China alerta EUA que relação bilateral está num ‘impasse’ perigoso

A China acusou os EUA de tratá-la como um “inimigo imaginário” e disse ontem que as relações bilaterais estão mergulhadas num “impasse” perigoso, no momento em que os dois países realizavam sua segunda reunião de cúpula desde a posse do presidente Joe Biden. 

Xie Feng, vice-ministro do Exterior, disse que Washington quer “reacender um sentido de propósito nacional, colocando a China como um inimigo imaginário”, e exortou os EUA a mudarem o que classificou de “uma política para a China extremamente perigosa”. 

Seus comentários foram feitos durante reunião com Wendy Sherman, vice-secretária de Estado dos EUA, no primeiro encontro presencial entre altas autoridades americanas e chinesas desde que autoridades dos dois países tiveram discussões duras no Alasca em março. Sherman também se encontrou com Wang Yi, ministro do Exterior da China. 

“As relações China-EUA encontram-se num impasse e enfrentam grandes dificuldades”, disse Xie, segundo o Ministério do Exterior chinês. 

Indagado sobre se concorda que os países se encontram num “impasse”, uma autoridade americana disse que os dois lados estiveram envolvidos em um “intercâmbio saudável” durante quatro horas em Tianjin, e que Sherman por vezes foi “brutalmente honesta”. 

Xie também deu a Sherman uma lista de exigências que inclui o relaxamento de vistos de entrada e outras restrições impostas a autoridades e jornalistas chineses, além de desistir de um pedido de extradição de Meng Wanzhou, executiva e filha do fundador da Huawei que continua no Canadá à espera do resultado de um processo judicial. 

A autoridade americana disse que o governo Biden espera que a China leve em conta algumas das preocupações levantadas por Sherman, mas disse que Washington analisará “algumas das preocupações que foram levantadas” pelo lado chinês. 

Após as reuniões, Sherman escreveu no Twitter que a comunicação foi decisiva mesmo nos momentos em que os dois países discordaram e os Estados Unidos “continuarão pressionando a República Popular da China para que ela respeite as normas internacionais e suas obrigações internacionais”. 

As relações entre as duas potências continuaram tensas nos últimos meses, apesar de alguma esperança de que a eleição de Biden pudesse levar a uma recalibragem. 

A visita de Sherman a Tianjin foi acrescentada ao seu itinerário de última hora, depois de uma viagem que incluiu paradas no Japão, Coreia do Sul e Mongólia. Os EUA estavam relutando em concordar com uma visita à China se Sherman não tivesse a garantia de que se encontraria com Wang, algo a que a China inicialmente resistiu. 

Os comentários de Xie foram feitos dias depois de Pequim impor sanções a sete americanos, que incluem o ex-secretário do Comércio Wilbur Ross, em retaliação a medidas parecidas decididas pelos americanos contra sete autoridades chinesas por seus papéis supostamente ilegais na repressão ao movimento pró-democracia de Hong Kong. 

O governo Biden também anunciou na semana passada que está derrubando as acusações de fraude em vistos de permanência contra cinco pesquisadores chineses nos EUA. 

A visita de Sherman é parte de um esforço mais amplo dos Estados Unidos para aumentar o engajamento com a China antes de um possível encontro entre Biden e o presidente chinês Xi Jinping na reunião do G-20 (grupo das maiores economias) na Itália, em outubro. 

Uma segunda autoridade americana disse que os dois lados não chegaram a nenhum resultado específico em Tianjin. “Isso foi para dar mais um passo no longo processo de definição dos termos das relações, de gerenciamento responsável da competição e para ver se conseguimos estabelecer algumas proteções para isso.” 

“Os dois lados continuarão brigando, mas ainda assim deverão conseguir discutir questões concretas como a possibilidade de uma reunião presidencial”, disse Shi Yinhong, um especialista em política da Universidade Renmin de Pequim. 

O governo Biden inicialmente relutou em concordar com uma série de encontros com autoridades de alto escalão chinesas, pois estava concentrado em convencer aliados europeus e asiáticos a confrontar em conjunto a China em uma série de questões ligadas aos direitos humanos, ao comércio e à política externa. 

Essa campanha prosseguirá esta semana, com autoridades americanas cortejando países do Indo-Pacífico. Lloyd Austin, secretário de Defesa que vem tentando, sem sucesso, encontrar-se com seu colega chinês, fará um pronunciamento em 

Cingapura nesta terça-feira, antes de visitar o Vietnã e as Filipinas, enquanto Antony Blinken, o secretário de Estado, tem uma viagem marcada para a Índia. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/07/27/china-alerta-eua-que-relacao-bilateral-esta-num-impasse-perigoso.ghtml

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