A ambição está em perigo. Na cidade de Xinxiang, com quase 6 milhões de pessoas, uma escola de inglês bem-sucedida ilustra as aspirações da classe média emergente.
A proprietária, Deng Yi’ou, de 38 anos, possui uma casa e um carro e sua escola está se expandindo com um número cada vez maior de pais dispostos a pagar 650 yuans (cerca de US$ 100) mensais por aulas particulares de inglês para seus filhos.
“Os pais em toda a China têm o mesmo sonho, inclusive em cidades menores como Xinxiang. Eles querem que seus filhos tenham uma boa educação, um futuro melhor, querem vê-los mais ricos do que eles mesmos são hoje”, diz Deng, que está economizando para comprar uma segunda casa, maior.
Xinxiang, originalmente uma pequena cidade mercantil cujas raízes remontam a mais de 1 mil anos, é uma das 1.600 cidades de menor porte que estão no limiar da transformação econômica que a China busca. Para ter sucesso, a capacidade de pessoas como Deng de gastar é essencial, como mostrou material do The Wall Street Journal, de Mark Magnier e Laurie Burkitt, publicada no Valor de 6/10, pg B9
Por outro lado, Xinxiang incorpora a promessa e o potencial de expansão que ainda impulsiona a economia chinesa mesmo com a desaceleração.
Mas os perigos de excessos anteriores também são mais evidentes aqui: há dívidas demais, fábricas demais e apartamentos vagos demais.
Como muitas cidades chinesas, Xinxiang construiu parques industriais, belas pontes e rodovias de seis pistas durante os anos de boom econômico. Outra marca de seu ritmo frenético de crescimento: em maio, Xinxiang foi eleita a cidade com o ar mais poluído da província de Henan.
A ideia, amplamente adotada, era que o crescimento transformaria seus residentes em consumidores mais fortes. “Casa inteligente, aprecie a vida”, convida um das centenas de outdoors que tentam vender imóveis evocando a boa vida com imagens de bolsas caras, moedas de ouro e garrafas de vinho.
Mesmo fora da China, investidores continuam de olho em cidades menores do país, à medida que mercados como Pequim e Xangai ficam saturados.
Os mais de 74 milhões de domicílios que estão prestes a ganhar mais de 9 mil yuans por mês, segundo dados da consultoria McKinsey & Co., são essenciais para as empresas que esperam aumentar as vendas de tudo, desde xampus até carros, principalmente em cidades como Xinxiang. E muitos realmente elevaram o consumo.
Gao Pengxiang, de 25 anos, que está procurando emprego, comprou seu primeiro telefone quando tinha 17 anos, um ano após começar a trabalhar. Ele já trocou de aparelho várias vezes e hoje possui um Xiaomi branco. “Depois que eu conseguir um emprego, pretendo comprar um novo telefone, um iPhone 6”, diz.
Mas, agora, o crescimento de Xinxiang diminuiu. A economia da cidade avançou 5,1% no primeiro semestre de 2015, em comparação com 9,8% um ano antes.
Prédios residenciais em vários estágios de construção são vistos por todo o centro da cidade. Numa nova área que está sendo urbanizada, não há quase nenhum tráfego nas estradas próximas a lotes vazios. Se as muitas zonas industriais vazias que floresceram nos últimos dez anos, algumas do tamanho de pequenos aeroportos, serão um dia ocupadas é uma questão em aberto.
Xinxiang não divulga estatísticas de imóveis não vendidos. A cidade põe a culpa na redução de empréstimos e de gastos sociais, além do enfraquecimento de vários setores, como o de manufatura. As autoridades de Xinxiang não responderam a pedidos de entrevista.
As lojas da cidade ainda estão movimentadas. Unidades do McDonald’s e da Pizza Hut permanecem lotadas. Mas há sinais de crise. O Wal-Mart Stores Inc. fechou sua unidade de Xinxiang em 2014, quatro anos depois de aberta, porque seu desempenho era fraco disse uma porta-voz. Em uma concessionária da BMW, as pessoas olham mais do que compram atualmente, diz Cao Qi, representante de vendas. Mais clientes estão financiando seus carros, diz ele. “Gastando hoje o dinheiro de amanhã.”
O crescimento da produção industrial de Xinxiang caiu para 5% no primeiro semestre, comparado com 11% um ano antes, e as fábricas menores estão sentindo os problemas das grandes estatais, de quem são fornecedoras.
As velhas fábricas de ferro, aço e fibra de poliéster de Xinxiang – aquelas cuja importância deveria se reduzir pelo novo modelo de crescimento da China – continuam a produzir em excesso com a ajuda de crédito barato, diz Yang Yuzhen, professora de administração da Universidade Henan Normal. “Quando o crescimento diminui, o governo de Xinxiang mantém o apoio às indústrias tradicionais para preservar os empregos”, diz ela.
No empreendimento de Wan Hui, agentes imobiliários venderam 200 apartamentos em um único dia quando ele foi lançado, em 2009, diz o representante de vendas Wang Shuai. Este ano, demorou quatro meses para 40 imóveis serem vendidos, a preços a partir de 485 mil yuans (US$ 76,4 mil) para unidades de dois quartos, diz ele.
Para Feng Xiaojie, um jovem de 24 anos, filho de produtores de trigo, o sonho chinês pode ser ilusório. Ele trabalha meio período em uma academia de ginástica e tem tido dificuldade para encontrar um emprego fixo, apesar de ser formado em educação física. A ideia de ganhar o suficiente para comprar um carro e uma casa – bens importantes para se casar na China – é desencorajadora, diz ele. Ele não pode nem se imaginar comprando um iPhone enquanto seus pais permanecerem pobres.
“Vendo por essa perspectiva, minha vida é mais fácil que a de meus pais”, diz. Mas ele não acha razoável esperar que sua vida fique um dia igual à de um americano de classe média. “Talvez nem em 50 anos isso aconteça.”