A China anunciou oficialmente nesta quarta-feira (7) as mudanças mais amplas em seu rígido regime para controlar a Covid desde o início da pandemia, afrouxando regras rígidas que, em última instância, levaram a uma onda de protestos com contestações ao regime e afetaram a segunda maior economia do mundo.
O relaxamento das medidas inclui permitir que pessoas infectadas com sintomas leves fiquem de quarentena em casa —não mais em centros organizados pela ditadura— e suspender a exigência da apresentação de testes negativos para viagens internas. Trata-se do sinal mais claro até aqui de que Pequim está disposta a revisar sua política de Covid zero.
As autoridades de saúde alertam, porém, que os números de casos e mortes serão acompanhados de perto e que um retorno a restrições mais duras pode se mostrar necessário no futuro.
Muitas das mudanças anunciadas pela Comissão Nacional de Saúde nesta quarta refletem medidas já tomadas em várias cidades e regiões nos últimos dias, após protestos que foram a maior demonstração de descontentamento público desde que o líder Xi Jinping chegou ao poder, em 2012. Agora, porém, elas valem para todo o país.
O tema tornou-se o tópico mais visto na rede social chinesa Weibo, com muitos esperando um retorno à normalidade visto em outros países.
“É hora de nossas vidas voltarem ao normal e de a China voltar ao mundo”, escreveu um usuário.
Por quase três anos, a China administrou a Covid como uma doença equivalente à peste bubônica e ao cólera e, à medida que os casos se espalharam no início deste ano, comunidades inteiras foram isoladas, às vezes por meses.
Dezenas de pessoas também se reuniram na conta do Weibo de Li Wenliang, um médico em Wuhan que morreu em 2020 depois de fazer um alerta precoce sobre a Covid-19 e cuja última postagem concentra muitos desabafos de internautas sobre problemas relacionados aos lockdowns. “Doutor, nós superamos, seremos livres”, escreveu um usuário. “A luz do dia está aqui”, escreveu outro.
Xangai foi uma das primeiras a anunciar que implementaria as novas diretrizes de quarentena doméstica e removeria regras para os viajantes que entrassem na cidade. O parque temático da Disney na cidade será reaberto para visitantes nesta quinta-feira (8).
Alguns investidores também saudaram a mudança, que pode revigorar a economia e a moeda chinesas. Empresas estrangeiras no país também esperam que a redução das restrições possa evoluir para uma abertura mais ampla.
PROTESTOS
As mudanças de política foram anunciadas depois que Xi, que considera a luta implacável da China contra a Covid como uma de suas principais conquistas, presidiu uma reunião do Politburo do Partido Comunista na terça-feira.
As principais cidades da China, incluindo Pequim e Xangai, foram tomadas por protestos no mês passado, que começaram a diminuir em meio a uma forte presença policial e à retirada de restrições em diferentes partes do país.
As autoridades não vincularam nenhuma das mudanças aos protestos, mas suavizaram perceptivelmente seu tom sobre os riscos à saúde do vírus —aproximando a China do que outros países vêm fazendo há mais de um ano, ao abandonar as restrições e passar a conviver com o vírus.
A abordagem mais branda desencadeou uma corrida por remédios para tosse e febre, já que alguns moradores, principalmente os idosos não vacinados, se sentem mais vulneráveis a um vírus que foi amplamente controlado pela política rígida de Pequim.
Feng Zijian, ex-funcionário do Centro de Controle de Doenças da China, disse ao China Youth Daily que até 60% da população da China pode ser infectada na primeira onda em grande escala antes de a transmissão se estabilizar. “Em última análise, cerca de 80% a 90% das pessoas serão infectadas”, disse.
A contagem atual da China de 5.235 mortes relacionadas à doença é uma pequena fração de sua população de 1,4 bilhão, extremamente baixa para os padrões globais.