escola de Negócios HSBC, o endividamento é o principal temor em relação à economia chinesa.

Esse dinheiro (estímulos dados no pós-crise de 2008) foi investido principalmente em ativos fixos, como estradas e fábricas. A China decidiu continuar estimulando o crescimento através do crédito, e o montante de empréstimos vencidos é maior que o número oficial — diz Balding.

O receio é que, se não for bem administrado, isso contribua para um “pouso forçado” da China — expressão usada quando há desaceleração abrupta do crescimento.

A situação fiscal pode gerar uma crise bancária, já que a maior parte da dívida está concentrada no mercado interno, e isso afetaria os bancos chineses. Balding acredita que há risco sistêmico no mercado de crédito e que é preciso buscar soluções. Professor de Economia e Finanças na Fundação Dom Cabral e professor visitante na NYU Shanghai, Rodrigo Zeidan pondera que a tendência é de uma intervenção do governo.

Os bancos são eminentemente públicos e o que se imagina
é que o governo chinês dificilmente deixaria os bancos quebrarem. Existe um risco, mas não é grande. A questão é que um soluço na China causa reverberações mundiais. De qualquer forma, não vejo um cenário de crise de dívida a curto prazo, nos próximos três a cinco anos.

O cenário que a consultoria Trusted Sources, especializada em mercados emergentes, traça para a China contempla o uso de uma política fiscal expansionista pelo governo para controlar o ritmo de desaceleração da economia, estratégia que passa por aumento do endividamento.

Vemos poucos sinais de desalavancagem (redução do nível da dívida) no sistema. Na verdade, o endividamento tem aumentado mais rapidamente nos últimos meses. O risco para o setor corporativo é certamente real por causa do nível da dívida e da deflação de preços industriais. Acho que os principais riscos são o impacto negativo no mercado de trabalho e o nível de empréstimos ruins além do que o setor bancário é capaz de absorver — diz Bo Shuang, economista e chefe do escritório da Trusted Sources na China.

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