Canadá lança estratégia para área de disputa entre China e EUA

O Canadá lançou neste domingo (27) diretrizes de sua estratégia para o Indo-Pacífico, prometendo direcionar mais recursos para lidar com a China e trabalhar questões militares, de segurança e de comércio com a região de 40 países.

No documento de 26 páginas, o país detalha os gastos de US$ 1,9 bilhão (cerca de R$ 10 bilhões), que incluem reforços na presença militar e da segurança cibernética na região e o endurecimento de regras de investimento estrangeiro para proteger a propriedade intelectual e impedir que empresas chinesas adquiram suprimentos minerais.

O plano prevê aprofundar os laços com uma região de 40 países que cresce rapidamente. Mas o foco está voltado à China, mencionada mais de 50 vezes, em um momento frio na relação entre os dois países.

“A China está procurando moldar a ordem internacional em um ambiente mais permissivo para interesses e valores que cada vez mais se afastam dos nossos”, diz o documento.

O governo do primeiro-ministro Justin Trudeau quer diversificar laços comerciais e econômicos que hoje são profundamente ligados aos Estados Unidos. Dados oficiais de setembro mostram que o comércio bilateral com a China respondeu por menos de 7% do total, comparado com 68% dos Estados Unidos.

Na corrida por influência no Pacífico, porém, a China está à frente dos EUA. O país asiático tem buscado ativamente oportunidades e tentado unir a região em acordos para maior acesso à sua terra, mares e infraestrutura digital, prometendo em troca desenvolvimento, bolsas de estudo e treinamento –como polos de transporte marítimo e centros policiais de alta tecnologia que possam fornecer conhecimento e equipamento.

Washington, por sua vez, quer reverter o jogo, mas está atrasado –o governo de Joe Biden levou mais de um ano para lançar sua estratégia para o Indo-Pacífico, que ainda carece de aprofundamento.

A estratégia canadense pontuou a “interferência estrangeira e o tratamento cada vez mais coercitivo a outros países” de Pequim. “Nossa abordagem é moldada por uma avaliação realista da China de hoje. Em áreas de profundo desacordo, nós desafiaremos a China”, diz o documento.

As tensões aumentaram no final de 2018, depois que a polícia canadense deteve uma executiva da Huawei e, na sequência, Pequim prendeu dois canadenses sob acusações de espionagem. Todos foram libertados no ano passado, mas as relações permanecem sensíveis.

Um novo mal-estar entre os dois países aconteceu em novembro deste ano, durante a cúpula do G20 na Indonésia. Na época, um vídeo chamou atenção ao registrar o desentendimento entre o líder da China, Xi Jinping, e Trudeau.

A filmagem mostrou o chinês irritado por, segundo ele, o governo canadense ter vazado para a imprensa informações sobre o conteúdo da conversa entre os dois no dia anterior.”Se houver sinceridade, podemos nos comunicar bem com respeito mútuo; caso contrário, o resultado não será fácil de contar”, afirmou Xi na conversa.

Ao ouvir a reclamação, o premiê respondeu: “No Canadá acreditamos em um diálogo livre, aberto e franco. Continuaremos a procurar trabalhar juntos de forma construtiva, mas haverá coisas em que discordamos”.O país da América do Norte não divulgou oficialmente nenhum documento sobre a reunião.

Além disso, no início deste mês o Canadá ordenou que três empresas chinesas abandonassem seus investimentos em minerais críticos canadenses, citando como argumento a segurança nacional.

Em uma seção que menciona a China, o documento diz que Ottawa revisaria e atualizaria a legislação para que pudesse agir “decisivamente quando investimentos de empresas e outras entidades estrangeiras ameaçassem a segurança nacional, incluindo nossas cadeias de suprimentos de minerais críticos”.

A nova diretriz reconhece oportunidades significativas para exportadores canadenses e afirma que a cooperação com Pequim é necessária para lidar com algumas das “pressões mundiais”, incluindo mudanças climáticas, saúde global e proliferação nuclear.

O documento afirma que o Canadá aumentará sua presença naval na região indo-pacífica e “aumentará o engajamento militar e capacidade de inteligência como meio de mitigar o comportamento coercitivo e as ameaças à segurança regional”.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/11/canada-lanca-estrategia-para-indo-pacifico-area-de-disputa-entre-china-e-eua.shtml

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